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Curricularização da extensão: desafio da educação superior

Por Jô Santucci / Jornalista CREA-RS

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira – Lei nº 9.394/96 – estabelece que a educação superior tem, entre outras finalidades, estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente e atender aos serviços especializados à comunidade, entendendo que a extensão é um processo que gera compromisso da universidade com a sociedade.

A curricularização da extensão é uma nova forma de pensar e ver os componentes curriculares. É o processo de inclusão de atividades de extensão na matriz curricular dos cursos, considerando a indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão, e que tem como objetivo a formação integral dos estudantes para sua atuação profissional, bem como a promoção da transformação social.  

Apesar de já estar sendo encaminhado desde 2018, ainda há muitas dúvidas nas universidades diante dos desafios de um novo olhar. É preciso aumentar a carga horária para encaixar os 10% nos currículos? Como implantar o processo de extensão curricular em currículos tão fechados como Engenharia e Agronomia?

É o que vamos descobrir a seguir.

Há mais de uma década implementando currículos atravessados por projetos de extensão, a consultora sênior de Educação Superior, doutora Simone Imperatore, ressalta que, além da exigência legal vigente, a curricularização da extensão é uma estratégia de inovação curricular com impacto social.

É um aprender comprometido com a transformação social, fazendo a diferença e com uma nova visão profissional e cidadã. Não é somente prescrever o conhecimento gerado na academia, mas também capacitar-se nas diferentes práticas sociais”, ensina.

Exemplifica com a Engenharia Civil. “Há muitas práticas e técnicas construtivas, materiais alternativos desenvolvidos e utilizados pelos atores sociais, mas a academia ignora tais saberes”, aponta.

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Por sua vez, segundo ela, na Agronomia, então, valorizam apenas o que a indústria prescreve muitas vezes, sem observar as tradições produtivas e a sabedoria de povos tradicionais. “Os alunos não aprendem a construir novos conhecimentos, serem autores. É preciso buscar o diálogo entre conteúdo científico e práticas sociais. Legitimar outras formas de saberes. Isso é pensamento científico, criativo, crítico-reflexivo e comprometido com a transformação social. É necessário superar o conhecimento instrumental, meramente prescritivo. Temos que pensar uma ciência com pertinência com demandas coletivas. Não para interesses particulares ou para poucos”, detalha.

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Consultora sênior de Educação Superior, doutora Simone Imperatore

Se olharmos a missão, visão e valores das IES, todas manifestam seu compromisso social e com o desenvolvimento das regiões. Mas seus currículos não materializam este compromisso. Agora temos a oportunidade de universalizar a extensão e a iniciação científica de forma articuladas. É transversal nos itinerários formativos”, destaca.

Imperatore acredita que nas Públicas é mais difícil de implementar, porque Extensão não tem o mesmo "valor" da pesquisa. “Dessa forma, tenho trabalhado nas comunitárias e privadas sob a perspectiva de inovação curricular. Pesquisa e extensão são metodologias mais ativas que existem, mas exigem intenso trabalho discente, além de compromisso social”, revela.

Segundo a professora, as Instituições de Ensino Privadas estão percebendo uma estratégia de aproximação com a sociedade, movimentos/atores sociais, empresas de todos os portes, governos. “Então, para além do cumprimento legal, tem sido uma estratégia institucional. É uma grande oportunidade para as IEs colocarem seu plano de desenvolvimento institucional (PDI) de forma articulada, construindo currículos integrados ao mercado, além de partilhar a responsabilidade de formação com sociedade, governo, mercado”, desafia.

 

A especialista entende que o processo é uma forma de territorializar a universidade, “ou seja, reconectá-la com os territórios de inserção, demandas, necessidades, problemas. A compreensão da extensão como um percurso socioformativo, orgânico ao perfil do egresso, materializado em ações de médio e longo prazo (programas e projetos) também tem sido um processo desafiador com os docentes”, ressalta, lamentando que ainda falta compreensão de metodologias e processos avaliativos aplicáveis à extensão.

Segundo ela, é proposto um processo de formação eminentemente dinâmico a partir de metodologia de aprendizagem por projetos. “Com impacto social, orientado pelo equacionamento de demandas conexas ao território de inserção das instituições de ensino superior e de seus cursos, contribui para uma formação técnica de excelência e para o desenvolvimento integral dos acadêmicos – visão holística, humanista, crítico-reflexiva, criativa, cooperativa, ética e cidadã”, detalha.

De acordo com a consultora, os docentes precisam apropriarem-se de metodologias aplicáveis à extensão, amplamente dialógicas, sob protagonismo discente, lastreadas na produção e aplicação de conhecimentos com vistas à resolutividade de problemas reais.

EXTENSÃO É A MESMA COISA QUE ESTÁGIO?

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A professora deixa claro que “estágio e extensão são ‘pilares’ distintos de formação nos cursos de Engenharia, assim como atividades complementares e TCC”, explica.

Vai além, afirmando que o estágio na Engenharia tem 160 horas sob supervisão direta do curso em ambiente laboral, seguindo legislação e regulamento institucional específicos, e contemplando situações reais/práticas do universo da Engenharia. “A curricularização da extensão, isto é 10% da carga horária total, é transversal ao curso desde o início, com ênfase em ações ‘orientadas’ por docentes em diversos cenários e temáticas”, aponta.

Nesse caso, cita exemplos como políticas públicas relacionadas ao curso; saúde, segurança do trabalhador; acessibilidade; gestão; meio ambiente e sustentabilidade; relações étnico-raciais. “Costumo enfatizar que a curricularização é uma aproximação orientada com o território/campo, enquanto o estágio é uma prática profissional supervisionada”, ensina.

TRANSFORMAÇÃO E MAIOR DIÁLOGO COM A COMUNIDADE

Uma universidade transformadora é uma instituição comprometida com o desenvolvimento das regiões e inserção. “Busca desenvolver profissionais-cidadãos com autonomia para resolver os problemas emergentes e que saibam lidar com os desafios e as exigências da sociedade e do mundo contemporâneo, daí reafirmar-se o necessário diálogo com a sociedade e a corresponsabilidade universidade-sociedade pelos itinerários formativos de seus graduandos”, detalha.

Falando do lado da Engenharia e da Agronomia, considerando a questão de assimilação de novas tecnologias em currículos tão fechados, a especialista ressalta que os desafios são equânimes para todos os cursos, independentemente das áreas de conhecimento. “A curricularização potencializa a flexibilização curricular e a inovação das matrizes a partir da retroalimentação advinda da aprendizagem experiencial em programas e projetos”, aponta.

Ressalta, no entanto, que a formação docente em extensão, conhecimento de novas metodologias e processos avaliativos, associada à superação da concepção de uma extensão bancária e assistencial baseada na difusão tecnológica, precisa ser superada nos cursos de Engenharia e Agronomia.

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As IES por meio de seus Núcleos Docentes Estruturantes devem identificar componentes curriculares com natureza e ou potencial extensionista. Além disso, podem delimitar linhas de trabalho a partir de demandas existentes na região, como questões ambientais, gestão de propriedades rurais e ou empresas de Engenharia, saúde e segurança de trabalhadores, acessibilidade, mobilidade urbana, edificações sustentáveis, gestão de áreas de riscos, planos diretores, patrimônio histórico, impactos ambientais de empreendimentos, eficiência energética, cidades inteligentes, avaliação das políticas públicas relacionadas aos cursos.

Afirma ainda que qualquer proposição tem que ter a definição clara de objetivos sociocomunitários e se as aprendizagens atendem às DCNs dos respectivos cursos/perfil de formação. Delimitados os componentes curriculares, ressalta, é preciso identificar os públicos potenciais, planejar as abordagens temáticas, a estratégia/metodologia de trabalho e suas etapas, o processo avaliativo e fazer uma cuidadosa curadoria de materiais.

Defende também a necessidade de se pensar a proposta de trabalho a partir de grupos operativos. “Divide-se as turmas em grupos de trabalho, pois não serão todos ao mesmo tempo e no mesmo cenário de prática”, ensina.

Cada grupo, por sua vez, a partir das orientações docentes, trabalhará no diagnóstico de situações-problema dos atores implicados, na priorização de demandas, na definição de objetivos, no aprofundamento teórico com vistas à proposição/desenvolvimento de soluções e alternativas, no planejamento das referidas ações/etapas, na delimitação de processos e instrumentos de avaliação – os resultados alcançados deverão ser demonstrados – e, na sistematização das aprendizagens e experiência, bem como seminários de socialização.

Pode ser pensado um horizonte temporal de um semestre, com carga horária plena dos componentes curriculares envolvidos, sendo um mínimo de 60 horas. Cada uma das etapas é entremeada por seminários integradores de discussão teórica, entregas parciais – avaliação processual sob orientação docente – e feedbacks”, finaliza.

Professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e atual presidente da Câmara de Extensão do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão da UFRGS, sendo também membro da Comissão Própria de Avaliação (CPA) da mesma Universidade, doutor João Cesar Netto ressalta que a comunidade extensionista da universidade discutiu durante os anos de 2017 e 2018, previamente a Res. CES/CNE 07/2018, as características e condições para a inserção curricular da extensão.

No final de 2018 foi instituída uma Comissão para elaborar uma proposta de regulamentação da inserção curricular da extensão a ser proposta para o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFRGS.

A Comissão realizou 30 reuniões com diversos cursos e comissões da Universidade para identificar as especificidades e similitudes entre as diversas áreas de conhecimento a fim de elaborar uma proposta que atendesse à inserção curricular nos mais diversos cursos da UFRGS. Ao final de 2019, a Comissão entregou uma proposta que tramitou nos órgãos internos da instituição até ter a regulamentação aprovada em 2021.

Agora está em fase de implantação, na qual todos os cursos estão promovendo as alterações curriculares para a implantação e registro da inserção curricular da extensão. A maior parte dos cursos está projetando uma carga horária de prática extensionista entre 10% e 11%”, revela.

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Nas Engenharias, alguns cursos estão promovendo a inserção curricular na extensão em disciplinas de projetos, que serão desenvolvidas de forma interativa com a comunidade externa, com foco na solução de problemas apresentados pela sociedade, dentro da especificidade de cada área.Nas Engenharias, alguns cursos estão promovendo a inserção curricular na extensão em disciplinas de projetos, que serão desenvolvidas de forma interativa com a comunidade externa, com foco na solução de problemas apresentados pela sociedade, dentro da especificidade de cada área.

De acordo com Cesar Netto, outros cursos adequaram a carga horária das atividades a fim de proporcionar o tempo para a participação dos estudantes em projetos de extensão não vinculados a uma disciplina específica, mas com foco na interdisciplinaridade, com contribuição na formação técnica e não técnica – desenvolvimento de soft skills – dos estudantes.

Na área da Agronomia, a extensão sempre foi um dos eixos dos cursos, com disciplinas específicas direcionadas à extensão rural. Algumas matérias colocaram em seus planos o contato com a interação dialógica com a comunidade em atividades específicas vinculadas aos objetivos das disciplinas”, informa.

Para ele, o desafio está sendo a difusão da cultura da extensão entre os membros da comunidade acadêmica. “A extensão se faz junto à toda comunidade, com o cidadão que não possui conhecimento técnico especializado, com as comunidades carentes, com as equipes de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas e Institutos Especializados, com as organizações governamentais e não governamentais, ou seja, com toda comunidade, cada um com sua forma de interação”, relata.

Salienta, no entanto, que o desafio traz a oportunidade de mostrar e aplicar o princípio constitucional da indissociabilidade entre o ensino a pesquisa e a extensão, em especial no binômio da extensão que permite levar para a sociedade, nos seus diversos perfis, os resultados da pesquisa. “Ao mesmo tempo, traz para a Universidade, por meio da interação com a comunidade, o que precisa ser melhorado, adequado e quais as direções da pesquisa, além da contribuição dos saberes não acadêmicos na sistematização do conhecimento a ser gerado pela Universidade”, completa.

UMA UNIVERSIDADE EM EXTENSÃO

A Unisinos é uma universidade que há muitos anos já trabalha e tem no seu próprio DNA o trabalho extensionista”. Assim começa a professora Isamara Della Favera Allegretti, docente em cursos da Escola de Gestão e Negócios da Unisinos, na área de Administração de Recursos Humanos e participante do projeto de Curricularização da Extensão Universitária.

Em seu PDI, a Unisinos é claramente definida como uma universidade em extensão. Isso significa que nós entendemos que a nossa sala de aula necessita ir para além dos muros da própria universidade”, aponta.

De acordo com a professora Isamara, a Unisinos está trabalhando desde 2017 especificamente na definição das diretrizes para a curricularização da extensão, para que essas atividades e ações extensionistas estejam inseridas nos currículos de graduação e alinhadas a programas e projetos cadastrados na universidade.

Nós definimos o nosso conceito de extensão muito alinhado àquilo que o educador Paulo Freire nos provoca a pensar como essa relação de comunicação entre a universidade e a sociedade de um modo mais amplo. Dessa forma, definimos uma metodologia específica e ela não é prerrogativa das Engenharias, mas de todos os cursos”, destaca.

Segundo ela, foram definidas atividades acadêmicas que permitem que os alunos desenvolvam com mais propriedade as competências extensionistas que estão muito ligadas àquelas competências do século XXI, incluindo resolução de problemas, cooperação, pensamento projetual, pensamento sistêmico. “Essas competências são desenvolvidas especialmente em algumas atividades nas quais a gente estabelece uma relação mais estreita com a sociedade de modo geral”, ensina.

Nesse processo foram acolhidas demandas de empresas, organizações, comunidade de modo geral e de ONGs. “Além de estreitarmos as relações com territórios extensionistas, levamos os nossos alunos a conhecer estas realidades, apresentando-as dentro da sala de aula e propondo metodologias ativas para a resolução desses problemas e entrega para a comunidade de modo muito relacional”, pontua.

São feitas entregas bastante específicas para essas comunidades, sejam protótipos de projetos ou ações de “mão na massa”, transformando essas realidades. “Para isso, procuramos desenvolver as chamadas metodologias ativas. Estamos trabalhando nisso agora, por exemplo: pesquisa-ação, aprendizagens baseadas em projetos, problemas e em metodologias de aprendizagem orientadas pelo design. São algumas ferramentas que temos levado para dentro da sala de aula nessas atividades acadêmicas ou que nos permitem um exercício da extensão de modo mais sistêmico e atendendo à complexidade do real”, explica.

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A Unisinos já tem a carga horária mínima alocada em todos os currículos de graduação. Muitos trabalhos, no entanto, já são contabilizados individualmente nos currículos dos alunos por meio da modalidade de horas complementares em extensão. “E as Engenharias são muito pródigas nisso porque acabam tendo um relacionamento estreito com muitas empresas, principalmente na região do Vale dos Sinos, no Tecnosinos – no nosso polo, na nossa incubadora tecnológica”, diz entusiasmada.

Ressalta ainda que o trabalho tem sido muito potente. “Dentro das nossas linhas de trabalho, temos uma relação muito próxima entre as Engenharias e a Medicina, por exemplo. O curso de Medicina busca soluções nesta perspectiva, melhorar o atendimento a partir da tecnologia”, informa.

A professora também cita alguns programas que os cursos desenvolvem em parceria com o município de São Leopoldo, como a criação de carros elétricos para coleta de resíduos na cidade, em função da lei que não permite mais que se utilizem veículos de tração animal na cidade.  Também destaca projetos sociais ligados a cursos de Engenharias Elétrica e Ambiental. “A gente trabalha com a carga mínima de extensão que é 10% do total da carga horária do curso, podendo tendo variações entre cursos e mais atividades que podem ser computadas como horas complementares ou voluntariado”, explica.

EXTENSÃO CURRICULAR MOLDA O PERFIL DO FUTURO PROFISSIONAL 

Para a professora Isamara, não existe uma diferenciação de metodologia para os cursos de Engenharia, uma vez que há uma política na universidade para que os cursos tenham autonomia para a realização de suas práticas metodológicas que estejam alinhadas a diretrizes curriculares específicas de cada um dos cursos. “A nossa definição institucional passa por criar processos e metodologias que sejam estendidas a todos os cursos de graduação”, define.

Como a universidade tem muitos cursos e programas de pós-graduação, tanto lato sensu quanto stricto senso, existe um alinhamento dessas metodologias com as pesquisas realizadas na instituição. “Há um diferencial que é bastante importante, o da Escola Politécnica, à qual estão vinculados os nossos cursos de Engenharia. O que nós mais fomentamos são as chamadas metodologias ativas. Muitos dos trabalhos são realizados por meio da aprendizagem por projetos e por resolução de problemas da comunidade”, destaca.

Um dos projetos foi realizado por uma disciplina dos cursos de Engenharia, em que uma ONG foi contemplada. “Era uma disciplina da área de produção. Os alunos tiveram que simular uma fábrica dentro da sala de aula. Eles foram até esta ONG contemplada, identificaram necessidades, como o mobiliário para esta ONG, por exemplo. E a sala de aula se transformou em uma fábrica, com todos os seus processos. O cliente para estabelecer esta demanda foi a ONG. O interessante é que esse processo foi construído dentro do prazo semestral das aulas, ou seja, de agosto a dezembro. Dentro deste período, o projeto foi realizado com começo, fim e, claro, entrega”, detalhou.

A professora cita outros exemplos. “Temos na Universidade um programa vinculado à Rede Solidária São Léo, em São Leopoldo, que é uma rede constituída para apoiar movimentos de ocupações nas periferias do município. E nessas comunidades temos muitas demandas que as Engenharias apoiam”, destaca.

De acordo com a professora, existem estudos cartográficos ligados à construção de redes de esgoto, de redes elétricas e de busca de soluções alternativas para a geração de energias nessas comunidades. Regularmente, as ações e demandas são identificadas e levadas para os diferentes cursos, que definem atividades acadêmicas.  “Os coordenadores acionam, então, as diferentes matérias, levam essas demandas e os alunos trabalham durante o semestre essas ações. Normalmente em janeiro e julho a Universidade realiza a formação docente. Estamos fazendo regularmente essas atividades desde 2018. É o momento dos professores, dos diferentes cursos, conhecerem e aderirem a estes programas e projetos. A partir deles é que surgem as ações que vão ocorrer durante o semestre”, explica.

A professora acredita que a curricularização da extensão veio para gerar um diferencial na formação dos egressos de qualquer curso na Universidade e, por decorrência, as Engenharias. “Nesse processo, temas como pensamento projetual, colaboração, pensamento sistêmico, empreendedorismo social e inovação social estão sendo abordados. Queremos graduar profissionais, no caso aqui, em especial, formar Engenheiros comprometidos com o seu município, com o local onde vivem e com a transformação da realidade social”, finaliza.

A Geóloga Cassiana Roberta Lizzoni Michelin, coordenadora e responsável pelo projeto de curricularização de extensão do Curso de Geologia da UFRGS e conselheira da Câmara de Geologia e Engenharia de Minas do CREA-RS, explica que, nos cursos de Geologia, existe uma interlocução com a sociedade que permite aos estudantes vivências diversificadas, buscando de forma interdisciplinar desenvolver aspectos relacionados à educação étnico-racial, educação para inclusão e educação ambiental.

Alguns projetos de extensão foram pensados para atender aos objetivos e anseios da prática extensionista, como o Rockmin, cujo objetivo é promover a propagação do conhecimento sobre as rochas e minerais existentes no Rio Grande do Sul, de forma didática, interativa e tecnológica, por meio da elaboração de materiais e ações para divulgação científica”, exemplifica.

 

Segundo a Geóloga, as ações externas incluem a organização de kits de amostras de rochas e minerais com cartões informativos e QR Code. A distribuição dos materiais ocorrerá em eventos institucionais ou externos à UFRGS para divulgação do site e das ações realizadas. “Vamos selecionar espaços, prédios públicos e privados para a colocação de placas com QR Code com informações sobre as rochas e minerais do RS, participação em visitas guiadas em prédios públicos e privados, ornamentados com rochas do Estado”, detalha.

Além disso, segundo a Geóloga, um projeto de extensão na área de Geologia de Engenharia foi elaborado pensando na importância e aplicação dos conhecimentos deste aprendizado e a interação com empresa mineradora produtora de agregados para uso na construção civil, utilizando conceitos básicos como processos de intemperismo das rochas, formação dos solos, propriedades físicas e classificação dos solos, métodos de investigação geológico-geotécnica, caracterização das rochas para uso como material de construção nas diferentes obras de Engenharia, ensaios de laboratório para a caracterização física, mecânica e de alterabilidade de rochas, mapeamento geotécnico.

 

Foram adotadas duas modalidades de reconhecimento da prática extensionista, de acordo com as diretrizes propostas institucionalmente. “Uma modalidade na qual o estudante atua na participação como membro da equipe executora em atividades de extensão, associadas às Unidades Curriculares de Extensão (UCE), e outra, em que são vislumbradas Atividades de Ensino que possuam reconhecimento de prática extensionista como componente curricular de extensão em sua carga horária, associadas à Carga Horária de Prática Extensionista (CHE)”, destaca.

Para que os estudantes de Geologia tenham oportunidade de interagir com metodologias inovadoras de aprendizagem, vivenciarem novos conhecimentos e habilidades, além de participarem de forma ativa na interação com a comunidade acadêmica, com a sociedade, por meio da troca de experiências, da participação e do contato com as questões presentes no contexto social, o colegiado do Curso de Geologia, como forma de viabilizar a extensão no percurso formativo dos estudantes, optou por criar disciplinas obrigatórias, com caráter extensionista e disciplinas obrigatórias alternativas.

As disciplinas elaboradas possuem reconhecimento de prática extensionista como componente curricular de extensão, sendo realizadas práticas de campo, com objetivo de gerar roteiros geológicos demonstrando a evolução do planeta Terra, suas características climáticas, ambientais, paleogeográficas, e relacionando com as evidências da evolução da vida, através dos fósseis e das rochas presentes em diversas localidades acessíveis à sociedade. “Foram criados Roteiros de Geologia e Biogeografia Histórica, promovendo interação entre o conhecimento técnico/acadêmico das atividades do Curso de Geologia e a comunidade, por meio de palestras, feiras, folhetos, placas explicativas em pontos estratégicos”, pontua.

Além disso, segundo ela, a integração entre o Museu de Paleontologia da UFRGS “Irajá Damiani Pinto” e museus locais, municipais, escolas de ensino básico, técnico e tecnológico, através de atividades educativas foram pensadas para a inserção das práticas extensionistas.

Apesar dessas ações, a inserção das práticas extensionistas nos currículos dos cursos de graduação passou por diversas fases, desde o diálogo sobre o entendimento destas práticas até a sua implementação, uma tarefa longa e árdua para as coordenações de cursos, colegiados e núcleos estruturantes. “A necessidade de adequação de 10% da carga horária total do curso para as práticas extensionistas, sem o aumento desta, foi a questão mais desafiadora. Nas alterações curriculares, algumas disciplinas precisaram diminuir a sua carga horária, para tanto, priorizou-se que nenhum conteúdo de caráter técnico profissionalizante fosse retirado”, finalizou.

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