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PARA PENSAR

Pondé reflete sobre felicidade entre trancos e barrancos 


Em um auditório lotado durante a 77ª Soea que ocorreu em Goiânia, em outubro, o filósofo Luiz Felipe Pondé provocou a plateia sobre o conceito de felicidade

 

O que é a felicidade? Quanto custa a sua felicidade? Que caminhos podemos percorrer para encontrar a felicidade? Por ser uma obsessão, a busca pela felicidade pode tornar-se um caminho inverso, ainda mais na sociedade contemporânea de toxicidade das redes sociais e a saturação da informação. “Você está lascado quando precisa mostrar que é alguém maior e melhor sempre. Viver na expectativa de atender o outro”, é o que defendeu Luiz Felipe Pondé, filósofo, professor universitário e escritor. 

 

Para ele, a felicidade não tem fórmulas, apesar dos equívocos de achar que ela vem fácil, mas se vive a maior parte da vida acompanhado pela infelicidade. “A motivação vem aos trancos e barrancos”, prosseguiu o filósofo, passando por temas como longevidade, filhos, adolescência e expectativa, com uma visão, muitas vezes, pessimista.Para Pondé, felicidade antes de tudo é uma obsessão e grande parte da infelicidade das pessoas pode ser atribuída ao ato de pensar em felicidade a todo momento. “Em geral, ela vem em um momento de descuido. Para mostrar que é feliz, a pessoa sorri o tempo inteiro, imagens de sucesso, que é jovem, tem sucesso. Fica repetindo como um mantra ‘sou melhor do que pareço ser’, o que pode ajudar a se tornar mais infeliz”. Ao citar Santo Agostinho, afirmou que “a vida é uma graça por si só”. 

Outro sentimento importante para a felicidade é a confiança. “Mas as pessoas são muito paranoicas. E o sentimento de ameaça é contínuo”, avaliou. O palestrante lamenta o excesso de informações, que faz com que a pessoa não descanse nunca e que tenha de bater metas em todos os momentos da vida, no trabalho, na vida familiar. Segundo ele, este também é o território de convívio da juventude. “Momentos difíceis para a juventude, com mais insegurança e vulnerabilidade. Estão tomando mais remédio. Com medo do mundo do trabalho, das transformações”, avaliou. Ele ainda recomendou aos pais, para evitar estimular tanta ansiedade nos filhos, serem mais adultos e não tentarem ser iguais a eles. 

 

Outro território citado é a longevidade. Pensando na sociedade contemporânea, as pessoas vivem mais, o que engendra uma série de contradições, que podem se transformar aos trancos e barrancos, como o fato de o mercado corporativo “cuspir” você que tem mais de 40 anos, a partir do surgimento de uma inovação. “Assim o mundo fica mais líquido”, analisou.  “Viver mais é uma forma de felicidade, mas viver e fazer o quê? Porque a nossa necessidade é se relacionar com a sociedade, fazendo parte da cadeia produtiva ou de consumo. São duas áreas que as pessoas mais velhas não conseguem participar”, ponderou o filósofo.

“O caráter líquido da sociedade leva à infelicidade. Tudo escorre pela mão. A sociedade contemporânea escorre pela mão. Tudo é rápido e se transforma, fazendo com que você seja apenas um figurante, quando o seu desejo e a sociedade exigem que você seja o protagonista. Tudo é paradoxal e muito difícil em um mundo líquido. A obsessão pelo sucesso, achar que você tem que vencer o tempo inteiro, leva à infelicidade”, analisou Pondé. 

“Felicidade precisa de virtudes”, ponderou, citando a coragem. “É muito difícil você ser covarde e ter uma felicidade decente. Também é necessário ter generosidade. Uma alma mesquinha vive sempre em um mundo mesquinho. Espera o pior de todos e não consegue confiar em ninguém. É uma virtude importante para se ter alguma felicidade e enfrentar os percalços”, definiu. O sentimento de leveza, para o filósofo, é um caminho para a felicidade.  “Trabalhar com o que você gosta é fundamental. Trabalhar com que não gosta é receita para a infelicidade. A felicidade encampa o mundo corporativo”, afirmou.Misericórdia e perdão são citados como virtudes para a felicidade. “Uma pessoa que não tem misericórdia com os outros ou precisa que os outros também tenham por ti, geralmente, é um desgraçado”.  Para Pondé, tudo isto é fundamental para a economia da felicidade social e na economia da felicidade subjetiva psicológica. “Estamos falando de ética, que é uma ciência da prática. Ninguém é generoso e misericordioso na teoria. Não existe marketing da ética, mas apenas na prática. As pessoas reconhecem a felicidade em você na forma como você as trata. Por isso é que as fórmulas não funcionam”, finalizou sob aplausos.

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