
FUTURA GEÓLOGA PARANAENSE REALIZA RARA DESCOBERTA NA MICROPALEONTOLOGIA
Bruna realizou a descoberta durante seu estágio no ITT Oceaneon

Apaixonada pela geologia, Bruna Poatskievick Pierezan, 27 anos, estudante da graduação na Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), realizou uma descoberta rara na micropaleontologia e conta que sente que encontrou a sua grande paixão na área de estudos.
Graduanda desde 2017, a estudante ingressou no Instituto Tecnológico de Paleoceanografia e Mudanças Climáticas (ITT Oceaneon) em 2018, e é lá que realiza os estudos que deram origem à sua grande descoberta. O Sergipecrinus reticulatus, como foi batizado o microcrinoide¹, foi descoberto em meio a uma série de estudos realizados na Bacia de Sergipe (de onde surge o nome), importante e pioneiro ponto de estudos geológicos no Brasil. Isso porque a região é uma grande amostra do período Cretáceo, onde surgem importantes bacias sedimentares produtoras de petróleo, principalmente durante a separação do supercontinente Pangéia. A Bacia de Sergipe torna-se tão especial para estes estudos devido ao fato de ter partes submersas e também emersas, o que diminui os custos trazidos por uma perfuração realizada em regiões que estão cobertas pelo oceano.
Momento da perfuração do poço SER-03, onde foi encontrado o Sergipecrinus reticulatus


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Como um marco para a micropaleontologia, a estimativa é que esse pequeno ser tenha vivido há cerca de 112 a 114 milhões de anos atrás e foi identificado através do processo de triagem no qual Bruna trabalha no Instituto. “Algumas pessoas não gostaram dessa área, os micropaleontólogos acabam estudando, em sua maioria, microfósseis, ostracodes e nanofósseis, mas eu me identifiquei mais com os equinodermos. Vi neles algo novo para estudar, um nicho ainda pouco explorado e fico feliz com o resultado que isto trouxe” conta a futura geóloga. O estudo realizado pela equipe do Instituto consiste em um trabalho manual, com a utilização de ferramentas como pincéis e movimentos minuciosos para a separação do sedimento do material a ser estudado: os microfósseis. O processo é lento e por vezes a triagem de um poço pode levar até mesmo um ano inteiro.
O formato de estrela, que caracteriza o “cálice” foi o que ajudou os pesquisadores a identificar as peças como sendo de um microcrinóide. Ao lado é possível observar como eram os demais materiais analisados


Bruna conta que durante a pesquisa muitos materiais, além do foco do estudo, são encontrados, tais como fragmentos de corais, pedaços de conchas, peixes, material vegetal, entre outros. O que ajudou a diferenciar o Sergipecrinus reticulatus dos demais materiais foi justamente o seu formato e tamanho diferentes dos demais e, para entender que havia descoberto algo inédito, a estudante contou com o conhecimento de Andy Gale, professor britânico de geologia na Universidade de Portsmouth e orientador dos estudos de Bruna. “Assim que percebi que era de fato um microcrinóide, tirei algumas fotos e enviei para o Andy, imaginando que seria algum dos já descritos por ele na Europa, mas para minha surpresa ele também não tinha conhecimento, era algo inédito”. `Pensando nisso, buscaram fazer a pesquisa e a publicação do estudo para entender do que se tratava e se esse material já havia sido encontrado em algum outro lugar. “Quanto mais estudamos mais perguntas aparecem, mas em um primeiro momento a pesquisa queria identificar esse fóssil, entender quem ele de fato era”, explica a estudante. O primeiro processo após a descoberta foi entender o que a espécie estava fazendo naquele local e registrar o animal recém-conhecido, um trabalho envolvendo, em grande parte, a taxonomia, na qual Andy Gale foi muito atuante por ser um anatomista especialista nos equinodermos fósseis, grupo ao qual o microcrinóide descoberto pertence.
O Geólogo Gerson Fauth, um dos orientadores da estudante e coordenador do ITT Oceaneon, ressalta a importância dessa descoberta: “O trabalho liderado pela Bruna é importante para conhecer a fauna de microcrinóides que viveram nos tempos em que o oceano atlântico estava iniciando, onde a distância geográfica ente a África e a América do Sul era ainda pequena. Com o trabalho abre-se espaço para a colaboração em pesquisas sobre como eram os ambientes, onde viviam estes invertebrados e colaborar na discussão de idades das rochas estudadas. É importante salientar que boa parte das jazidas de hidrocarbonetos brasileiros são oriundas de rochas depositadas nos mesmos intervalos onde a equipe desta pesquisa realizou suas investigações.”
O estudo foi publicado na edição 145 da revista Cretaceous Research, que é especializada no período Cretáceo. Você pode conferir a publicação (disponível apenas na língua inglesa) aqui. Agora a equipe planeja a publicação de outros artigos e a realização de mais estudos com tecnologias ainda não utilizadas, para tentar relacionar com alguns elementos e procurar em outros lugares do mundo para identificar se, de fato, o animal é original do local encontrado.
Atualmente, os microcrinóides descobertos estão depositados em uma lâmina no ITT Oceaneon da Unisinos e já estão tombados pelo museu da própria universidade, o MHGEO. Após os estudos, as lâminas estarão disponíveis para exposição (que só pode ser realizada através de estereoscópio ou lupa). “A ideia é criarmos uma réplica do microfóssil em tamanho grande, para que seja possível que mais pessoas entendam do que se trata e expor isso também, fazendo a doação dessas reproduções para museus do mundo todo. Além disso, trazer a descoberta de tamanho maior nos ajudará a levar o estudo a mais pessoas e estudiosos”, complementa a futura Geóloga.

A geociência como uma paixão
Defensora da sua área de estudos e futura profissão, Bruna Poatskievick se revela uma grande entusiasta das geociências. “Defendo muito a ideia de fazer o que se gosta, sei que nem todo mundo tem condições para isso, mas foi estudando o que eu gosto que pude fazer essa descoberta. Muito feliz com minha escolha”, relata a graduanda. Ela conta que durante o processo de vestibulares considerou diversas outras graduações, mas nenhuma delas parecia agregar tanto conhecimento quanto à geologia, área pela qual já nutria uma paixão. “Pensei muito em cursar astronomia e até meteorologia, mas encontrar tantas áreas em um só lugar era o que me atraia para esse curso”.
O interesse foi um dos grandes motivadores e, por consequência, razão para a descoberta. “Se você não for se dedicar a estudar e arriscar entender algo novo, alguém vai e, principalmente, fora do nosso país onde esses estudos recebem mais apoio. Isso me incentivou a continuar insistindo, indo a fundo com os equinodermos e me apaixonar pela micropaleontologia, área na qual quero continuar meus estudos e especializações”, finaliza.
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microcrinóide¹: seres microscópicos da classe Crinóide, é a classe mais primitiva e mais antiga e consiste nos lírios do mar.
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