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Um novo termômetro para estudar o clima do nosso passado

A chave do futuro é entender o passado, já diziam filósofos como Kierkegaard, Heródoto e Confúcio. É com esse mote que diversos estudos científicos acerca do passado da Terra e do espaço são realizados cotidianamente. Um destes estudos é a paleoclimatologia.


Embora o nome seja um pouco complicado, trata-se de algo simples: o estudo das variações climáticas ao longo da história. Para isso, são analisados os vestígios naturais que podem ajudar a determinar o clima em épocas passadas, como sedimentos dos oceanos, geleiras, composição do gelo, a estrutura de árvores petrificadas, entre outros.


Em busca de inovação na área, o pesquisador e geólogo Russell Drysdale, professor da Universidade de Melbourne, na Austrália, realizou a sua pesquisa A new thermometer for studying our past climate (“Um novo termômetro para estudar o clima do nosso passado”, em tradução livre).

 

A proposta de Drysdale

 

geólogo Russell Drysdale 

Para entender as mudanças climáticas, costuma-se analisar a mudança nas propriedades químicas de sedimentos oceânicos e núcleos de gelo. Porém, essa análise é limitada a bacias oceânicas e regiões polares.


Essa limitação tornou-se um empecilho a ser superado pelo professor Drysdale. Em conjunto com um grupo de acadêmicos australianos, o pesquisador passou a analisar as variações de magnésio em espeleotemas submersos. Mais uma vez, apesar do nome complexo, trata-se de algo simples.


Espeleotemas são rochas formadas dentro de cavernas, como as estalactites, e são compostos principalmente por calcita ou aragonita, formas cristalinas do carbonato de cálcio que representam a sedimentação química que ocorre dentro de cavernas. Assim como podem ocorrer acima da superfície da água - vide as estalactites e estalagmites -, podem se formar submersas. São justamente essas estruturas que Drysdale e sua equipe buscaram estudar.

O estudo na prática

Ao analisar o núcleo de um espeleotema submerso oriundo de uma região cavernosa da Toscana, na Itália, o geólogo descobriu dados interessantes. Por tratar-se de uma estalagmite - corpo rochoso similar a estalactite, mas que se forma verticalmente para cima no chão de cavernas - totalmente submersa, sua taxa de crescimento é lenta. Essa falta de agilidade afeta a forma como o magnésio se divide na calcita, tornando estes corpos mais sensíveis a mudanças de temperaturas.


“Espeleotemas subaquáticos crescem em um padrão simples, mas lento. O crescimento lento pode ser um problema pois perdemos detalhes - podemos ter um resultado de décadas ou séculos com cada amostra que extraímos. Mas pelo lado positivo, eles crescem continuamente por muitos milhares de anos. A amostra que pegamos na Itália cresceu de maneira contínua por quase um milhão de anos”, revelou o geólogo e professor Russell Drysdale.


Em estudos dos climas passados que usam espeleotemas, a praxe é medir as concentrações dos elementos vestigiais. Dependendo do elemento escolhido, é possível obter informações sobre processos do solo, chuva efetiva, atividade da vegetação, a abundância de poeira, entre outros.

A escolha pelo magnésio ocorreu por suas características indicativas de mudanças hidrológicas. Segundo Drysdale, foi por sorte que se percebeu a sensibilidade à temperatura. “Nós estávamos esperando ver nos resultados da análise um sinal que poderia ser indicativo de mudanças hidrológicas, que tendem a apresentar um padrão oposto ao de temperatura. A dificuldade para nós foi tentar elaborar uma explicação para a sensibilidade de temperatura do magnésio, que acreditamos ser relacionado com o crescimento lento de espeleotemas subaquáticos, e como isso influencia na reação que leva à substituição de cálcio por magnésio em cristais de calcita”, completou.

O passado como indicativo do futuro

Apesar dos excelentes resultados da pesquisa do geólogo Russell Drysdale, não será possível diminuir os efeitos do aquecimento global. O pesquisador foi categórico: “o aquecimento global é incontestável e possui base em milhares de medições precisas feitas no último século. Porém, os resultados a partir de espeleotemas poderão ser usados para investigar como diferentes regiões responderam a intervalos de mudanças climáticas no passado, como o quão quente certas regiões ficaram”, disse.


O novo modo de análise expande as pesquisas da paleoclimatologia para fora de núcleos específicos, diminuindo as restrições do conhecimento atual acerca do nosso clima passado. “A maioria das nossas informações atuais sobre as temperaturas passadas vem de núcleos polares e sedimentos oceânicos. Ser capaz de produzir estimativas de temperatura a partir de cavernas preenche uma grande lacuna e nos permite saber sobre mudanças climáticas na superfície terrestre. Isso é muito importante, pois camadas polares e oceanos possuem respostas térmicas particulares; superfícies terrestres são diferentes”, projetou Drysdale, revelando o potencial de conhecimento a ser obtido com a nova técnica.


Estiveram envolvidos na pesquisa, ainda, um time composto por universidades australianas e institutos de pesquisa, onde as diferentes análises foram realizadas. Geólogos do Reino Unido, Itália e França ajudaram com o trabalho de campo e comparações de outros dados, como núcleos oceânicos, conforme informou Drysdale.

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