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Engenheiro Químico é o vencedor do prêmio alemão Green Talents 2020 

NOVIDADES TÉCNICAS

O pesquisador brasileiro Filipe Vargas Ferreira, doutorando em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi um dos vencedores do prêmio alemão Green Talents 2020. O foco de sua pesquisa é o desenvolvimento, a partir da celulose, de nanomateriais de alto desempenho e sustentáveis que possam substituir o plástico e, consequentemente, reduzir a contaminação do meio ambiente. 

Filipe Vargas Ferreira, 32 anos, pesquisador brasileiro e um dos vencedores do prêmio alemão Green Talents 2020

O Green Talents acontece desde 2009 e já premiou 20 brasileiros. A competição busca encontrar jovens talentos da pesquisa na área da sustentabilidade em todo o mundo. Ela oferece uma plataforma para que jovens pesquisadores compartilhem os seus projetos nas áreas da ciência e desenvolvimento sustentável. As iniciativas são reconhecidas pela capacidade inovadora, abrangendo diversas áreas com ideias criativas capazes de responder às questões atuais sobre sustentabilidade. 


O projeto de Filipe se destacou por ter uma abordagem interdisciplinar, que une a nanotecnologia e as ciências naturais aos aspectos sociais, ao utilizar a celulose para o desenvolvimento de novos materiais sustentáveis com potencial para serem usados como embalagens biodegradáveis e implantes biomédicos. Para entender melhor o projeto premiado, confira a entrevista com o pesquisador.


O projeto de Filipe se destacou por ter uma abordagem interdisciplinar que une a nanotecnologia e as ciências naturais aos aspectos sociais

CONSELHO EM REVISTA – Como foi receber a notícia de que você foi premiado no Green Talents 2020?

Filipe Ferreira – Foi uma satisfação muito grande, pois é o reconhecimento de vários anos de dedicação à pesquisa. Além disso, estamos em uma época em que a sociedade de forma geral está descrente da pesquisa que fazemos no Brasil. Este reconhecimento mostra que fazemos pesquisa de ponta no Brasil, e investimentos nesta área podem gerar avanços para a sociedade.

CR – O que é o projeto, em uma linguagem bem acessível? Poderia trazer exemplos de aplicações da sua criação no dia a dia?

Ferreira – O projeto se insere no contexto do desenvolvimento de materiais sustentáveis. Os polímeros não biodegradáveis, popularmente chamados de plásticos, ​​desempenham um papel fundamental em várias áreas de nossas vidas e podem ser encontrados em diversas aplicações que vão, desde utensílios domésticos, até peças de espaçonaves. Devido a sua ampla utilização, combinada com sua natureza resistente, esses polímeros são considerados um dos principais problemas ambientais atualmente. A substituição de polímeros não biodegradáveis ​​por biodegradáveis ​​é, desta forma, urgente. No entanto, esta substituição é difícil, pois as propriedades dos polímeros biodegradáveis ​​são frequentemente inferiores quando comparadas aos não biodegradáveis. Existe, portanto, uma grande necessidade do desenvolvimento de materiais poliméricos biodegradáveis com desempenho aprimorado para diferentes setores. No nosso projeto, nós usamos a celulose – o polímero natural mais abundante da Terra – para desenvolver materiais biodegradáveis ​​de alto desempenho que podem ser usados como implantes biomédicos e embalagens biodegradáveis. 

CR – De que forma, na prática, vai afetar o cotidiano e o meio ambiente?

Ferreira – Desenvolvemos materiais poliméricos biodegradáveis de alto desempenho, ou seja, é um primeiro passo para conseguirmos diminuir os graves problemas ambientais relacionados ao descarte de plásticos no meio ambiente. Eu espero que, num futuro próximo, os materiais que desenvolvemos possam ser utilizados pela população, trazendo qualidade de vida e um crescimento sustentável do nosso planeta. Esta é uma das formas que eu vejo de retribuir para a sociedade o investimento feito em pesquisa.

CR – Qual é o papel que a nanotecnologia tem em relação ao futuro? 

Ferreira – A nanotecnologia permite avanços em vários âmbitos do conhecimento. Especificamente na área de materiais, temos condição de manipular e de desenvolver novas estruturas que não eram possíveis antigamente. Como resultado, materiais com desempenho melhorado, menor preço, mais leves, entre outras vantagens, podem ser desenvolvidos. 


Figura 1 – Implante biomédico a base de celulose desenvolvido durante a pesquisa de doutorado do Filipe: um material leve o suficiente para repousar em uma pétala, altamente poroso para permitir o crescimento de células no seu interior e forte para suportar mais de mil vezes seu próprio peso. Em ensaios in vivo, o material preparado mostrou potencial para promover a regeneração óssea. Imagens adaptadas da referência (Nanoscale, 2019, 11, 19842-19849) com a permissão da Royal Society of Chemistry. Trabalho completo disponível em: https://pubs.rsc.org/en/content/articlehtml/2019/nr/c9nr05383b


O trabalho de Filipe foi desenvolvido na Unicamp em colaboração com o Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano/CNPEM), Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Universidade Federal de Minas Gerais, University of Lyon - França e Aalto University - Finlândia. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo European Research Council Fellowship, European Union's Horizon 2020 research and innovation programme (BioElCell).


Pela primeira vez, em decorrência da pandemia da Covid-19, a premiação aconteceu em formato on-line. Os 25 vencedores fizeram um tour virtual por instituições de pesquisa, universidades e organizações alemãs que se dedicam à ciência da sustentabilidade para discutir seus projetos com especialistas locais. O fórum virtual é apenas a primeira etapa. Filipe e os outros cientistas foram convidados para irem à Alemanha em 2021, com estadia totalmente financiada pelo governo alemão, para um estágio de pesquisa em uma instituição de sua escolha.

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