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RS se despede do Meteorologista Eugenio Jaeckel Hackbart

Meteorologista, professor, biólogo, amigo. Muitos títulos descrevem Eugenio Jaeckel Hackbart, considerado uma das principais referências da Meteorologia no Rio Grande do Sul. O gaúcho de Morro Redondo faleceu no dia 13 de julho, deixando um legado para a área à qual dedicou a vida, junto ao ensino e à pesquisa.

Vídeo cedido pela Produção do Grupo Sinos/Jornal NH



Apesar de ter se vinculado ao CREA-RS apenas em 1983, Hackbart já era Meteorologista antes mesmo de haver formação específica na profissão e da criação da Organização Mundial de Meteorologia.


Formado pela Universidade Federal o Rio Grande do Sul e pela Unisinos nos cursos de História Natural e Biologia, obteve a sua habilitação como Meteorologista pelo Ministério da Aeronáutica. Desde cedo, com oito anos, o professor Eugenio já praticava a observação meteorológica e vivenciava o tempo e o clima gaúchos.


Eugenio Jaeckel Hackbart, considerado uma das principais

referências da Meteorologia no Estado (Foto MetSul Meteorologia)


De forma pioneira, em 1978, introduziu o ensino de Meteorologia em escolas de segundo grau de São Leopoldo aonde, durante 30 anos, atuou como professor das áreas de biologia, ecologia e Meteorologia. Em 1993, também introduziu a Meteorologia nas escolas primárias da rede pública municipal de São Leopoldo e de outros municípios da região.


Ainda em 1978, criou o projeto que daria lugar à Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo, um sonho de Hackbart, com a instalação de um abrigo meteorológico no pátio do Colégio Sinodal, no qual lecionava. Em 1983, a Associação dos Ex-Alunos do Colégio Sinodal criou o Departamento de Meteorologia e um projeto para instalar uma estação de observação meteorológica mais completa e com maior utilidade para a população.

Instalação de estação meteorológica em São José dos

Ausentes, ponto mais alto do Rio Grande do Sul, pelo

próprio professor Eugenio (Foto MetSul Meteorologia)


Em 1985, participou da criação do primeiro serviço de Meteorologia municipal do Brasil, por meio de um convênio entre a Associação e a Prefeitura de São Leopoldo. Assim, a Estação de Observação Meteorológica de São Leopoldo foi fundada, transformando-se, mais tarde, em uma rede de monitoramento, com a instalação de diversas estações padronizadas.


As condições do tempo passariam a ser observadas, então, em diversas cidades do Estado, possibilitando o acesso a dados antes indisponíveis e um maior conhecimento do clima do RS. Uma dessas estações chegou a ser instalada em São José dos Ausentes, ponto mais alto do Rio Grande do Sul. Para isso, o próprio professor Eugenio, aventurou-se a cavalo pelo Monte Negro com equipamentos.


Como entusiasta da educação, também criou e chefiou a Unidade de Climatologia da Ulbra. Desenvolveu, em parceria com a prefeitura de São Leopoldo, um projeto comunitário, chamado Meteorologia na Escola, cujo objetivo era estimular o aprendizado sobre a atmosfera. Entre 1993 e 1996, foi secretário municipal do Meio Ambiente em São Leopoldo. Além disso, em 2006, fundou a MetSul Meteorologia, empresa que surgiu a partir da Rede de Estações de Climatologia Urbana de São Leopoldo. Preocupado com a deterioração do rio dos Sinos pela poluição, envolveu a MetSul em ações de preservação.


Eugenio estabeleceu-se em São Leopoldo, no Vale dos Sinos, criando laços com a comunidade. Recebeu, então, o título de Cidadão Leopoldense na Câmara de Vereadores do município. Foi sócio honorário da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Vale do Rio dos Sinos. Criou e coordenou, durante seis anos, a Comissão de Meteorologia do Comitesinos. Foi agraciado com a medalha da Defesa Civil do Estado do Rio Grande do Sul, condecoração que também recebeu do município de Porto Alegre.


“Muito antes dos instrumentos, dos aparelhos ou das sofisticadas máquinas eletrônicas, as plantas, os animais e o próprio homem incorporaram o conhecimento, na memória genética, do comportamento dos complexos mecanismos da atmosfera e decodificaram o "DNA" do tempo através do processo de adaptação ao longo de milhões de anos em nosso planeta.” Professor Eugenio Hackbar

Um legado


Emitia boletins diários na Rádio Guaíba, na antiga Feluspe (Pop Rock), e em dezenas de emissoras de rádio do interior gaúcho. De segunda a sexta, na Rádio Guaíba, conversava com o apresentador Flávio Alcaraz Gomes e, no fim da tarde, com o jornalista Luiz Carlos Reche, de quem se tornou amigo e vizinho.


Em homenagem publicada pela MetSul, seus colegas afirmam que seus boletins eram os “mais completos do tempo no rádio, com as condições de todo o Cone Sul, do interior, dados históricos e a explicação dos fenômenos com uma linguagem simples, acessível e didática, típicas de alguém forjado em sala de aula”. Também foi colunista do jornal ABC, do Grupo Sinos, e responsável pela previsão do tempo nos jornais do grupo desde a década de 1990. Além disso, manteve um blog on-line com informações a respeito do tempo e do clima.


O professor Eugenio foi um entusiasta da educação e dedicou a

vida à Meteorologia, ao ensino e à pesquisa (Foto MetSul Meteorologia)


Orgulhava-se do trabalho de previsão do tempo para atividades esportivas ou de lazer, como campeonatos de surfe, festivais de balonismo e etapas internacionais de natação, com a instalação de estações meteorológicas móveis nos locais dos eventos em diversos estados.


Segundo os colegas da MetSul, mesmo aposentado, “jamais deixou de contribuir com estatísticas históricas e informações relevantes de fenômenos meteorológicos incomuns ou extremos”.


Para a Meteorologista Estael Sias, amiga e colega de Eugenio, falar sobre ele é sempre uma alegria. “Era uma pessoa inspirada, bondosa e gentil sempre. Tinha alma de professor e, por isso, ao fazer a previsão do tempo no rádio era didático, e quem o ouvia sempre aprendia algo novo. Ele inspirava pela curiosidade e dedicação às coisas do tempo”, conta a amiga que trabalhou com Eugenio na MetSul.


Para ela, o professor teve uma vida plena e feliz e impactou a vida de muitas pessoas. “Com ele as pessoas passaram a acreditar na previsão do tempo em uma época em que não tínhamos toda a tecnologia de hoje. Não só a acreditar, mas a gostar de acompanhar a previsão.”


Em relação ao legado que deixa, Estael ressalta que Hackbart mostrou a importância de uma comunicação clara, criativa e eficaz na Meteorologia e na previsão do tempo. “Ele foi brilhante. Colocava todo o seu entusiasmo e paixão no que fazia e isso fez história no RS, que é tão impactado pelo clima. Seu legado foi mostrar como a Meteorologia pode, de fato, tornar o mundo um lugar melhor para se viver e mais seguro, pois, com essa informação, as pessoas podem planejar melhor suas vidas e, assim, evitar riscos e prejuízos.”


Destaca, ainda, que Eugenio abriu um mercado para os profissionais da área e mostrou a importância do serviço da previsão do tempo nos meios de comunicação. Em homenagem publicada pela empresa da qual foi fundador, os colegas afirmam: “Foi ao encontro do céu que dedicou sua vida a enxergar e prever. Vai deixar muita saudade, mas seu legado segue vivo e sua contribuição para a Meteorologia gaúcha será sempre lembrada. Entra para a história da Meteorologia do Rio Grande do Sul, ao lado de nomes como Coussirat de Araújo e Floriano Peixoto Machado, que inovaram e ajudaram o Estado a entender o seu clima em suas eras.”


Eugenio Hackbart com a amiga e colega

Meteorologista Estael Sias (Foto MetSul Meteorologia)


“Fará muita falta mesmo. Eu sinto gratidão e orgulho por ter tido o privilégio de ter dividido parte desta caminhada. Foi uma honra”, afirma a amiga Estael. Por meio desta homenagem, o CREA-RS se solidariza com os familiares e amigos de Eugenio Jaeckel Hackbart e agradece pelos serviços prestados por este grande profissional à área meteorológica durante tantos anos.

 

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