Projeto com alternativas de matéria-prima na construção civil é premiado no Programa 25 Mulheres na Ciência: América Latina
O Dia Internacional das Mulheres na Ciência é comemorado anualmente no dia 11 de fevereiro. Para celebrar a data, a 3M, um grupo econômico multinacional de tecnologia, realizou a 3° Edição do programa 25 Mulheres na Ciência: América Latina. “Damos o devido protagonismo para essas profissionais de nossa região que estão impactando milhares de vidas graças a sua importante contribuição à Ciência” diz o diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da 3M para a América Latina, Paulo Gandolfi.
Entre as oito brasileiras premiadas pelo programa, está Bárbara Maria Ribeiro Guimarães de Oliveira com seu projeto ligado a alternativas sustentáveis para a produção de painéis de madeira OSB (Oriented Strand Board), amplamente utilizados na construção civil. O estudo se baseia em duas vertentes, uma com foco no bambu como alternativa para a madeira de pinos e do eucalipto, e outra com foco na produção de um adesivo à base de resíduos do processo de produção do óleo de mamona, diminuindo a emissão de formaldeídos, substância nociva para o ser humano e muito usada na indústria destes painéis.
Após se questionar do poder que os homens possuíam na área da ciência, Bárbara não aceitou as limitações impostas às mulheres e seguiu seu sonho de ser pesquisadora. Se tornou mãe solteira durante a licenciatura, alguns colegas e professores a consideraram incapaz de terminar, mas isso não a impediu e, pelo contrário, seu filho lhe deu ainda mais força para continuar lutando pelo que amava. Após o doutorado, ficou desempregada por dois anos, “Às vezes eu trabalhava como garçonete ou como faxineira para pagar minhas despesas mínimas” lembra Bárbara Guimarães.
Apesar de todas as dificuldades, sua carreira acadêmica é de sucesso. Se formou em Agronomia pela Universidade Federal de Lavras (MG), fez Mestrado em Ciência e Tecnologia de Madeira e Painéis de Madeira, doutorado em Engenharia de Biomateriais, pós-doutorado em Engenharia Civil na Universidade Federal do Piauí, Pós-doutorado em Agroquímica na Universidade Federal de Lavras, outro pós-doutorado em Engenharia de Materiais pela Universidade Federal do Ceará e, atualmente, está fazendo outro pós-doutorado em Engenharia de Biomateriais, junto com um doutorado em Agronomia.
“Eu tenho um amplo conhecimento, tanto das demandas na agronomia, quanto da parte de materiais e de novos materiais. Isso que me faz apaixonar, porque eu gosto de responder os porquês e encontrar diferentes alternativas de respostas”, explica Bárbara.
SOBRE O PROJETO
Foi um trabalho desenvolvido em conjunto com a Universidade Federal de Lavras (Ufla) e com a Universidade Federal do Ceará (UFC), em busca de agregar produtos típicos do norte do País com as demandas da indústria de painéis de madeira.
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Chapas usadas na construção de paredes, divisórias, pisos, lajes, móveis e forros são feitas com pequenas partículas de madeira unidas por um adesivo sintético à base de formaldeído, um gás extremamente tóxico. Existem estudos dizendo que o formaldeído pode causar alergias de pele e respiratórias, dores de cabeça e até mesmo o desenvolvimento de alguns cânceres, como leucemias e câncer de nasofaringe. Tendo isso em mente, Bárbara iniciou sua pesquisa em busca de painéis com menos risco à saúde e mais sustentáveis.
A torta da mamona utilizada no estudo é o subproduto do processo de extração de óleo de mamona, uma planta que se desenvolve em diversas regiões do Brasil, mas principalmente na Bahia e no Ceará. Com esses resíduos, Bárbara conseguiu compreender o potencial da utilização da celulose microfibilada desta torta de mamona em substituição ao adesivo na produção de painéis OSB (Oriented Strand Board).
O outro âmbito da pesquisa trata do bambu, uma nova alternativa de matéria-prima para a indústria de painéis em vez de madeira de reflorestamento. O bambu é uma planta muito semelhante à madeira, tem um rápido crescimento, baixo custo e alto rendimento. A Ufla foi a responsável pela produção e análise do material de Bambu utilizado no estudo.
A pesquisa tem o apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico e do CNPQ, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. É orientada pelo Dr. Francisco Murilo Tavares de Luna e pela Dra. Solange Assunção Quintella, da UFC e os professores Dr. Lourival Marin Mendes, Dr. José Benedito Guimarães Junior e o Dr. Gustavo Henrique Denzin Tonoli, da Ufla.
METODOLOGIA
Para reduzir a emissão de formaldeído, se utilizou o resíduo da extração de óleo de mamona, de origem vegetal. Este, foi transformado em nano estruturas de celulose que podem ser introduzidos na produção do adesivo e manter as propriedades dos painéis. Não perdendo em qualidade nem propriedades físicas e mecânicas.
Após a substituição com as nanofibrilas de celulose de torta de mamona, os painéis foram prensados em alta temperatura e cortados em partes menores para as análises. Foram feitos 15 tratamentos, variando a concentração entre eles. “Pegamos o padrão usado nas indústrias e fomos reduzindo essa quantidade de adesivo em substituição dessas nanopartículas, até chegar ao padrão que as propriedades físicas e mecânicas começam a diminuir”, explica a pesquisadora. Observou-se que até 2% de redução do adesivo por nanopartículas, não há ganho, mas também não há perda das propriedades físicas e mecânicas. O ganho é em termos ecológicos e econômicos, porque dentro do processo de produção, o adesivo representa 50% do custo total de produção dos painéis. Normalmente se utilizam cerca de 8 a 10% de adesivo, com a pesquisa, foi possível reduzir até 2% dessa quantidade de adesivo.
Além disso, se construiu a hipótese de produzir um painel com matéria-prima diferente do pinus ou eucalipto. Então, foi usado penas o bambu, de forma a atingir as normativas mínimas de comercialização. Comparado com a madeira de reflorestamento, o bambu tem um alto crescimento, chega a crescer 20 cm por dia e tem uma capacidade de rebrota muito alta.
“Buscamos produzir um painel com uma diferenciação de matéria-prima na sua estrutura e nós procuramos também obter um adesivo vegetal, que emitisse pouco ou quase nenhuma emissão de formaldeído” explica Bárbara.
RECONHECIMENTO
Bárbara Guimarães, relata que ficou muito feliz após receber o prêmio “A gente fica contente em relação ao nosso reconhecimento por meio da premiação. Mas o mais importante, além do desenvolvimento do nosso trabalho, é mostrar essa vertente do campo feminino dentro da pesquisa”, conta a agrônoma.
Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas dizem que um em cada três pesquisadores são mulheres, demonstrando a forte desigualdade de gênero na área da ciência. Bárbara é a prova de que as mulheres estão buscando mais espaço nesse campo e que ele não é restrito ao público masculino. “A mulher é capaz de produzir ciência, e ela produz ciência de qualidade, independendo se é da área da agronomia, da engenharia, da matemática, etc.” declara Bárbara.
Com a premiação no programa, o trabalho conseguiu uma boa visibilidade, porém, o projeto está em busca de parcerias para viabilizar uma produção em larga escala desse painel menos tóxico, de caráter biodegradável e renovável. É preciso que empresas “comprem” essa nova ideia e entendam o potencial desse produto no mercado, com menor custo e menos emissão de formaldeído. A pesquisadora completa: “a gente espera conseguir uma empresa ou instituição parceira que torne nosso projeto realidade, porque queremos que nossa pesquisa morra na universidade. ”
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