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INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

Gestão de resíduos aliada à Engenharia já é realidade em Porto Alegre


De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil produz 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Embora 92% desse total seja coletado, apenas 2,1% dos resíduos são reciclados, percentual estagnado há três anos segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).

 

Os dados ficam ainda mais alarmantes ao analisar o contexto mundial. O Brasil é o quarto país que mais produz lixo, apenas atrás de Estados Unidos, China e Índia. Porém, a marca de reciclagem está muito abaixo da média mundial de reciclagem, situada em 9%.

 

Por conta disso, foi aprovada em 2010 a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010). Através da PNRS, as empresas devem buscar a redução na geração de resíduos, o aumento da reciclagem e da reutilização e a destinação ambientalmente adequada.

 

É justamente nesse contexto que surgiu a Trashin, empresa gaúcha de gestão de resíduos e economia circular - proposta intitulada gestão de resíduos 360º. Fundada em 2018 na capital gaúcha, a Trashin lida diretamente com empresas de diversos tamanhos, operando com a geração e gestão dos resíduos de ponta a ponta.



Os passos do processo

 

Um dos diferenciais da empresa é a abordagem inicial com os geradores, que podem ser desde moradores de um condomínio ou alunos de uma escola, até funcionários de uma empresa ou indústria. A Trashin fornece toda a parte de educação e de estruturação para que se tenha o armazenamento e o descarte correto.

 

O segundo passo é a coleta e destinação. Ou seja, a parte operacional do processo. Aqui, há a presença do transporte dos resíduos, coletados a partir das estruturas montadas e separados com a conscientização previamente conferida. A logística conta com pontos de coleta e de descarte, criando linhas de transporte entre os locais.

Para finalizar, há a comunicação desses processos. “Temos nosso sistema que faz toda a rastreabilidade, desde a coleta até à destinação, e comunica depois, através de relatórios e learning pages, tudo o que está acontecendo. Temos dados sobre geração de renda, para onde foi descartado, qual o volume de cada material, tipo de material, preço de comercialização e demais informações que são importantes para a indústria de reciclagem”, explicou Sérgio Finger, CEO da Trashin.



O surgimento da empresa e a Engenharia

 

A Trashin hoje opera em larga escala, mas esse nem sempre foi o plano. “A gente surgiu de uma agência de publicidade porque tínhamos a intenção de cuidar dos dados. Quando vimos que seria necessário cuidar de toda a operação, tivemos que fortalecer o quadro técnico”, comentou Finger. Os quatro sócios da empresa perceberam a carência do mercado em relação à reciclagem e expandiram seu negócio.

Ao iniciarem os trabalhos no “campo”, crescendo seu método operacional com a adição da coleta e logística da gestão de resíduos, os membros nunca deixaram de abordar temas como usabilidade, experiência do usuário e afins. “Por estarmos na ponta, com o gerador, é muito mais fácil entender os motivos e modos de descarte do que a própria empresa, então levamos esse conhecimento para eles e construímos em conjunto. A gente busca entender: por que o cara descarta a Havaianas? O cachorro mordeu? Já estava com um prego embaixo da tira?”, brinca o CEO.

Ao adicionar novas atividades operacionais, os membros da empresa decidiram ir atrás de profissionais da Engenharia. Foram contratados Engenheiros de Produção, visando aumentar a produtividade na parte de triagem e de coleta; Engenheiros Químicos que auxiliam a entender os materiais, assim como Engenheiros de Plástico.

 

“Acredito que tenham quase todos os Engenheiros dentro da Trashin, pois trata-se do nosso quadro técnico tanto para educação, em que passamos conhecimento ao gerador, de maneira simplificada e com embasamento técnico, quanto para a parte de operação, que há grande envolvimento na questão de transformação de materiais”, de acordo com Sérgio Finger. O CEO confirma ainda a participação das modalidades Civil, Metalúrgica e Ambiental nas atividades da Trashin.

 

Os Engenheiros auxiliam também na parte de comercialização, oferecendo embasamento técnico no atendimento ao cliente.



Os processos na construção civil

 

Aqui, entra a principal inovação proposta pela empresa. Estima-se que os resíduos de construção e demolição representam de 40 a 60% do resíduo sólido urbano gerado. O pior: na grande maioria, os entulhos são lançados em bota-fora clandestinos, nas margens de rios e córregos, em terrenos baldios, nas encostas, em passeios e outras áreas públicas e em espaços protegidos por lei. As consequências são impactos ambientais tais como o assoreamento e entupimento de cursos d’água, associados às constantes enchentes, além de promover o desenvolvimento de vetores nocivos à saúde pública.

 

Em Porto Alegre, cerca de 55% dos resíduos urbanos são RCDs e o principal problema é a má segregação da fonte geradora. “Em um campo de obra, precisamos fazer a separação da madeira, do gesso, da caliça e do metal para que se consiga comercializar melhor ou reduzir o custo de destinação desse material. Se houver algum material que precisa ser levado para um aterro, não faz sentido o metal ou plástico irem juntos, por exemplo, pois esse material eu posso comercializar”, destacou Finger.

 

Para facilitar a ação em campos de obras, a Trashin realiza o processo de estruturação, com a instalação de caçambas, lixeiras, bags e outros. Depois, há a reutilização deste material, seja por reciclagem ou ressignificação. Um desses processos se destaca, de acordo com o CEO: “Temos casos de resíduos de caliça que são triturados e retornam para a obra como brita. Dependendo do caso, levamos o serviço para dentro da obra, reduzindo os custos de logística e transporte”.



A logística reversa

 

É importante ressaltar que boa parte dos processos citados não tratam apenas da gestão de resíduos, mas também da logística reversa. A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabeleceu às empresas a implantação de uma responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida do produto.

 

Dessa forma, órgãos públicos e empresas privadas devem promover ações de redução no volume de resíduos sólidos e rejeitos, diminuindo também os impactos à saúde humana e ao meio ambiente. Assim, a Trashin surge como operadora dessas ações de redução de danos.

 

“Temos ajudado fabricantes a conseguir recolher esses resíduos pós-consumo, comunicar seus consumidores da importância dessa destinação correta e fazer a operação de coleta e gestão do resíduo. Além de repassar esses indicadores para a indústria, porque hoje muitas empresas fazem ações, mas não sabem o retorno e qual seu impacto real na ponta com as cooperativas”, destaca Finger.

 

Há um longo caminho a ser trilhado, mas a Engenharia, mais uma vez, mostra-se uma forte aliada do avanço. Mais do que isso, o avanço mostra-se um grande aliado da Engenharia, seja no chão de fábrica, no canteiro de obras ou dentro de um escritório.

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