Pincel estabilizador auxilia população com Parkinson na hora de se maquiar
A maquiagem faz parte do dia a dia de grande parte da população brasileira. Recentemente, a oferta de produtos destinados a contemplar todos os tipos de peles aumentou e sanou uma lacuna gigantesca que havia no mercado. Após o lançamento destes produtos, as buscas por cosméticos para pele preta aumentaram 60% em 2020 (dados do Think With Google), comprovando esta necessidade.
Porém, não tem porque parar por aí. Buscando preencher outros vácuos de mercado, as estudantes de Engenharia Química da PUCRS Ana Carolina Corso Minotto, Myriam Bernaud Maghous e Marina Vicente Wizer criaram um produto inovador.
O trio, intitulado Tech Girls, desenvolveu um pincel de maquiagem com uma tecnologia de estabilização, destinado primariamente para a população com doença de Parkinson e Tremores Essenciais. O dispositivo é capaz de detectar e neutralizar tremores das mãos e faz parte da competição L’Oreal Brandstorm 2022, na qual o trio sagrou-se campeão brasileiro.
“Tínhamos que escolher entre sustentabilidade, inclusão ou tecnologia. Primeiro apenas fomos jogando várias ideias e depois selecionamos quais seriam mais adequadas, viáveis e a ver conosco. Decidimos por inclusão, mas não queríamos algo que já fosse visado”, explica Marina Wizer, graduanda de Engenharia Química.
Foi através de uma série de pesquisas que as estudantes chegaram ao vídeo de uma mulher com Parkinson se maquiando com dificuldades. Ao seguir com as pesquisas, foi possível encontrar a tecnologia do estabilizador, utilizado em garfos, facas e colheres.
“Essa tecnologia já é usada com cabeças intercambiáveis, então pode ser utilizado com colher, garfo, faca, entre outros. Adaptamos para que, em vez de talheres, passasse a ser usado em pincéis de maquiagem, seja ele de blush, de sombra ou batom”, destaca Marina.
O projeto conta ainda com a instalação de um chip, responsável por monitorar a situação dos tremores dos portadores, oferecendo um maior controle dos quadros. O chip envia as informações para um aplicativo, que pode ser utilizado por smartphone ou computador. “A junção do aplicativo ao produto proporciona uma experiência completa para a pessoa portadora destas doenças. Seria possível acompanhar a evolução do tratamento, e o próprio pincel poderia se atualizar conforme o quadro”, afirma Ana Carolina Minotto, membro do Tech Girls.
Apesar de terem vencido a etapa nacional, ainda não foi possível construir o protótipo. O trio representou o Brasil na etapa continental, mas não avançou para a final internacional, sendo que apenas os vencedores recebem verba para desenvolver seu projeto.
“Fizemos uma projeção de mercado, levando em conta a população que tem Parkinson no mundo e estimamos a quantidade de mulheres, através de artigos e dados encontrados na pesquisa. Com isso, cruzamos os dados da população que é classe média alta e alta, pois, inicialmente, seria uma tecnologia cara”, destacou Ana, completando ainda sobre os planos do projeto: “A ideia é que no futuro pudéssemos democratizar este produto. Mas a projeção inicial é direcionada para um público que tenha maior valor aquisitivo”.
E AGORA?
O trio não pretende parar por aqui. Ao analisar demais doenças debilitantes do movimento das mãos, como artrite e artrose, o grupo planeja trabalhar com a possibilidade de adaptar esta tecnologia para demais situações de dificuldade motora.
Outra possibilidade seria criar uma linha com estabilizadores destinada a maquiadores profissionais, utilizando a mesma ideia e tecnologia. A proposta permite que o alto custo seja mantido, uma vez que, se trata de um produto profissional.
“Há a necessidade de precisão para delineador, por exemplo, pois normalmente já há esta dificuldade. É comum as pessoas nem se arriscarem com esse estilo de maquiagem por falta da precisão necessária”, relata Ana.
Por conta da participação na L’oreal Brandstorm, o trio viajou até o Rio de Janeiro, onde foi possível fazer um bom networking, além de levar o título nacional, claro.
“Adquiriu uma proporção muito grande”, de acordo com Ana Carolina Corso, que ainda brinca acerca da admiração dos professores com as três estudantes. “Já recebemos ideias de que mesmo que a gente não passe da etapa continental, devemos tentar desenvolver este produto, colocar em uma incubadora ou startup da área. Realmente é um produto necessário que iria ajudar muitas pessoas e que possui um grande mercado a ser explorado”, conclui.