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O Reconhecimento do Agroturismo como Área de Atuação e Atribuição Profissional dos Engenheiros Agrônomos: Avanços e Perspectivas

RESUMO

O reconhecimento do agroturismo como área de atuação e atribuição profissional dos Engenheiros Agrônomos pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio Grande do Sul (CREA-RS), aprovado em 2025 pela Câmara Especializada de Agronomia (Ceagro-RS), constitui um marco histórico para a valorização da profissão e o fortalecimento do desenvolvimento rural sustentável. Por meio da revisão bibliográfica, o estudo examina o papel estratégico da Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul (Sargs) nesse processo, abordando as implicações técnicas, sociais e profissionais da medida. O artigo aprofunda a análise sobre a integração das diferentes cadeias produtivas - do agronegócio ao turismo - evidenciando a relevância da atuação do Engenheiro Agrônomo na gestão, planejamento e inovação desses empreendimentos. Conclui-se que o reconhecimento amplia significativamente o campo de atuação da Agronomia, fortalece a conexão entre produção agropecuária, agroindústria e turismo, e consolida a contribuição desses profissionais para experiências turísticas inovadoras, sustentáveis e inclusivas.

 

Palavras-chave: agroturismo, turismo rural, responsabilidade técnica, agronomia.

INTRODUÇÃO

O turismo rural tem se consolidado, nas últimas décadas, como alternativa relevante para a diversificação econômica do espaço agrário brasileiro, promovendo a valorização da produção agropecuária e agroindustrial, a conservação ambiental e a preservação cultural dos territórios. Após a pandemia da Covid-19, esse segmento ganhou ainda mais relevância, em virtude da crescente busca por destinos com menor aglomeração de pessoas e maior contato com a natureza.

Pioneiramente no Rio Grande do Sul, há mais de 30 anos, a vitivinicultura associada ao enoturismo inaugurou, na Serra Gaúcha, uma trajetória de integração entre turismo e produção rural. Mais recentemente, o avanço da cultura vitivinícola também se destaca na Campanha Gaúcha, consolidando a região como novo polo de enoturismo. Atividades como a olivicultura, com a produção de azeite de oliva, fomentam o oliviturismo; o cultivo da noz-pecã integrado à ovinocultura; e o cultivo de lúpulo, para produção de cervejas artesanais, exemplificam a expansão do agroturismo em diferentes regiões do Estado.

A piscicultura, vinculada ao modelo “pesque e pague”, abriu as porteiras das propriedades rurais para a recepção de visitantes e oferta de experiências inovadoras. Diversas iniciativas da agricultura familiar, como a produção orgânica de hortifrutigranjeiros, têm explorado ações como “colha e pague”, especialmente voltado ao turismo pedagógico, permitindo às crianças compreender a origem dos alimentos e aproximando o público urbano do meio rural.

O Reconhecimento do Agroturismo como Área de Atuação e Atribuição Profissional dos Engenheiros Agrônomos: Avanços e Perspectivas

Nas regiões produtoras de erva-mate, o agroturismo vem sendo impulsionado pela recepção de visitantes, que aprendem sobre manejo e beneficiamento da planta, resgatando a história indígena local e reforçando o chimarrão como símbolo da identidade gaúcha e da socialização. Outro destaque são as propriedades dedicadas à pecuária leiteira, que recebem turistas interessados em conhecer o processo produtivo: desde a alimentação, conforto animal e manejo das vacas até a ordenha, qualidade do leite e fabricação de derivados lácteos, como queijos, manteigas, iogurtes e doces.

A fruticultura nas regiões Sul e nos Campos de Cima da Serra, com destaque para a produção de pêssego, maçã, pera, morango, pitaia, kiwi, uva, citros, entre outras, também se insere nesse cenário, evidenciando inovações tecnológicas do setor, tanto pela venda de frutas in natura quanto pela transformação em compotas, geleias e outros produtos, inclusive pelas agroindústrias familiares.

As plantas medicinais ressurgem como atrativo por meio do resgate de saberes tradicionais, agora confirmados pela ciência em suas propriedades fitoterápicas. Aliam-se a esse segmento o cultivo de suculentas, cactáceas, a floricultura e plantas para extração de óleos essenciais, valorizadas no paisagismo e no bem-estar. Algumas instituições de ensino, a exemplo do curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) têm realizado projetos de extensão rural, como “Flores para Todos”, que fomenta a produção ornamental nas propriedades rurais, contribuindo com o desenvolvimento do agroturismo como empreendimento agregador de renda para as famílias.

Na apicultura, o turismo tem se destacado principalmente com a criação de abelhas sem ferrão, permitindo interação segura entre visitantes e colmeias, ampliando o conhecimento sobre a organização social desses insetos e seu papel crucial na polinização de plantas, além de oferecer a oportunidade de degustar e adquirir produtos derivados do mel.

No âmbito ambiental, especialmente em regiões impactadas por cheias, como o Vale do Taquari, o uso de espécies vegetais, como o capim Vetiver, tem se destacado na contenção de encostas, taludes, proteção de margens de cursos d’água e fitorremediação. Essas plantas formam barreiras naturais que reduzem a velocidade do escoamento superficial, favorecem a infiltração da água no solo e retêm sedimentos, prevenindo o assoreamento dos rios. Tais práticas têm despertado o interesse de visitantes e grupos que buscam conhecer iniciativas capazes de mitigar os efeitos climáticos, especialmente durante períodos de alta precipitação.

O Reconhecimento do Agroturismo como Área de Atuação e Atribuição Profissional dos Engenheiros Agrônomos: Avanços e Perspectivas
O Reconhecimento do Agroturismo como Área de Atuação e Atribuiç�ão Profissional dos Engenheiros Agrônomos: Avanços e Perspectivas

No Pampa Gaúcho, as lidas campeiras, profundamente vinculadas à cultura regional e à produção de carne — especialmente de bovinos, bubalinos e ovinos — em campos nativos, têm atraído visitantes interessados em vivenciar essas práticas. A experiência inclui cavalgadas, com destaque para a raça de cavalos crioula, tradicional da região.

Os biomas Mata Atlântica e Pampa têm despertado grande interesse de visitantes pela flora nativa e fauna silvestre, ganhando destaque a observação de animais, em especial de aves. Um outro segmento em ascensão é o micoturismo, que envolve o turismo relacionado à produção de cogumelos e a exploração de trilhas voltadas à observação e registro de diferentes espécies de fungos em seus ambientes naturais, como nas unidades de conservação ambiental, ampliando as possibilidades de experiências educativas e de contato com a biodiversidade local.

Praticamente todos os municípios do Estado promovem festas típicas com base nas culturas agropecuárias locais, valorizando elementos tradicionais, culturais e gastronômicos, o que tem atraído um número crescente de visitantes.

 

O agroturismo configura-se principalmente como modalidade do turismo rural, mas também começa a ganhar relevância nas zonas urbanas dos municípios, com novos empreendimentos como hortas e jardins, sistemas hidropônicos e pequenas agroindústrias, estabelecidas em locais de fácil acesso para visitantes. Nesse contexto, o agroturismo, ao integrar atividades agropecuárias e agroindustriais à experiência turística, oferecendo vivências educativas, culturais, gastronômicas, ambientais, contemplativas e serviços de pousadas rurais contribuem para tornar o Rio Grande do Sul uma referência no setor. Para garantir a sustentabilidade dessas iniciativas, torna-se essencial a atuação de profissionais qualificados, capazes de articular conhecimentos técnicos, econômicos, sociais e ambientais.

No ano de 2025, o CREA-RS aprovou, no âmbito da Ceagro-RS, o reconhecimento formal do agroturismo como área de atuação e atribuição profissional legítima dos Engenheiros Agrônomos, permitindo a emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) para essa atividade. Ressalta-se que, mesmo antes dessa decisão, a legislação já atribuía à categoria a responsabilidade técnica pelo planejamento e gestão territorial de roteiros e trilhas turísticas, além de projetos integrados ao meio rural, conforme art. 5º da Resolução nº 218/1973 do Confea e Decreto Federal nº 23.196/1933.

Dessa forma, este artigo analisa os avanços e perspectivas decorrentes dessa conquista junto ao Conselho Profissional, destacando o papel da Sargs, as contribuições técnicas do Engenheiro Agrônomo e os impactos esperados para o fortalecimento do agroturismo no Brasil.

O PAPEL DA SARGS NA AMPLIAÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS

 

O reconhecimento do agroturismo como área de atuação e atribuição profissional da Agronomia é fruto de uma articulação institucional conduzida pela Sociedade de Agronomia do Rio Grande do Sul (Sargs). O processo vinha sendo trabalhado em alguns eventos, entre eles, Um Dia de Campo com a temática “Floricultura e Agroturismo”, realizado em parceria com a Associação dos Engenheiros Agrônomos de Alegrete (AEAA), Curso de Agronomia da UFSM, Emater e Prefeitura de Alegrete, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), ganhando maior visibilidade durante o XXXIII Congresso Brasileiro de Agronomia (CBA 2023), realizado em Pelotas (RS), promovido pela entidade em parceria com a Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab). Na ocasião, o tema foi amplamente debatido pela classe agronômica nacional como forma de ampliar as oportunidades de atuação da categoria, sendo destacado como prioridade na Carta de Pelotas, do CBA 2023, conforme segue: “Item 12. Apoiar o empreendedorismo na Agronomia e novos mercados de trabalho aos Engenheiros Agrônomos”.

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Desde então, a Sargs, por meio de sua diretoria, liderou a mobilização junto ao Sistema Confea/Crea e Mútua, defendendo a atualização dos campos de atuação da Agronomia em consonância com a formação holística e a capacidade técnica dos Engenheiros Agrônomos.

A Sociedade de Agronomia em parceria com sua filiada, a Associação de Engenheiros Agrônomos do Vale do Taquari (Aseat), estruturou a organização do primeiro Congresso Gaúcho Agroturismo do Estado. Atualmente a Sargs, entidade com status de federação representando mais de 20 associações regionais e aproximadamente 25 mil profissionais no Estado, tem se consolidado como protagonista na integração entre agronomia, inovação e sustentabilidade aplicadas ao agroturismo.

O avanço no CREA-RS tende a servir como referência para outros Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia em todo o Brasil, estimulando a expansão do reconhecimento em nível nacional e fortalecendo a conexão entre agropecuária, agroindústria, turismo e sustentabilidade.

CONTRIBUIÇÕES DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO AO AGROTURISMO

 

É importante destacar o município de Santa Rosa de Lima, em Santa Catarina, como berço do Agroturismo no Brasil. Em 1999, a cidade fundou a primeira Associação de Agroturismo que, devido ao sucesso, se expandiu rapidamente para diversas regiões vizinhas da Serra catarinense. O projeto foi idealizado pela Engenheira Agrônoma Thaise Costa Guzatti, que, em 1997, realizou um estágio na França na entidade Accueil Paysan (Acolhida na Colônia), onde conheceu o turismo rural praticado em um pequeno vilarejo do Maciço de Chartreuse, em Isère. Percebendo que o turismo rural brasileiro era diferente do que havia vivenciado na França, Thaise decidiu criar um termo próprio para diferenciá-lo. Assim nasceu o conceito de Agroturismo, no qual o produtor rural compartilha com os visitantes a rotina e as atividades do dia a dia na fazenda.

A atuação do Engenheiro Agrônomo é determinante para o êxito de empreendimentos agroturísticos, abrangendo desde o planejamento produtivo até a mediação com os visitantes que buscam conhecer locais onde os sistemas produtivos aplicam boas práticas, atendem as legislações e respeitam o meio ambiente. Entre as principais frentes, destacam-se:

 

Planejamento e gestão agropecuária: definição de sistemas produtivos, manejo de solo e água, uso eficiente de insumos, melhoramento genético e bem-estar animal;

 

Sustentabilidade e qualidade: práticas conservacionistas, preservação ambiental, valorização da biodiversidade, controle biológico de pragas e certificação de produtos;

 

Gestão de riscos: planos de biossegurança, segurança alimentar e mitigação de impactos ambientais;

 

Inovação tecnológica: agricultura de precisão, irrigação automatizada, use de hidroponia, drones e ferramentas digitais;

 

Educação e interação com turistas: atividades pedagógicas que aproximam campo e cidade;

 

Agroindústria: transformação da produção primária em bens, alimentos e bebidas, agregando valor;

 

Assessoria técnica: suporte à diversificação produtiva e à gestão integrada das propriedades;

 

Além disso, o trabalho dos Engenheiros Agrônomos e o fomento ao setor proporcionam o desenvolvimento econômico, possibilitando o contato direto dos turistas com as práticas agrícolas, promovendo a conscientização sobre a importância da agricultura para a humanidade e desmitificando paradigmas negativos sobre o setor. Ao mesmo tempo, contribui para a valorização do trabalho feminino, responsável por grande parte das atividades relacionadas ao agroturismo nas propriedades, e ainda gera renda, estimula a permanência de jovens no campo, apoia a sucessão nos negócios familiares, combate o êxodo rural, qualifica a experiência turística, mitiga impactos ambientais e fortalece o desenvolvimento regional.

CONTRIBUIÇÕES DO ENGENHEIRO AGRÔNOMO AO AGROTURISMO

O reconhecimento do agroturismo como atribuição da Agronomia representa marco histórico para a valorização profissional e para o fortalecimento de uma agricultura multifuncional no Brasil. Ao unir ciência, técnica e inovação, os Engenheiros Agrônomos contribuem não apenas para a eficiência produtiva, mas também para a construção de experiências turísticas sustentáveis, inclusivas e integradas ao território.

Este trabalho também reforça a importância de ampliar o debate científico e profissional sobre o agroturismo, demonstrando que ele expande as fronteiras da Agronomia e consolida sua vocação interdisciplinar, promovendo o equilíbrio entre produção agropecuária, agroindústria, conservação ambiental e desenvolvimento regional.

Dessa forma, CREA-RS e Sargs reafirmam o compromisso com a ética, a inovação e a valorização da profissão, consolidando a Agronomia como protagonista na integração entre as cadeias produtivas do agronegócio, sustentabilidade e turismo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

AlegreteTudo. Dia de Campo sobre Floricultura e Agroturismo em Alegrete. Disponível em <https://www.alegretetudo.com.br/dia-de-campo-sobre-floricultura-e-agroturismo-no-passo-novo-sera-nesta-quarta-feira/#goog_rewarded>. >. Acesso em: 14 ago. 2025.

 

BRASIL. Decreto nº 23.196, de 12 de outubro de 1933. Regula o exercício da profissão de engenheiro, arquiteto e agrimensor. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d23196.htm>. Acesso em: 15 ago. 2025.

 

CBA 2023. XXXIII Congresso Brasileiro de Agronomia. Carta de Pelotas, Pelotas-RS.

 

CONFEA. Resolução nº 218, de 29 de junho de 1973. Discrimina atividades das diferentes modalidades profissionais da Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Disponível em: <https://www.legisweb.com.br/legislacao/?legislacao=95475>. Acesso em: 15 ago. 2025.

 

GUZZATI, Thaise Costa. Acolhida na Colônia: um espaço de vida e encontros ... / Criciúma, SC: UNESC, 2019.

 

UFSM. Projeto Flores para todos chega pela primeira vez à fronteira oeste do RS. Disponível em <https://www.ufsm.br/2023/02/07/projeto-flores-para-todos-chega-pela-primeira-vez-a-fronteira-oeste-do-rs> Acesso em: 18 ago. 2025.

 

SOCIEDADE DE AGRONOMIA DO RIO GRANDE DO SUL. SARGS e CREA-RS na defesa das atribuições dos engenheiros agrônomos nas agroindústrias, em Alegrete-RS. Disponível em: <https://www.instagram.com/p/DJDHi0kp1vK/> Acesso em: 21 ago. 2025.

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