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Denis Jardim Villarinho - Prof. Dr. M.Sc. Eng. Mec. Conselheiro da Câmara Especializada em Eng. Mecânica E Metalúrgica do CREA-RS. 

Lauren Neumann Villarinho - Cirurgia Dentista e Estomatologista

Titânio Material Metálico Bioinerte para Implantes

Introdução

O titânio ainda é considerado o melhor material metálico para implantes devido a sua bioatividade. É bioinerte, ou seja, de bioatividade nula (Hench et al, 1993). Sua biocompatibilidade é comprovada, pois o tecido envoltório fibroso na superfície do implante é mínimo e quase imperceptível. A aplicação de um material exige conhecimento de suas normas, e o titânio comercialmente puro e o ligado seguem as normas Ticp (ASTM F67); Titânio Ti6Al4V (ASTM F 136). Neste artigo o foco é o titânio utilizado em implantes para órteses e próteses aplicado na recuperação de traumas ósseos. O objetivo geral é mostrar as principais características desses materiais visando a fabricação de produtos.

Revisão Bibliográfica

A fisio patogênese constitui viés biológico fundamental para o projeto de um implante.

Trauma ósseo

A resposta do corpo aos implantes varia largamente de acordo com o local de acolhimento, as espécies de implantes, o grau de trauma imposto durante a implantação e todas as variáveis associadas com o normal processo de cicatrização (Park J.; Lakes et al, 2011). O implante de um material metálico acarreta, obrigatoriamente, na lesão do tecido ósseo. Como consequência será ativada uma resposta inflamatória inata que tem por finalidade remover os resquícios de células necróticas e de matriz extracelular alterada. Essa tarefa é realizada inicialmente por neutrófilos que logo são substituídos pelos macrófagos (seu trabalho é a fagocitose) e por uma de suas subpopulações especializadas: os osteoclastos. Uma vez complementada essa ação de limpeza, existem duas possibilidades:  a primeira, que ocorre na maioria das vezes, forma um tecido de granulação composto por vasos neoformados que dão apoio à proliferação dos fibroblastos com produção de colágeno. Essa reação, conhecida como reparação, leva à formação de uma cicatriz fibrosa que circunda a prótese. A segunda, que seria a resposta ideal, corresponde ao processo conhecido como regeneração. Nesse processo, ocorre a proliferação dos osteoblastos com formação de novo tecido ósseo, que  circunda  a prótese. Um material bioativo (tal como o titânio) estimularia essa segunda resposta. (Viney K et al, 2010).

Na recuperação de traumas ósseos, as principais células que participam ativamente na interface osso-metal são:  fibroblastos, responsáveis pela deposição de tecido conjuntivo (reparação), osteoblastos, que sintetizam matriz óssea, osteoclastos, que reabsorvem e remodelam a matriz óssea, macrófagos,  que fagocitam resquícios de fratura e células necróticas da lesão, linfócitos, que são responsáveis pela defesa do organismo, e eritrócitos (glóbulos vermelhos), responsáveis pelo aporte de oxigênio e retirada de gás carbônico.

Titânio Material Metálico Bioinerte para Implantes

Ossos

Fornecem estrutura aos demais tecidos do corpo, constituem o mais duro de todos os tecidos conjuntivos. O osso é formado de 1/3 de fibras colágenas e 2/3 de sais minerais primariamente cristais de hidroxiapatita de cálcio.

Os ossos a serem tratados no corpo humano são: osso cortical (mais duros e resistentes) e os ossos trabeculares (esponjosos).

Algumas propriedades dos ossos:

Osso cortical longitudinal E= 17.7 GPa, σt= 13,0 MPa.

Osso cortical transversal E=12,8 GPa, σt= 52,0 (90 -140 podendo alcançar conforme Minagar, 2012).

Osso trabecular E=0,4 GPa, σt=7,4 MPa. (Villarinho, D.J.; 2013)

Trazendo o texto para a mecânica, são ossos de diferentes propriedades, tais como módulo de Young, tensão de escoamento, tensão de tração, torção, cisalhamento, dureza, que devem ser considerados e comparados com as propriedades do metal, na fabricação do implante. As propriedades mecânicas bem aplicadas irão conferir qualidade biomecânica ao implante. O sucesso de um implante implica que ele não deve se degradar nem afrouxar na aplicação para reabilitação do membro afetado. As superfícies metálicas tratadas irão proporcionar boa adesividade celular. As células na superfície do implante precisam encontrar ambiente propício ao seu espraiamento e fixação, caso contrário entram em apoptose (morte programada da célula). As primeiras órteses e próteses eram projetadas para uma vida útil de até 15 anos. Com o resultado das análises nas primeiras próteses, os pesquisadores observaram que atenção especial deve ser dada à fadiga do material metálico, por isso, hoje em dia, essas órteses e próteses são projetadas para 30 anos ou mais. Isso também exigiu pesquisas de novas famílias de ligas.

Quanto às superfícies para dar maiores condições às células se aderirem, são intensamente estudadas as superfícies em nanotubos ou em nanoporos. As pesquisas mostraram que nessas características as células podem se espraiar, “caminhar” sobre o implante e se fixar nos tubos ou poros através de seus lamelipodios (extensões da célula sadia que provocam o movimento “ameboide” movimento de ameba sobre as superfícies).

Titânio

Titânio: ponto de fusão 1668ºC, massa específica do metal puro 4,5 g/cm3. Coeficiente de Poisson 0,34. Há ligas de titânio que podem apresentar a temperatura ambiente até 1400 MPa em resistência à tração. (Callister Jr.)

O titânio, a partir dos anos 1950, tem sido largamente produzido e aplicado devido as suas propriedades. Comparado ao aço é quase 50% mais leve, baixa rigidez, excelente resistência à corrosão, alta resistência mecânica e apresenta ligas tratáveis e não-tratáveis termicamente. Excelente biocompatibilidade na medicina e na odontologia. A partir dos anos 1960, Brannemark popularizou o titânio cp grau 2 e grau 4 (comercialmente puro), com os implantes dentários e, na mesma época, a liga Ti6Al4V começou a ser utilizada com frequência nas próteses de fêmur, (THA Total Hip Arthroplasty) e em outras próteses e órteses na ortopedia e traumatologia.

Segundo Okasaki, 1995, novas ligas de titânio foram desenvolvidas após verificação de efeito tóxico do alumínio e do vanádio no corpo humano. Atualmente as pesquisas se concentram nas ligas com menor módulo de elasticidade, mais próximos ao módulo de elasticidade dos ossos.

|Minerais do titânio:  rutilo, anatase, ilmenita, leucoxênio, perovskita, esfeno e titanita. (Cetem.gov.br).

O titânio é material reativo com a água e oxigênio formando uma fina camada de óxido na superfície. Um dos tratamentos de superfície é aumentar a camada de óxido através da anodização. A anodização é um método eletroquímico capaz de produzir filmes com diferentes propriedades sobre a superfície dos materiais. (Zhu 2001, 2004, Sul 2001).

Os óxidos TiO2, TiO e Ti2O3, em análise da superfície de titânio Sul et al verificaram que o óxido nativo, camada passivada, tem estrutura cristalina amorfa.  O TiO2 apresenta três diferentes formas cristalográficas. O rutilo e a anatase com estrutura tetragonal e a broquita de estrutura ortorrômbica (Sul et al 2001). Fases alotrópicas do titânio; α , β ,  quase α, α + β.

Acima de 883ºC (β) o titânio tem estrutura cristalina CCC cúbica de corpo centrado e abaixo dessa temperatura HC hexagonal compacto. (α).

 

Tabela de Titânio e suas ligas

Tabela 1: Propriedades Mecânicas de Titânio e suas Ligas.

Fonte: Minagar et al – Acta Biomaterialia e Callister Jr. | * Ligas acrescentadas na tabela para comparação.   

ELI – Extra Low Intersticials. Baixos teores de elementos intersticiais.

As ligas α+β podem ser tratadas termicamente, assim sua microestrutura e propriedades podem ser controladas.

Dados Fundamentais ao Projeto Mecânico

Através dos dados tabelados e montado o gráfico tensão-deformação.

A importância das propriedades como densidade, ponto de fusão, composição química, tensões de escoamento e tração, modulo de Young, elongamento, coeficiente de Poisson, são fundamentais para: o cálculo do módulo de resiliência do material, determinar as zonas elástica e plástica, a temperatura de fluência, a zona de trabalho à frio, a zona de trabalho à quente, ductilidade, fragilidade, tenacidade, modulo de cisalhamento, rigidez e zona de recristalização do material.

Conclusão

Conforme mostrado na tabela as ligas de titânio apresentam extraordinárias propriedades, tais como, baixa densidade, baixo módulo de elasticidade, alta resistência mecânica, excelente resistência à corrosão, excelente biocompatibilidade, boa soldabilidade, forjabilidade e usinabilidade. Por isso, aplicações cada vez maiores nas indústrias médico-odontológicas, automotiva e aeronáutica entre outras.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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CALLISTER Jr.W.D.; RETHWISCH D.G.; Ciência e Engenharia de Materiais, 9ª. Ed. LTC Ltda, 2016.

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HENCH, L. L.; WILSON, J. An Introduction to Bioceramics. Singapore: World scientific Publishing, Co., p.1-15, 1993.

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QUINTÃO Cátia Cardoso. Fios ortodônticos Utilizados em Fase Inicial de Tratamento: Propriedades Mecânicas e Desempenho Clínico. Tese (doutorado em ciências) Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Odontologia, 2000.

SCOTT, Russel, M. (Diretor de desenvolvimento de produtos da NDC) Design Consideration for Nitinol Bone Staples. 27.03 2009. Scott@benchmarknitinol.com Journal of. Materials Engineering and Performance, visitado em 03 de novembro de 2009.

SUL. Y.T et al The Electrochemical Oxide Growth Behaviour on Titanium in Acid and Alkaline Electrolytes. Medical Engineering and Physics, 2001.

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VILLARINHO, D. J. Caracterização de uma liga NiTi visando confecção e aplicação como material biomédico em órtese Grampo de Judet. Dissertação de Mestrado, UFRGS, 2011.

VILLARINHO, D. J, Órtese Grampo Tipo Judet em NITI para Tórax Instável, Influência do Tratamento Superficial. Tese de Doutorado. UFRGS, 2013.

VINEY, K.; ABBAS, K.A.; ASTER, J.C.; FAUSTO, N. Robbins & Cotran, Pathologic Basis of Disease, 8 ed., 201

  

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