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Eng. de Minas Eduardo Schimitt da Silva (AGEM)

Eng. de Minas Eduardo Schimitt da Silva (AGEM)

Eng. de Minas Janaina Cerutti Munaretti (AGEM e CEGM CREA-RS)

​Eng. de Minas Janaina Cerutti Munaretti (AGEM e CEGM CREA-RS)

Desassoreamento e dragagem do Guaíba e Delta do Jacuí

Introdução

O assoreamento dos rios tem causas naturais e antrópicas e acarreta uma série de consequências negativas para meio ambiente e sociedade. Entre elas, estão a redução da capacidade de armazenamento de água, o aumento do risco de enchentes, a degradação da qualidade da água, a perda de biodiversidade aquática e prejuízos à navegação e às atividades econômicas. Sua solução exige ações integradas que envolvam a recuperação de áreas degradadas, o uso sustentável dos recursos naturais e a conscientização da população.

Após os eventos climáticos ocorridos recentemente no Rio Grande do Sul, este tema ganhou grande destaque. Muito se fala sobre desassoreamento, dragagem e limpeza de rios e lagos, que pressupõem um acréscimo expressivo de sedimentos depositados. Este artigo apresenta informações, estimativas e valores de investimento necessários, trazendo exemplos práticos para compreender melhor a discussão sobre remoção de sedimentos em recursos hídricos.

O Lago Guaíba em Pauta

O Lago Guaíba, com área aproximada de 496 km², tornou-se símbolo do debate sobre dragagem após as enchentes de 2024. Embora uma dragagem total seja impraticável, intervenções pontuais em canais de escoamento e áreas próximas a captações oferecem caminhos mais viáveis para mitigar impactos hidrológicos.

Desassoreamento e dragagem do Guaíba e Delta do Jacuí

A Produção de Areia no RS

A extração de areia nos rios Jacuí, Caí e Sinos, regulada pela ANM e licenciada pela Fepam, atende à demanda da construção civil no Estado. Em 2023, a produção foi estimada em 8,7 milhões de toneladas, com expectativa de retomada a cerca de 10 milhões t/ano. Considerando densidade média de 1,6 t/m³, isso equivale a 6 a 6,25 milhões de m³/ano, ou aproximadamente 520 mil m³ por mês.

 

 

A Hipótese da Dragagem Total do Guaíba

Se fosse dragado 1 m de sedimentos em toda a área do Lago Guaíba, seria necessário remover 496 milhões de m³. A taxa atual de produção (520 mil m³/mês), a operação levaria 953 meses, ou cerca de 79 anos, se toda a capacidade de extração do Estado fosse dedicada ao lago. Ao custo de R$ 25 por m³, o valor total seria de R$ 12,4 bilhões, comparável a obras de proteção urbana em Porto Alegre, Eldorado do Sul e Guaíba

Do ponto de vista ambiental, os impactos seriam profundos: alteração da fauna bentônica, aumento da turbidez e riscos para a captação de água potável. Além disso, dada a hidrodinâmica do Guaíba - com profundidade média de 1,5 a 1,9 m e alta taxa de deposição - a dragagem integral seria ecologicamente arriscada e pouco eficaz.

Dragagens Estruturantes: Cenários

Cenário 1. Canais de navegação (Leitão, Pedras Brancas, Itapuã, São Gonçalo e Furadinho):

Desde março, cinco dragas operam para remover cerca de 1,6 milhão m³ pelo custo de R$ 68 milhões. Estudos estimam custo total de R$ 547 milhões para remoção de até 15 milhões m³ de sedimentos.

 

Cenário 2. Trechos estratégicos (captações/ponta da Cadeia):

Supondo dragagem de trecho de 1 km de extensão × 100 metros de largura e profundidade adicional de dois metros, o volume de sedimentos a ser removido seria 200 mil m³, e o custo estimado para esta operação ficaria em R$ 40 a R$ 45/m³, com valor de custo total entre R$ 8 a R$ 9 milhões.

 

Impacto e Limitações

Embora eficaz em hidrovias e pequenos cursos urbanos, a dragagem apresenta eficácia limitada na redução de enchentes no Guaíba. Estudos do IPH/UFRGS e do comitê do Plano Rio Grande apontam que o assoreamento generalizado não foi fator decisivo nas cheias recentes. Além disso, reassoreamento rápido e riscos ambientais elevados demandam licenças rigorosas e EIA-RIMA prévio, especialmente considerando as Resoluções e exigências da Fepam.

 

Delta do Jacuí

O Delta do Jacuí, composto por ilhas e canais, foi uma das áreas mais impactadas pelas enchentes de 2024. Em comunidades como Ilha da Pintada e Ilha das Balseiras, sedimentos soterraram casas e isolaram moradores. A região tornou-se prioridade para o “Programa Desassorear RS”, que realiza levantamentos batimétricos para identificar trechos críticos e planejar intervenções emergenciais.

 

 

Balanço do Custo-Benefício

As dragagens pontuais são menos onerosas e mais factíveis que a dragagem integral, com valores entre R$ 8 milhões e R$ 450 milhões, frente aos R$ 12,4 bilhões da hipótese total. Ainda assim, o impacto na mitigação de enchentes é modesto. Especialistas defendem que investimentos em diques, casas de bombas, comportas e drenagem urbana, aliados à recomposição de matas ciliares, geram resultados mais efetivos e duradouros.

Desassoreamento e dragagem do Guaíba e Delta do Jacuí

A tabela acima foi elaborada agrupando informações conhecidas, divulgadas e estimadas para cada alternativa de intervenção. Comparativamente, o custo de dragar 1 m em todo o lago (~496 milhões m³) seria da ordem de R$ 12,4 bilhões, menos eficiente do que ações pontuais estruturadas.

 

Conclusão

A dragagem pontual é útil e financeiramente viável em áreas críticas, mas seu efeito sobre enchentes é limitado e temporário. No Delta do Jacuí, o desassoreamento tem urgência social, mas deve ser planejado de forma criteriosa. O consenso técnico indica que dragagens são medidas complementares, não soluções isoladas. O futuro da proteção contra cheias no RS passa pela combinação de diferentes técnicas: obras estruturais, gestão ambiental e planejamento integrado.

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