top of page
Design sem nome (3).png

Eng. Agr. Dr. Gilberto R. Cunha

Agrometeorologista da Embrapa Trigo – Passo Fundo/RS

Email: gilberto.cunha@embrapa.br

As estiagens no Rio Grande do Sul e o desafio da gestão de riscos

No Sul do Brasil, estiagens no período primavera-verão são fenômenos recorrentes. Impactos negativos na agricultura e pecuária, na prestação de serviços de abastecimento urbano de água para a população e, de resto, em toda a economia regional, podem ser diagnosticados, com maior ou menor vulto, conforme a magnitude e a duração de cada evento de estiagem. Nos últimos 52 anos (1970-2022), podemos considerar que pelo menos 15 estiagens assolaram o Rio Grande do Sul. Foram elas e as respectivas safras: 1977/78; 1978/79; 1981/82; 1985/86; 1987/88; 1990/91;1995/96; 1996/97; 1998/99; 1999/00; 2003/04; 2004/05; 2011/12; 2019/20; e 2021/22. Em cada uma dessas, as particularidades dos eventos, as assimetrias na ocorrência de chuvas entre locais e as diferenças do padrão de tecnologia de produção entre empreendimentos agrícolas na mesma região, definiram a magnitude dos impactos na agropecuária gaúcha.

Design sem nome (1).png

Diante desse diagnóstico, mesmo com todos os avanços tecnológicos alcançados, produzir alimentos no Rio Grande do Sul, quer seja de natureza vegetal ou animal, ainda continua sendo uma atividade de risco. Assim, não pode mais ser ignorado o entendimento dos riscos que estão envolvidos na atividade e o papel das ferramentas de gestão de riscos e da inovação tecnológica para a sustentabilidade dos empreendimentos ligados ao negócio agrícola. Assim, ressalta-se como fundamental a popularização do entendimento de gestão integrada de riscos e de conceitos que são necessários para poder quantificar e melhor manejar a oferta natural de águas das chuvas ou das fornecidas por irrigação em sistemas agrícolas.

O risco do negócio agrícola é composto pela agregação de riscos individuais. Nessa soma, estão envolvidos os riscos de produção, que são relacionados com a natureza imprevisível da variabilidade climática extrema e do próprio desempenho das tecnologias usadas; os riscos institucionais, que dizem respeito às mudanças que fogem do controle individual, como são exemplos os novos marcos legais ou tributários, que podem se constituir em barreiras à comercialização; os riscos de mercado, que envolvem preços, relações de oferta e demanda de produtos e abertura ou fechamento de mercados; além dos riscos pessoais, relativos à natureza humana, tipo doenças graves, mortes ou o fim de relações societárias. Na agricultura, a tomada de decisão de gestão, não importando a natureza do empreendimento (quer tenha escala empresarial vultosa ou limite-se a uma pequena propriedade familiar), deve focar para que prejuízos sejam evitados e as oportunidades e ganhos maximizados, levando em conta os riscos inerentes.

Na agricultura, a redução de riscos pode ser obtida também pelo melhor controle do processo de produção que, necessariamente, passa pelo uso da tecnologia mais adequada para cada situação. Enfrentar os desafios da variabilidade climática extrema, da especialização das plantas daninhas e do surgimento de novas pragas e doenças resistentes aos produtos de proteção de plantas, ora disponíveis no mercado, requer a mudança do paradigma do SIM ou NÃO (ora produzir e ora não produzir) para o modelo do SEMPRE SIM (sempre produzir), porém com riscos conhecidos e custos gerenciáveis. E, acrescente-se que, a isso, têm-se, paralelamente, as novas funções assumidas pela agricultura moderna que, além da produção de alimentos e fibras, também engloba a energia e ganha protagonismo cada vez maior na área de serviços, como é exemplo o turismo rural. Para isso, deve-se lançar mão do que há de melhor em termos de ferramentas biotecnológicas, como a edição de genomas, produtos das nanociências, geotecnologias, automação e em sistemas de precisão embarcados. A busca dessa resiliência para a agricultura brasileira, para cumprir seus múltiplos papéis, não escapa da intensificação dos sistemas agrícola, produzir mais numa mesma área, e da integração de sistemas, como é exemplo a integração lavoura-pecuária-floresta, primando, sempre, por boas práticas conservacionistas e sustentáveis.

Entre os principais desafios que a agricultura contemporânea ora enfrenta e doravante terá de lidar cada vez mais está, indiscutivelmente, a gestão da produtividade da água para fazer frente às necessidades de alimentos (tanto para o abastecimento humano quanto de animais domésticos que são criados como pets ou para a exploração de funções zootécnicas especializadas, tipo produção de carne, leite, ovos, lã, etc.) e a de matérias-primas para uso industrial (fibras, celulose, biocombustíveis, etc.), que se avizinham com a mudança do padrão de consumo e o crescimento da população mundial, estimada em nove bilhões de pessoas por volta do ano 2050, em um ambiente de acirrada competição por terras e água.

Por fim, destacamos que, na agricultura brasileira, além da gestão da produção, a adesão aos instrumentos de securidade rural, seja na modalidade de garantia oficial (Proagro) do Governo Federal ou de Seguro Rural privado, cujo prêmio conta com subvenção pública, tornou-se imprescindível para se lidar com riscos. O caso das estiagens recorrentes no Sul do Brasil e, em especial, a que afetou a safra de verão 2021/2022, é bom exemplo. Agricultura, indiscutivelmente, é uma atividade de risco e o produtor rural tem que considerar a inclusão do custo do seguro rural na sua lista de “insumos” de produção.

#gestaoderiscos

#estiagem

#seguroagrícola

#agricultura

© 2022 CREA-RS. Todos os direitos reservados.

bottom of page