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Estudo sobre Movimentos de Massa no Município de Linha Nova (RS) em 2024

Introdução 

Os eventos adversos de natureza hidrológica que atingiram o Estado do Rio Grande do Sul em 2023 e 2024 resultaram em desastres de uma imensa magnitude, com quase duas centenas de mortes, dezenas de desaparecidos, destruição de muitas cidades, estradas, milhares de empreendimentos agropastoris, perdas de colheitas, equipamentos e outros bens. 

Apesar de eventos dos tipos inundação e enxurrada serem mais evidentes, os de movimentos de massa são os que causam mais danos duradouros pela necessidade de, após estudados, tornarem áreas non aedificandi, ou trazerem restrições ao uso humano. Área non aedificandi é um espaço onde não é permitido construir, devido a motivos de segurança ou interesse público. A expressão vem do latim e significa "faixa não edificante".  

No mapeamento das cicatrizes de movimentos de massa decorrentes do acumulado de chuva no RS entre 27 de abril e 13 de maio de 2024, Andrades Filho et al (2024) nos ensinam que cicatrizes de movimentos de massa são marcas da movimentação de solo e/ou rochas visíveis no terreno, geralmente ao longo de encostas. Estas marcas são oriundas de deslizamentos, fluxos de detritos e lama, queda de blocos e rastejamento de solo. Os autores nesse relevante e tempestivo estudo delimitaram as cicatrizes a partir de imagens de satélite de alta resolução espacial, por interpretação visual, na composição colorida RGB cor-verdadeira. 

A região de abrangência de mapeamento é de aproximadamente 18 mil km², onde predominam as bacias hidrográficas Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto e Baixo Jacuí e Vacacaí-Mirim. 

O número de cicatrizes de movimentos de massa mapeado é de 13.891 o que representa uma parcela de aproximadamente 90% da área total atingida na escarpa sul do Planalto Meridional-RS em 2024, e cobriu os 142 municípios mais atingidos por movimentos de massa na Região Hidrográfica do Guaíba. Todas estas informações datam até a atualização em 26 de agosto de 2024. 

O mapeamento segue em andamento e trabalhos de campo estão sendo realizados para validações in loco. O mapa digital está disponível em “WebMapa de Movimentos de Massa para equipes de apoio na situação de calamidade/2024”. Acesso: https://arcg.is/ezjvW.  

A partir desta realidade, diversos estudos se fazem necessários com o fito de subsidiar as autoridades de Defesa Civil e de outros órgãos, na definição de medidas de longo prazo para a recuperação das áreas afetadas e na busca de restabelecer a normalidade social. 

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Estudo de caso no município de Linha Nova-RS 

 

O presente estudo foi realizado para o município de Linha Nova, em atendimento à demanda apresentada pela Defesa Civil da cidade, na busca de subsídios para elucidar a situação do movimento de massa (MM) ocorrido na localidade de Morro Grande, junto às coordenadas geográficas em SIRGAS2000 29°28'14.51"S e 51°12'56.12"O. 

Referencial Teórico 

 

Causas dos Movimentos de Taludes  

Conforme a ABGE (1998), os principais condicionantes de escorregamentos e processos seguem elencados a seguir: características climáticas, com destaque para o regime pluviométrico; características e distribuição dos materiais que compõem o substrato das encostas/taludes, abrangendo solos, rochas, depósitos e estruturas geológicas; características geomorfológicas, com destaque para inclinação, amplitude e forma do perfil das encostas; regime das águas de superfície e subsuperfície; características do uso e ocupação, incluindo cobertura vegetal e as diferentes formas de intervenção antrópica das encostas, como cortes, aterros concentração de água pluvial e servida, etc. 

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Geralmente, constituem-se em causas de escorregamento o “aumento” de peso do talude (incluindo as cargas aplicadas) e a “diminuição” da resistência ao cisalhamento do material. A concomitância desses fatores nas estações chuvosas ou pouco depois, explica a ocorrência da maioria dos escorregamentos nesses períodos de grande precipitação pluviométrica.  

Varnes (1978) discute os principais mecanismos de deflagração dos escorregamentos, reconhecendo os fatores que aumentam as solicitações e os que diminuem a resistência dos terrenos com os respectivos fenômenos naturais e antrópicos a que estão associados. Como exemplo temos o aumento da solicitação (remoção de massa, sobrecarga, solicitações dinâmicas e pressões laterais) e redução da resistência (características inerentes como textura, geometria e mudanças de vatores variáveis). 

 

Classificação dos Processos de Instabilidade 

A classificação baseia-se nos seguintes critérios: velocidade, direção e recorrência do deslocamento; natureza do material estabilizado, solos, rochas, detritos, textura, estrutura e conteúdo de água; modalidade de deformação do movimento; geometria das massas movimentadas. Internacionalmente, a classificação mais usada é a de Varnes (1978), que elenca quedas, tombamentos, rotacional, translacional, expasões laterais e corridas/escoamentos.  

 

Movimentos de massa 

 Durante o mapeamento de áreas de risco a movimentos de massa é investigada a presença, características e intensidade das condições e indícios sumarizados pela CPRM (2021) como características naturais, potencialmente antrópicas e apresentam evidências de movimentação . 

Como exemplos de características naturais temos amplitude ou inclinação de talude, espessura do regolito, presença de blocos de rochas no regolito, de maciços rochosos, direção e mergulho das descontinuidadades, umidade do regolito e surgência de água. 

Já como características das ações antrópicas, temos padrão construtivo, condições das vias, sistema de drenagem pluvial, presença de taludes de corte, presença de aterro e lixo lanados na encosta, distância das edificações em relação á base e crista do talude ou encosta, lançamento de águas servidas e esgoto no terreno, presença de fossa e vazamentos em tubulações. 

As evidências de movimentação são trincas e degraus de abatimento, estruturas deformadas (postes, muros e cercas) e cicatrizes de deslizamentos. 

 

Desenvolvimento

No dia 9 de maio de 2024 foi realizada visita técnica na coordenadas supracitadas com o objetivo de fazer uma análise visual, preenchimento do formulário do Anexo C (Anexo 1) da Norma Brasileira 11682 – Estabilidade de Taludes - coleta de imagens e posterior elaboração deste estudo.  

Nas constatações foram levantadas a dimensão/volume do movimento de massa por meio do caminhamento na área em objeto e análise de fotografias áreas coletadas com drone (Fotografias 1 e 2).  

 

Com base nos levantamentos estimamos que  a dimensão da área do movimento de massa - MM corresponde a um polígono de 47.238 m2, sendo representada na Figura 3. 

Durante a vistoria observou-se a que o movimento de massa ocorrido é um processo de escorregamento, tendo a geometria planar característica de solos pouco espessos e rochas com um plano de fraqueza (figura 4).  

No estudo observou-se três casas (fotografias 3 e 4) junto ao MM e uma completamente destruída (fotografias 5 e 6). Ainda constatou-se surgências de água na base do material do deslizamento (fotografias 7 e 8), formação de um barramento de água no centro do deslizamento (fotografia 9) e cicatrizes.  

 

Considerações e Recomendações

Este expedito estudo evidenciou a presença de sulcos no solo, a surgência de água no escorregamento, o barramento de água na área do MM, a formação de patamares e a presença de matacões soltos. Associando essas evidências às futuras precipitações pluviométricas recorrentes no período de chuvas vindouro, recomenda-se que as autoridades competentes de Defesa Civil e Administração Municipal adotem ações emergenciais de curto prazo. 

• Seja restringido o tráfego na via/estrada atingida apenas para atividades essenciais e, preventivamente, sejam removidos os moradores das residências junto ao polígono da área de risco a qual está representada em azul no croqui de situação (Figura 1);  

• Tempestivamente a sugestão é para que sejam elaborados estudos de estabilidade de taludes, confome preconiza a ABNT NBR 11682.  

• Seja solicitado ao Ministério de Minas e Energia, via Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a realização de um projeto de setorização de riscos geológicos, ou então elaborados estudos por meios próprios a fim de obter mapeamento de áreas suscetíveis a riscos geológicos. 

 

Referências Bibliográficas

ANDRADES FILHO, Clódis de Oliveira (Coordenador) et al. Mapeamento das cicatrizes de movimentos de massa decorrentes do acumulado de chuva no RS entre 27/04 e 13/05 de 2024. Laboratório Latitude - Centro Estadual de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM) / Programa de Pós-graduação em Sensoriamento Remoto (PPGSR) / Departamento de Geodésia | Instituto de Geociências (IGeo) | Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Disponível em<https://arcg.is/ezjvW.>. Acesso em 04.set 2024. 

 

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT), NBR 11682:2009. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro: ABNT, 2008. 

LANA, Julio Cesar et al. Guia de procedimentos do Departamento de Gestão Territorial. Org.. - Brasília: CPRM, 2021.  

OLIVEIRA, A.M.S., BRITO, A.N.A, 1998. Geologia de Engenharia. São Paulo : Associação Brasileira De Geologia De Engenharia-ABGE. 

TOMINAGA, Lidia Keiko;SANTORO, Jair; AMARAL,Rosangela do. (orgs). Desastres naturais, conhecer para prevenir. 2ª. Ed. – São Paulo: Inttuto Gerológico, 2012. VANES D.J. 1978. Slope Movement types and processes. In: Landslipes analysis and control. Washington. National Academy of Sciences, p. 11-33.  

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