Família Leme, 50 anos de história
O Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais é um órgão administrado pela Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O Leme é a primeira infraestrutura experimental do curso de pós-graduação em Engenharia Civil, um dos primeiros programas de pós-graduação do Rio Grande do Sul. Fundado em 1974 com recursos do BNDE, completa 50 anos de atuação, cheios de grandes inovações e projetos de muita relevância para a comunidade acadêmica e para a sociedade em geral. O laboratório prioriza os três pilares: ensino, pesquisa e extensão. Nele, são ministradas disciplinas práticas para alunos de graduação, desenvolvidas pesquisas de iniciação científica, dissertações de mestrado, teses de doutorado, que também servem de solução para problemas reais fora dos muros da universidade. O laboratório participa de projetos de grande porte, contribuindo com novas tecnologias e cultivando carreiras e profissionais de alto nível.
São abordadas diversas áreas da engenharia dentro do laboratório. Alguns exemplos são: análise experimental de estruturas, criação de sistemas de inspeção e manutenção de estruturas, estudo da tecnologia do concreto e concretos especiais, criação de técnicas de monitoramento, análise e recuperação de estruturas históricas e obras de arte, estudo sobre patologia das construções, criação e estudo de técnicas de recuperação e reforço de estruturas, desenvolvimento de novos materiais, ensaios não destrutivos, avaliação de impactos ambientais, análise da ação do fogo em estruturas, ensaios de desempenho de materiais, inspeção de barragens, análise de durabilidade e vida útil de materiais, e avaliação de falhas de estruturas.
SUA CONSTRUÇÃO
Em 1973 foi solicitada pelo coordenador do curso de pós-graduação de Engenharia Civil da época, o professor José Serafim Gomes Franco, a construção de um laboratório de estruturas. O ano foi dedicado ao planejamento do projeto e à formação de uma equipe inicial formada pelos professores Joaquim Blessmann, professor Dario Lauro Klein, professor Anibal Knijnik, alunos de mestrado, e o mecânico Paulo Francisco Bueno que foi o primeiro técnico contratado para conceber o laboratório.
As primeiras instalações do Leme foram localizadas no terceiro andar do prédio da Escola de Engenharia da UFRGS, no dito Prédio Novo. No início, o laboratório ocupava uma área de 173 m2, mas tinha equipamento pesado em sua oficina de apoio, por isso, em 1978 foi transferido para o pavimento térreo do mesmo prédio, ocupando uma área de 213 m2. Nos anos seguintes, especificamente nos anos de 1986 e 1987, o laboratório recebeu mais uma reforma, ampliando a sua área física para 244 m2 e, posteriormente, para 366 m2, quando foi reinaugurado em 1987. As reformas foram feitas para melhorar as instalações em razão das aulas práticas que o laboratório propiciava aos alunos de graduação e pós-graduação. A última modificação do Leme no Campus Centro foi entre 1998 e 1999, conquistando uma área de 500 m2 para acomodar uma prensa hidráulica de 2.000 Kilonewtons, obtida através do projeto Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), além de melhorar também as condições de infraestrutura e criar um ambiente para os técnicos do laboratório.
MATÉRIA DE CAPA
PALAVRA DA PRESIDENTE
ARTIGOS
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
AGRONOMIA
FISCALIZAÇÃO
POR DENTRO DAS ENTIDADES
RAIO X DAS INSPETORIAS
NOTÍCIAS
Inauguração do Leme
https://www.youtube.com/watch?v=gshWFAO8xpU
Oficina antiga, ainda no Campus Centro: "Seu Edgar" trabalha desde março de 2009 na oficina mecânica do Leme
Um dos primeiros elementos estudados no laboratório foi uma viga reforçada testada ainda em uma sala de aula. Essa foi a semente da criação do Leme. O professor Dario, em parceria com o professor Francisco Gastal, fez as teses experimentais pioneiras. O professor João Campagnolo fez um dos primeiros estudos experimentais de elementos em grande escala e de concreto.
Com o constante crescimento do laboratório iniciaram, no final do ano de 2002, os estudos para transferir o Leme para o Campus do Vale, onde já existia uma área destinada à sua construção. O espaço foi reservado para o Leme por conta de outro projeto da Finep realizado nos anos 70 que concedeu um recurso para construir uma laje chamada de Laje de Reação no subsolo, uma espécie de bunker com área de 160m2 e paredes de 90cm de largura. Em 2006 foi feita uma vistoria do local e o planejamento da construção do prédio, que iniciou em 2007 e levou quatro anos para ser concluída, sendo finalizada em 2011. Mas a reitoria da universidade resolveu fazer uma inauguração oficial do laboratório no dia 11 de abril de 2012. De 540 m2, o Leme conquistou uma área de 1920 m2, consideravelmente maior. Lá, foram instalados equipamentos de ensaios e modelos de grande porte, para a realização de experimentos em grande escala, o que era impossível no espaço concedido no Campus Centro. Sua expansão foi feita graças a apoios financeiros providos por várias entidades de fomento nacionais e regionais (Finep, CNPQ, Capes, Fapergs, Propesp/UFRGS)
Inauguração das novas instalações em 2012
GRANDES PROJETOS E CONTRIBUIÇÕES
Durante o período de 1974 até 2015 o fundador, professor e Engenheiro Civil Dario Klein exerceu o papel de coordenador geral do laboratório. Durante todo este tempo, o Leme participou e desenvolveu projetos variados e de excelência, contribuindo diretamente para a sociedade. Produziu, com o apoio de alunos de iniciação científica, 120 artigos em congressos regionais e nacionais e a defesa de 50 dissertações de mestrado e 22 teses de doutorado. Nesta época, o laboratório realizou pesquisas de desenvolvimento tecnológico de altíssima importância e conseguiu implementá-las na prática.
Em 1982, o Leme desenvolveu o sistema APM Aeromóvel Coester, muito conhecido pelos cidadãos de Porto Alegre. Foram feitos testes e ensaios do sistema de transporte de passageiros sem poluição, conduzido com ar comprimido por eletricidade. Este projeto resultou na grande via experimental localizada ao lado da orla do Gasômetro. A Linha Piloto, construída na Av. Loureiro da Silva, foi a primeira experiência de operação do veículo movido por propulsão pneumática.
Durante os anos 1981 até 1988, o Leme participou de um grande projeto em conjunto com a empresa Marcopolo, de Caxias do Sul. A fabricante de ônibus solicitou ao Laboratório que fossem feitas análises de carrocerias de ônibus. “Também desenvolvemos o ônibus padrão tubular e o modelo trólebus articulado que, posteriormente, foram lançados no mercado. O laboratório fez a análise tanto da parte numérica com programas computacionais de análise das estruturas dos veículos, como com ensaios em laboratório fazendo uma instrumentação completa desses veículos”, explicou o professor Dario.
Em 1991, o Laboratório participou de outro grande projeto de vistorias que durou três anos. Em colaboração com a Prefeitura de Porto Alegre, o Leme vistoriou todas as obras de artes da cidade, incluindo os viadutos, túneis, pontes, e classificou as obras conforme o seu grau de degradação. Em função deste trabalho, desenvolveu e apresentou para a comunidade técnica um critério de como fazer a avaliação deste tipo de estruturas. Este critério foi divulgado em diversos congressos, inclusive, foi objeto de discussão em um seminário do CREA-RS. Algum tempo depois, no ano de 2005, o Leme fez um projeto parecido com a Concepa (Concessionária da Rodovia Osório Porto Alegre S/A) para avaliar a BR-290. Desta vez, foram vistoriados todos os viadutos, pontes e passarelas de Porto Alegre até Osório.
Depois destes grandes projetos, o Leme fez uma inspeção, em 1993, em todo o Estádio Olímpico. Mais tarde, em 2001, foi realizada uma observação completa e detalhada do estádio Beira-Rio, centímetro por centímetro. Inclusive com laudos para que as instituições tenham noção do que acontece nos estádios. Já na Arena do Grêmio, foi feita a instalação de equipamentos e medições da vibração das arquibancadas durante um jogo, com a casa cheia.
Em 1994, o Leme interviu no projeto do Trensurb quando começaram a aparecer problemas estruturais nos veículos de trem e que poderiam causar algum acidente. Por isso, não só o Leme, mas uma equipe com dez laboratórios da UFRGS foram ajudar a resolver esse sério problema nos trens. No final, a empresa foi indenizada pela construtora dos veículos.
O Leme trabalhou com outra obra histórica em 1997. Os pesquisadores e profissionais do Laboratório foram contratados pela Cúria Metropolitana de Porto Alegre para fazer um levantamento completo de todas as suas instalações. Além disso, também foi feita a avaliação do Palácio Provincial, na Praça da Matriz. Dentro da área de recuperação de patrimônio histórico, também foi firmado um protocolo de cooperação técnica Brasil - Alemanha. Um convênio para analisar diversas obras históricas tanto do Rio Grande do Sul como também de Santa Catarina. Um ano depois, o Leme fez uma avaliação completa da ponte internacional Mauá, que liga o município de Jaguarão no Rio Grande do Sul à cidade de Rio Branco no Uruguai.
Em Vacaria, o Salão Comunitário Casa do Povo, uma obra do Oscar Niemeyer, foi interditado no fim da década de 1990. Em 1998, o Leme realizou vistorias para verificar o estado de conservação, patologias e comprometimento estrutural na perspectiva de elaborar um projeto de recuperação da instalação. Nesta época, a Casa do Povo corria o risco de ser demolida. Em 2006, o laboratório voltou ao local e realizou uma nova avaliação técnica do prédio para complementar a de 1998 e dar andamento ao seu processo de conservação. Desta forma, conseguiram salvar a Casa do Povo.
Iniciando a década de 2000, o Leme participou do grande projeto de construção do Museu Iberê Camargo em Porto Alegre. O prédio foi feito inteiramente de concreto branco, que na época não era utilizado. Foi graças aos estudos realizados no laboratório sobre a tonalidade branca do concreto que puderam aplicar no museu. Em 2001, em conjunto com a Caixa Econômica Federal, o laboratório realizou a homologação de dez empreendimentos para casas de cunho social de, no máximo, 40 metros quadrados. Com isso, entre 2001 e 2010, foi desenvolvido o sistema construtivo Casa Forte Medabil. Com esse novo sistema construtivo, o Leme foi premiado no 10° concurso Falcão Bauer em Goiânia com o 2° lugar em novas técnicas.
Ainda no início dos anos 2000, elaborou um projeto inédito de tecnologia inovadora, o desenvolvimento do sistema de fachada ventilada. Esse projeto foi feito em parceria com a Ceusa, uma empresa de cerâmica de Santa Catarina. O sistema de fachada ventilada para edificações permitia que houvesse diminuição do aquecimento interno da edificação quando ela é atingida por raios solares. Infelizmente, o projeto não foi implementado, foram feitos apenas testes. Esse projeto conquistou o 1° lugar no concurso Falcão Bauer na categoria novas técnicas, em Belo Horizonte.
Já em 2009, outro sistema construtivo foi desenvolvido pelo Laboratório, o Casa Modular Fischer, com a empresa Fischer de Santa Catarina. Foi solicitada ajuda para desenvolver um sistema construtivo de casas de cunho social. Com os dois sistemas feitos pelo Leme foram construídas muitas casas, tanto em Novo Hamburgo com quase 300 habitações construídas, quanto em Santa Catarina com quase cem residências produzidas.
Depois de todos esses projetos atuando diretamente na sociedade com inovações tecnológicas, a UFRGS também usufruiu dos serviços do laboratório. Em 2001, a universidade recebeu uma notificação da prefeitura relatando que havia problemas estruturais no Instituto de Artes e então acionou o Leme, já em 2002, foi inspecionada a marquise da Escola de Engenharia. Em 2013, foram averiguadas todas as fachadas do prédio da Escola de Engenharia e em 2004, foi a vez da cobertura do Ginásio da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança. Em 2006 foi feita a perícia do incêndio que afetou a cobertura neste mesmo Ginásio e também foi avaliado o prédio da Química no Campus do Vale.
Atualmente o Leme continua desenvolvendo conhecimento e atendendo a sociedade. Dentre alguns projetos mais atuais está o laudo técnico que determinou a demolição da Galeria XV de Novembro, conhecida como Esqueletão. Os estudos realizados pelos técnicos do laboratório apontaram que a estrutura está comprometida e corre risco de desabamento. O Leme também estava presente, por meio do professor Luiz Carlos, no relatório realizado pelo CREA-RS sobre a tragédia na Boate Kiss. Em muitas atividades emblemáticas da sociedade do Rio Grande do Sul, o Laboratório está envolvido.
UFRGS fechando parceria com a prefeitura para o laudo do Esqueletão
“Na época em que era bolsista e quando fiz o mestrado, atuava mais como coadjuvante, mas depois que ingressei como docente eu acabei trabalhando em diversos projetos atuando mais à frente. Como exemplo, fizemos um estudo com ensaios não destrutivos na barragem de Jirau no norte do Brasil, depois, trabalhamos no termo de referência da Polícia Rodoviária Federal”, relata a professora Ângela Graeff, nova coordenadora do laboratório, e complementa: “Eu assumi a coordenação do laboratório no final do ano passado. A gente ainda está em um momento de reestruturação pós pandemia e a ideia é seguir com os convênios, com contatos e com um apoio direto na sociedade”.
CURSOS
Dentre as prioridades do Laboratório está o ensino de graduação e pós-graduação. Em 2014, dentro da área de ensino e através do departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o fundador do Leme, professor Dario Klein, conseguiu criar uma disciplina de graduação eletiva que ensinava os alunos a fazer o projeto de prevenção e proteção contra incêndio dos prédios, chamado de PPCI. A disciplina foi chamada de Noções Básicas Sobre Segurança Contra Incêndios. Segundo o professor, o mais interessante sobre essa disciplina é que não havia uma demanda muito grande entre os alunos do 4° semestre, público-alvo da disciplina. Na verdade, ex-alunos começaram a contatar o professor, com interesse em fazer essa disciplina. Desse modo, houve uma interação muito saudável entre os estudantes de graduação e os profissionais já especializados e com experiência no ramo. No semestre seguinte, o professor começou a usar os próprios prédios da UFRGS como modelo para que os alunos fizessem os projetos de PPCI.
Os cursos de capacitação e especialização do Leme são antigos. Em 1978, o laboratório ofereceu um curso de policiamento de trânsito. Em 1998 foi realizado o curso de pós-graduação em nível de especialização em prevenção e controle de sinistro. Metade dos oficiais do Corpo de Bombeiro Militar do Estado do Rio Grande do Sul fizeram esse curso. Durante o ano de 2001, o professor Dario ministrou o curso de PPCI para todas as inspetorias do CREA-RS. Além da parte teórica, foi realizada uma parte prática com o uso de extintor e mangueira de incêndio. No próprio Leme também eram realizadas atividades práticas, fazendo com que os alunos observassem a ação do fogo em materiais de concreto, metal, madeira etc. Graças ao novo espaço no Campus do Vale, esse tipo de prática é possível.
Em 2010, Dario foi encarregado de ministrar, durante dois anos, o curso de análise de risco e parametrização de riscos em emergências atípicas, ou seja, na parte de desmoronamento, deslizamento e enchentes na área de busca e resgate, no Corpo de Bombeiro de Brasília. Além disso, o Leme ministrou o curso sobre patologia das edificações, tanto para os Engenheiros Civis e estudantes como também para o Corpo de Bombeiros.
INOVAÇÃO E PIONEIRISMO
A produção científica do laboratório é de extrema importância. Nele, são realizadas pesquisas destinadas ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras e também voltadas para a melhoria das condições da comunidade, tanto acadêmica como da sociedade em geral. O Leme sempre foi considerado um laboratório de desenvolvimento e sempre fez questão de elaborar procedimentos e metodologias. O laboratório produziu um conjunto de procedimentos para cada tipo de degradação de edificação e como deve ser feita a reparação dessa patologia. Atua como uma ponte de entrada de novas tecnologias.
O Leme trabalhou muito com a questão de reparo, recuperação e reforços de estruturas. Foi pioneiro no uso de diferentes técnicas de reforço de estruturas especialmente a chapa colada, reforço com fibra de vidro, reforçado com aramida e reforço com fibra de carbono. Materiais de recuperação também foram muito trabalhados. Existe uma receita de argamassa de recuperação que até hoje é utilizada por muitos e foi uma criação do Laboratório. Todas as teorias de corrosão e associação entre corrosão e fadiga e técnicas inovadoras para fazer a detecção de corrosão foram criadas pelos pesquisadores do Leme.
Outra área estudada no laboratório é a de ensaios não destrutivos. O Leme é líder em tomografia ultrassônica, ou seja, utilizar ultrassom e sensores para captar imagens em 3D dos corpos. Foi referência em atendimento a grandes estruturas ao fazer diagnósticos e desenvolver tecnologia de ultrassom em condições de campo.
Usina hidrelétrica de Jirau – RO
O Leme trabalhou muito na área de atendimento a desastres e investigação de falhas estruturais, em silos, problemas em barragens e de quedas de marquises. Foram desenvolvidos boa parte dos estudos de inspeção predial do País. O professor Luiz Carlos Pinto da Silva Filho, ex-coordenador geral do Leme, foi consultor da Norma de Inspeção Predial, da Norma de Durabilidade e da Norma de Desempenho de Materiais. Segundo Luiz, o laboratório fez estudos de grandes problemas como por exemplo a queda da marquise de Arapuan, do incêndio da Secretaria Pública de Segurança e do incêndio do Shopping Total. “Em todos os grandes incêndios, o Leme foi chamado para avaliar a condição das estruturas, entender quais eram as causas e começar a desenvolver teorias”, explica o professor.
Além disso, trabalha com novos concretos como os permeáveis, concretos têxtil, especiais com resíduos, de alta densidade, com adição de casca de arroz e concretos leves. Luiz Carlos conta que foi o responsável pela equipe que trabalhou no concreto branco do Museu Iberê Camargo e que, a partir dali, trabalhou-se diferentes verticais com a criação dos concretos auto limpantes. Leme foi protagonista no desenvolvimento e viabilização do primeiro concreto branco em grande escala no país.
No laboratório foi desenvolvida a teoria de semelhança e como o elemento funciona em escala reduzida ou escala real, ensinando a inspecionar estruturas. O Leme trabalhou muito na dimensão de pontes e na lógica de inspeção, com isso, os pesquisadores criaram um sistema de inspeção para pontes que foi adaptado e até hoje é utilizado em edifícios. Também foi criado um sistema de inspeção para elementos de saneamento para Corsan.
O laboratório ajudou a criar a pós-graduação da área de estruturas e patologias das construções na Universidade Nacional de Assunção, no Paraguai. E também foram os primeiros a utilizar drones para inspeção de estruturas e a recomposição por imagem 3D de drones. Foram pioneiros na lógica de utilizar câmeras para verificar deformações nas estruturas, em parceria com a Cemacon (Centro de Mecânica Aplicada e Computacional) da UFRGS. Na área de durabilidade, foi estudado o reforço e recuperação de estruturas e na área de processos de corrosão, lógica da corrosão e fadiga, processos importantes para redução da vida útil em estruturas.
CONGRESSOS
Os alunos e pesquisadores do Leme sempre tiveram uma grande vontade de desenvolver coisas e isso inclui a vontade de organizar e participar de congressos, tanto de iniciação científica como congressos nacionais e internacionais de Engenharia e Patologia das Construções. Em 1990, a equipe do laboratório se reuniu e realizou, em Gramado, o 10° Encontro Nacional da Construção. Em 1991, realizaram em Porto Alegre a 25° edição da Jornada Sul-Americana de Engenharia Estrutural. Até o ano de 1995, a cada dois anos, se elegia um grupo de pessoas que iriam organizar este evento, até que um grupo de pessoas do Chile disse, de última hora, que não poderiam organizar por problemas financeiros. Por isso, em 1991 o Leme resolveu assumir a liderança. Nessa edição foi decidido que era necessária uma associação que cuidasse desse evento, e assim foi criada a Associação Sul-Americana de Engenharia Estrutural, fundada pelo professor Dario Klein.
Em 1997, na área de Patologia, foi organizado o 4° Congresso Ibero-Americano de Patologia das Construções. Em 2004, o 2° seminário de Patologia, em 2005 o Pré-Congresso Latino-Americano de Patologia das Construções, em 2007 o 1° Seminário sobre Riscos na Engenharia Civil em Bento Gonçalves, no mesmo ano o Leme organizou o 49° Congresso Brasileiro do Concreto em Bento Gonçalves, e o 1° Seminário sobre Segurança de Estruturas em Situação de Incêndio também em Bento Gonçalves. Em 2009, o Leme organizou o 3° Seminário de Patologia das Construções em Porto Alegre. No mesmo ano, realizaram a primeira Conferência Livre Regional de Engenharia para Defesa Civil. Em 2015, foi realizado o 3° Congresso Ibero-Latino-Americano sobre Segurança Contra Incêndio no Barra Shopping, em Porto Alegre. Também em 2015, uma equipe de bolsistas de iniciação científica do laboratório representou a UFRGS no 57° Congresso Brasileiro do Concreto, promovido pelo Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto) na cidade de Bonito, Mato Grosso do Sul. Lá, esta equipe foi a vencedora do 22º Concurso de Aparato de Proteção ao Ovo – APO, que consiste em criar um pórtico de concreto resistente a cargas de impacto causadas por uma massa de 15 kg que é solta de alturas variadas. O objetivo é que a estrutura suporte o máximo possível sem quebrar o ovo que fica posicionado sob o pórtico. Foi a única entre as 17 equipes a resistir ao impacto da carga de uma altura de 2 m. O prêmio foi um cheque no valor de R$ 5 mil reais. Dessa forma, o Leme sempre teve uma participação muito grande na área de congressos, tanto fazendo presença assim como organizando. O laboratório sempre teve a intenção e vontade de fazer parte dessas atividades.
Equipe vencedora do APO 2015
CEPED RS (CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS SOBRE DESASTRES DO RIO GRANDE DO SUL)
Em 2009 o Laboratório criou um Congresso sobre Desastres Naturais. Dentro desse congresso, foi criado o Centro Universitário de Estudos de Pesquisas sobre Desastres Naturais chamado Ceped. Foi aprovado no Conselho Superior da Universidade em 28 de agosto de 2011, dois anos depois do congresso. A direção coube ao professor Luiz Carlos Pinto da Silva Filho. “As raízes do meu envolvimento com o Ceped estão relacionadas ao Leme. Começamos a investigar uma série de problemas de desastres, incêndios, e nos aproximamos muito dos atores da Defesa Civil e dos Bombeiros. Em um certo momento, quando se criou uma lógica de política nacional de Defesa Civil, surgiu a necessidade de criação de centros universitários de estudos e pesquisa em desastres. Graças ao envolvimento do Leme nessa área, eu acabei sendo a peça central da criação do Ceped na UFRGS. Fui ao reitor e assim que ele deu carta branca, abri um chamado para todas as unidades da universidade que quisessem participar", explica o professor Luiz Carlos sobre o início do centro de pesquisa.
Atualmente tem como novo diretor, Joel Goldenfum, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH). No Ceped é trabalhada a questão de avaliação de riscos com comunidades e vulnerabilidade. Começaram a modelar projetos, saindo um pouco da Engenharia Civil e incluindo pesquisadores de Hidrologia, Geologia, etc., formando uma grande estrutura transdisciplinar. O professor Luiz acabou envolvendo o Ceped com muitos de seus orientandos, como Alexandra Passuello, que participou do histórico Marco de Sendai (Sendai Framework for Disaster Risk Reduction) no Japão, quando se estabelece a teoria mais avançada de gestão de riscos.
Nos dias atuais, as mudanças climáticas estão cada vez mais violentas e extremas, afetando diretamente a humanidade. Um exemplo disso é o que aconteceu recentemente, em maio de 2024, no Rio Grande do Sul. O Ceped, em conjunto com o Leme, já está fazendo análises do muro da Mauá e também atuando na área de proteção contra incêndios. O Leme desenvolveu cartilhas de avaliação de risco nos vários abrigos que receberam e recebem pessoas desalojadas pelas enchentes.
Neste momento também é bom lembrar de pesquisas específicas como por exemplo o desenvolvimento de pavimento permeável ou de elementos drenantes de infraestrutura. Tais estudos são muito importantes para diminuir ou mitigar os problemas dos alagamentos e melhorar a drenagem quando houver chuvas mais intensas nos centros urbanos. Sobre a análise de estruturas em si, existem vários modelos que já foram desenvolvidos para a inspeção de elementos estruturais ou de estruturas específicas. O Leme tem um grande conhecimento na área que pode ser aplicado caso seja solicitado a inspeção nessas estruturas que estão demandando neste momento tão difícil.
“Sou curioso e isso acaba afetando todas as lideranças que eu tive. Seja no Leme, seja no Ceped. Em agregar novos conhecimentos, abrir novas fronteiras e fazer integração de conhecimentos. Para entender esses problemas tão complexos, precisamos de ciências de diferentes áreas”, relata o professor Luiz Carlos.
PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIOS
Mesmo sua área principal sendo a análise de estruturas, o Leme é uma referência na área de Proteção Contra Incêndios, sendo um dos três maiores polos, junto com a Unicamp e com a USP. A professora Ângela Graeff conta que quando entrou como docente na UFRGS, assumiu o cargo de professora de análise experimental de estruturas, porém, acabou migrando um pouco para a área de segurança contra incêndio. “É uma área muito grande, eu sempre digo, ela é uma área da engenharia, não é só uma disciplina” reforça a professora.
Esta área do laboratório produz trabalhos experimentais com elementos estruturais como concreto, aço e madeira em fornos específicos que simulam uma situação de incêndio. São aplicadas as mesmas temperaturas que são atingidas durante um incêndio e é possível ver como os materiais se comportam nesses casos. Também existem pesquisas computacionais, onde é possível simular o incêndio no computador e trabalhar com análise de risco de incêndio. Mesmo sendo uma parte mais teórica, ainda são atividades relacionadas ao laboratório. O Leme serve de berço para muitas aulas práticas de graduação e pós-graduação. “A gente gosta muito de ter os alunos enxergando o conteúdo na prática. É um diferencial bem interessante, a gente tem uma estrutura muito legal” diz Ângela.
Aula de Noções Básicas Sobre Segurança Contra Incêndios em setembro de 2015 ministrada pela professora Ângela Graeff com auxílio dos técnicos Edgar e Fontes e do pesquisador Guilherme Veber
FAMÍLIA LEME
O fundador do Leme, professor Dario Klein, conta que o relacionamento entre a equipe do laboratório é muito bom e sempre foi extremamente saudável, por isso são chamados de Família Leme. O laboratório gera um ambiente de troca de ideias e de aprendizado mútuo. “Tudo que nós desenvolvemos de conhecimento, toda a pesquisa e as realizações são para mim algo extraordinariamente bom. O laboratório é a minha segunda casa. E todos que participaram e quem ainda continua sente também muita afeição pelo laboratório” expõe o professor.
Durante estes 50 anos de história, inúmeros alunos e pesquisadores passaram pelo laboratório. Lá, foram realizados inúmeros testes e estudos na área de estruturas que contribuíram para a formação e o conhecimento dessas mesmas pessoas que tiveram a oportunidade de acompanhar e participar do Laboratório. O ensino aplicado em problemas reais sempre foi uma parte importante do DNA do Leme.
Encontro da equipe do Leme em 2003
O professor Luiz Carlos explica como iniciou sua jornada com o Laboratório: “Na época, eu já estava estagiando numa empresa de construção e trabalhando como responsável por uma construção de posto. O professor Campagnolo, meu pai acadêmico, estava fazendo uma seleção para um auxiliar de pesquisa na época. Eu acabei sendo entrevistado, pois gosto muito da área de pesquisa. Passou uma hora e ele entrou na sala onde eu estava tendo aula e disse ‘eu quero que tu sejas meu auxiliar de pesquisa, não és bolsista de posto coisa nenhuma’. No corredor, ele disse que eu iria ser o auxiliar de pesquisa dele. No dia seguinte, me apresentei para fazer meu primeiro trabalho sobre chapas coladas para reforço de vigas”. O professor Luiz Carlos ficou de 1987 até 1994 contribuindo para o Leme. Incentivado por seus colegas, foi realizar o doutorado fora do Brasil e quando voltou assumiu a coordenadoria de pesquisa e, depois da aposentadoria dos professores Dario e Campagnolo, tornou-se Coordenador Geral do Laboratório, até ser chamado para a Secretaria de Inovação de Porto Alegre, em 2021, passando a coordenadoria para a terceira geração, a professora Ângela Graeff.
O Leme é um local de formação de muitos talentos. Entre todos os pesquisadores e estudantes que passaram estão alguns dos mais importantes projetistas e especialistas na área de análise experimental de estruturas. Os professores traziam o conhecimento adquirido nas pesquisas para dentro das disciplinas e davam uma experiência experimental para os alunos. Aqueles alunos que permaneciam no laboratório tinham tanto conhecimento e prática que se tornam referências na área. Muitas vezes era aplicada a técnica desenvolvida no laboratório para resolver problemas reais e, ao chegar em problemas reais, se entendiam novos elementos para serem pesquisados. “Esse é o legado do Leme, um gerador de conhecimento e um adaptador do conhecimento externo. Seja pelos talentos, seja pelo conhecimento conseguimos compartilhar por meio técnico com toda a América Latina, seja pelo meu crescimento pessoal, pelas oportunidades e pelo número de problemas resolvemos com o Leme. Tenho muito orgulho dessa trajetória e acho que ele é um patrimônio não só da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas também do Estado e do País” explica Luiz Carlos. O professor ainda comenta que foi filho acadêmico do professor Dario e do professor Campagnolo e já passou o Leme para aqueles que ele mesmo orientou. “É muito bacana ter sido o elo conector entre a geração que fundou o laboratório e essa nova geração”.
A professor Ângela Gaeff dá seguimento ao sentimento de agradecimento ao Leme. “Ele estruturou toda minha vida profissional e se eu pudesse voltar no tempo faria exatamente como foi feito. Hoje sou uma pessoa muito realizada profissionalmente porque o laboratório me trouxe todas essas possibilidades de fazer pesquisas de ponta, de poder ensinar os alunos com qualidade, de uma forma lúdica e diferente. A sociedade, nessa trajetória do laboratório, ganhou bastante também, então acho muito legal essa transferência de conhecimento que se tem na universidade pelo Leme e para a sociedade”, conta a professora.
Ela também relembra a época em que entrou no Leme. “Eu ingressei no laboratório quando estava no primeiro semestre do curso de Engenharia Civil e tive vontade de fazer alguma coisa diferente das disciplinas. Fui conversar com o professor Bonin, que dava a disciplina de Introdução à Engenharia Civil e no mesmo dia ele me levou para conversar com o professor Luiz Carlos, que imediatamente disse que eu iria começar ali. Comecei a gostar muito e fui ficando até sair por um tempo para fazer estágio numa empresa de cálculo estrutural, mas eu tinha certeza absoluta que eu queria a área acadêmica e voltaria para o laboratório. Quando voltei, não consegui mais sair. Fiquei um tempo fora para fazer o doutorado na Inglaterra e, na semana que eu retornei, o professor Luiz Carlos, o mesmo que tinha me colocado dentro do laboratório para iniciação científica, tinha uma bolsa de pós-doutorado para mim“.
O período da pandemia de Covid-19 exigiu bastante resiliência, inclusive na universidade e no laboratório. Segundo os professores, este tempo de pesquisas paradas quebrou um pouco desta ligação e de amizades fortes que o Leme cria e desenvolve. Mas continuam esperançosos com os novos alunos e com a reestruturação do laboratório. A professora Ângela acrescenta: “Esperamos ter muito mais atividades e parcerias, sejam com entes públicos ou privados para que possamos transferir o conhecimento, equipamentos, ensaios e ferramentas que temos no laboratório para a sociedade”. O Leme sempre gostou de desafios, portanto, seguirá realizando pesquisas de alto nível e inovações tecnológicas na área de ensaios e modelos estruturais contribuindo para o crescimento acadêmico dos alunos e para o estudo e solução de problemas da sociedade.
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