
ESPECIAL - DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES NA ENGENHARIA
23 de junho, Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, celebramos o talento, a determinação e a criatividade das mulheres que transformam ideias em realidade, desbravam novos caminhos e moldam o futuro com inovação e coragem.
A Engenharia é enriquecida pela diversidade de perspectivas, e o trabalho incansável das mulheres nessa área inspira as próximas gerações a acreditar que não há limites para o que se pode alcançar.
Que este dia nos lembre da importância de apoiar, reconhecer e incentivar o protagonismo feminino na construção de um mundo mais justo, sustentável e inovador.
Atualmente, o Sistema Confea/Crea e Mútua conta com 223 mil mulheres registradas, praticamente 20% do nosso Sistema. Além disso, há oito mulheres presidentes de Creas, mostrando uma evolução. Uma delas é a Engenheira Ambiental Nanci Walter, primeira mulher reeleita presidente do CREA-RS em 90 anos.
Em homenagem ao Dia da Mulher Engenheira, a Conselho em Revista traz a experiência de duas profissionais que fizeram a diferença em suas atividades, a Eng. MSc. Profa. Danielle Clerman Bruxel, que esteve à frente de uma equipe com 60% de mulheres, nas obras de reconstrução do Aeroporto de Porto Alegre, depois das enchentes do ano passado.
E uma entrevista com a pesquisadora brasileira Engenheira Agrônoma Mariangela Hungria, que foi agraciada com o Prêmio Mundial da Alimentação, conhecido como o "Nobel da Agricultura", por sua pesquisa inovadora sobre insumos biológicos que revolucionaram a agricultura. Ela é a primeira brasileira a receber essa honraria.
O CREA-RS parabeniza todas as engenheiras que, com talento e compromisso, constroem um futuro mais justo, sustentável e inteligente. Vocês são inspiração para as novas gerações!
MATÉRIA DE CAPA
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PALAVRA DA PRESIDENTE

ARTIGOS

CIVIL
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

FISCALIZAÇÃO

A presença feminina nas obras de Reconstrução do Aeroporto de Porto Alegre

Eng. MSc. Profa. Danielle Clerman Bruxel
Engenheira Civil (UFRGS), Mestre em Geotecnia (UFRGS), Professora da Escola Politécnica da Unisinos, Membro do Núcleo Docente Estruturante do curso de Engenharia Civil Unisinos, Membro do grupo Sergs Mulheres na Engenharia e atua em projetos, gerenciamento de qualidade e fiscalização de obras de infraestrutura de transportes.
Em maio de 2024, os eventos climáticos ocorridos no Rio Grande do Sul castigaram o estado, levando a uma situação de calamidade, após a falha de diversas estruturas. A necessidade de reconstrução pós-enchente foi o principal norteador dos esforços do governo, da iniciativa privada e da população civil nos meses que se sucederam. E foi diante desse cenário que tive a oportunidade de retornar ao trabalho em infraestrutura aeroportuária, passando a integrar a equipe de fiscalização das obras do aeroporto, na função de controle e gerenciamento de qualidade.
A reconstrução e reabertura do aeroporto foi uma provocação técnica para profissionais de diversas áreas comuns à engenharia. Os desafios desta obra foram significativos visto que os efeitos da inundação foram severos e que poucos registros, na área técnica, determinavam os procedimentos de avaliação das condições estruturais dos pavimentos. O planejamento das atividades de reconstrução da pista de pouso e decolagem e das diversas taxiways, bem como os projetos e a escolha técnica de materiais e métodos, foram amplamente discutidos e estudados pelas equipes de infraestrutura envolvidas neste projeto.
Questões técnicas desafiadoras, somadas ao curto prazo de execução, devido à necessidade de reabertura das operações do aeroporto, levaram a concessionária a buscar inúmeras alternativas técnicas com foco em qualidade, sustentabilidade e atendimento de prazos.
Ao longo de quatro meses, a obra do aeroporto contou com o fornecimento de 140 mil toneladas de concreto asfáltico, produzido a partir de cinco jazidas pétreas diferentes, três usinas de asfalto e 24 horas de produção e operação. Além disso, aspectos quanto à sustentabilidade foram amplamente relevantes, com a reutilização de parte do material fresado bem como a instalação de uma usina dentro do site aeroportuário, com objetivo de reduzir emissões no transporte dos materiais produzidos. A obra foi entregue no prazo estabelecido, atendendo a padrões de desempenho internacionais. Dessa forma, poderíamos encerrar esse relato, com a certeza de que as boas práticas de engenharia foram atendidas nesta obra. No entanto, outro assunto deve ser abordado. A obra de reconstrução do Aeroporto de Porto Alegre, foi um marco para a retomada de crescimento e comércio, mas também foi um exemplo de boas práticas de governança.
A necessidade urgente de profissionais de engenharia passou a ser uma demanda relevante logo após as enchentes. Com foco no atendimento das demandas de fiscalização das obras do aeroporto, a contratação de um time técnico experiente e preparado foi a missão da gerenciadora e fiscalizadora TÜV Rheinland Ductor, empresa parceira da concessionária Fraport nas obras de reconstrução. E é nesse quesito que observamos práticas positivas, porém pouco usuais absorvidas pela fiscalizadora.

Equipe de fiscalização TÜV na abertura da pista de pouso e decolagem em out/2024.
Com um efetivo robusto, a empresa apostou na composição de um time técnico composto por laboratoristas, técnicos, inspetores e engenheiros. Com o apoio da concessionária, entre o total de profissionais alocados no projeto de fiscalização e controle tecnológico, 40% foram de mulheres. Quando se observa especificamente o efetivo de engenheiros da equipe, esse número aumenta para 60% de mulheres engenheiras atuando diretamente nas obras de fiscalização. O exemplo da obra de reconstrução do aeroporto é um marco quanto à criação de oportunidades para que engenheiras passem a dividir o espaço técnico em infraestrutura, que usualmente é masculino.
O caso da obra do aeroporto, infelizmente, não é uma realidade de mercado quando se aborda a participação feminina em obras. Embora, muito tenha se avançado na conquista de um maior espaço feminino na área das engenharias, ainda é necessário um longo caminho a ser trilhado para equivalência de oportunidades e cargos. Dentro da área de infraestrutura, conhecida como uma área de atividades ditas “pesadas”, menor é a incidência da participação de mulheres em cargos técnicos.

Equipe de Qualidade: Eng. Danielle Clerman, Eng. Greycy Kazanowski, Eng. Gabriel De Cesaro e Graduanda de engenharia civil Gabriela Almeida
Sabemos que as mulheres desempenham um papel significativo na engenharia contribuindo para o desenvolvimento e a busca de soluções inovadoras. No entanto, ainda há preconceitos e padrões a serem rompidos. Quando apontamos para a presença de mais mulheres em obras de infraestrutura, não se trata apenas de preenchimento de vagas, mas de oferecer as mesmas oportunidades para que juntos, engenheiros e engenheiras, técnicos e técnicas desenvolvam um trabalho de excelência.
Com mais de vinte anos de experiência em atuação na área de infraestrutura, com foco nos setores rodoviário e aeroportuário, a gerente de projeto e engenheira Diana Azambuja acredita que é papel de mulheres, com maior alcance profissional, mostrar caminhos possíveis para que novas profissionais possam trilhar essa mesma trajetória. Nesse sentido, com apoio do Sicepot e da John Deere, Diana lançou um curso de formação de mulheres operadoras de máquinas pesadas. “Quando olhamos para as obras de infraestrutura, devemos olhar para todo o contexto de oportunidades que esse mercado oferece para as mulheres. Operar escavadeiras, tratores, rolos compactadores e outros equipamentos pesados de terraplenagem e de pavimentação são campos de atuação majoritariamente masculinos, mas que, no entanto, não exigem força física alguma, basta habilitação e curso de formação apropriado. Por que não mulheres?” A primeira edição do curso já contou com mais de cem inscritas.
Segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), as mulheres representam aproximadamente 20% do total de profissionais cadastrados nos 27 Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas) e no Crea-DF. Embora este número seja crescente nos últimos anos, ainda apresenta a desproporcionalidade dentro das engenharias.
Salienta-se também que essa realidade é decorrente do menor número de ingressantes mulheres em cursos das áreas das exatas. Diante deste cenário, diferentes universidades têm realizado ações para a retenção e incentivo das ingressantes em cursos de engenharia. Promover conversas e acolhimento, além de ensino de excelência e preparo profissional tem sido foco do grupo de trabalho da Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Na Escola Politécnica da Unisinos, a universidade investe fortemente na promoção de eventos técnicos que divulguem o mercado de trabalho das engenharias, incentivando a troca de experiências profissionais e vivências de mulheres que atuem nestas áreas. O objetivo é apresentar possibilidades e novos caminhos às alunas da Politécnica, contribuindo assim para a redução da evasão delas nos cursos.
Trabalhar com engenharia é entender que esta profissão é um pilar para o progresso e o desenvolvimento. E, ao meu olhar, trabalhar com infraestrutura é construir caminhos para que possamos crescer. Nossas estradas e pavimentos contam histórias e conectam pessoas e, como todos os caminhos, nem sempre são fáceis ou bem pavimentados.
A entrega da obra do aeroporto no prazo e em atendimento a todas as exigências técnicas e de segurança operacional, contribuiu para a certeza que engenharia é local de mulheres, e o quão necessárias são estas profissionais. Mostra ainda, que quando as oportunidades são dadas, há mulheres suficientes para ocupar esse espaço.
E cabe também a nós, mulheres que exercem a engenharia, contar nossas histórias e trajetórias. A obra no aeroporto foi conduzida com técnica, mas também com sensibilidade, abriu caminhos e oportunidades e quem sabe, poderá inspirar outros tantos profissionais e empresas. Iniciativas como essas contribuem para a construção não apenas de infraestrutura, mas de um futuro mais inclusivo e sustentável para as próximas gerações.

Mariangela Hungria é a primeira brasileira a receber o prêmio Nobel da Agricultura
A Engenheira Agrônoma Mariangela Hungria é a primeira brasileira a receber o “Nobel” da Agricultura. Com uma pesquisa sobre insumos biológicos que revolucionam a agricultura, a Engenheira Agrônoma da Embrapa Soja entrou para a história ao ser anunciada como vencedora do Prêmio Mundial da Alimentação (World Food Prize), considerado o "Nobel da Agricultura".
A premiação é concedida a pessoas que contribuíram significativamente para melhorar a qualidade, a quantidade ou a disponibilidade de alimentos no mundo. E, portanto, reconhece o impacto do trabalho de Mariangela.
Há mais de três décadas, ela pesquisa formas de substituir fertilizantes químicos por alternativas sustentáveis, como os inoculantes, produtos com microrganismos benéficos que ajudam as plantas a absorver nutrientes. Estima-se que suas soluções estejam presentes em mais de 40 milhões de hectares cultivados no Brasil, gerando uma economia anual de até US$ 25 bilhões para os agricultores e evitando a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalente.
Dá o play e veja a entrevista que ela concedeu à Conselho em Revista, falando um pouco da sua trajetória, que já foi homenageada pelo Sistema Confea/Crea, durante a Soea.
