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Engenharia e ações climáticas: aprendizados das enchentes de 2024 para um futuro sustentável

Há um ano, o Rio Grande do Sul viveu a maior catástrofe climática de sua história, com perdas de vidas e prejuízos com a infraestrutura. Junho de 2025, as chuvas assustam novamente, rios de diversas regiões do estado transbordam, fazendo com que moradores saiam de suas casas. Claro que não tem a mesma proporção de 2024, mas, levantam dúvidas sobre os impactos, os investimentos em reconstrução e o papel estratégico da engenharia no enfrentamento das emergências climáticas globais. A certeza é que eventos extremos como o que atingiu o Rio Grande do Sul não são mais exceção e estão cada vez mais frequentes. Todas as magnitudes e frequências dos eventos estão modificados. O novo normal climático exige da engenharia uma nova postura.

É o que afirma o Eng. Civ. Carlos Bulhões. “As imagens da enchente que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024 chocaram o Brasil. Rios transbordando, cidades submersas, pontes rompidas, estradas destruídas, casas arrastadas e milhares de pessoas desabrigadas. O evento, considerado um dos maiores desastres climáticos da história do estado, deixou uma lição clara: é preciso repensar urgentemente a forma como projetamos, construímos e mantemos nossa infraestrutura e nossas cidades”, defende.

Para ele, as enchentes históricas mostraram falhas estruturais que a engenharia brasileira não pode mais ignorar. “Técnicos, engenheiros e pesquisadores vêm se debruçando sobre a tragédia para entender o que falhou — e como podemos agir agora para evitar que eventos naturais se transformem em desastres humanos”, afirma, citando algumas questões a serem consideradas.

Ressalta que fenômenos naturais não são, por si só, desastres. Chuva intensa é um fenômeno natural — e sempre existiu. O problema surge quando ela incide sobre áreas urbanizadas, mal planejadas ou com infraestrutura vulnerável. “Uma tempestade forte sobre o mar ou sobre a Lagoa dos Patos dificilmente causaria um desastre. Mas quando a mesma chuva cai sobre uma metrópole com infraestrutura precária e comunidades em áreas de risco, o resultado é catastrófico”, exemplifica.

A pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) Cátia dos Santos diz que “Desastre não é sinônimo de fenômeno natural. Ele acontece quando o evento natural encontra uma sociedade vulnerável. Por isso, o foco precisa ser na redução das vulnerabilidades”. Essa compreensão reforça o papel da engenharia não apenas na resposta, mas, principalmente, na prevenção de desastres. “Por enquanto isso é muito incipiente”, avalia.

Entende que é necessário atenção para planejamento urbano falho e ocupação desordenada. “A engenharia urbana aprendeu – mais uma vez – que a ocupação desordenada do solo é um dos principais agravantes de desastres. Casas construídas em áreas de várzea, margens de rios e encostas instáveis estavam entre as mais atingidas pelas enchentes. Cidades mais resilientes exigem planejamento territorial rigoroso, fiscalização ativa e políticas públicas que ofereçam alternativas dignas de moradia fora das zonas de risco. Está apenas começando a tomar forma.”

A pesquisadora cita também os sistemas de drenagem ultrapassados ou inexistentes. “O excesso de impermeabilização das cidades – com calçadas, ruas e prédios cobrindo o solo – impede que a água da chuva infiltre naturalmente. O resultado? Alagamentos cada vez mais frequentes. O sistema de drenagem urbana, em muitos municípios gaúchos, não acompanhou o crescimento populacional nem a intensidade crescente das chuvas.”

Soluções como pavimentos permeáveis, jardins de chuva, reservatórios subterrâneos – os chamados piscinões – e infraestrutura verde são estratégias modernas que já se mostraram eficazes em outros países. “Mas tudo isso ainda não está bem desenvolvido no contexto brasileiro”, lamenta.

Aponta ainda o papel da vegetação, pois o desmatamento de áreas naturais, especialmente nas margens dos rios, compromete a capacidade do solo de absorver a água da chuva. “As chamadas matas ciliares, por exemplo, funcionam como esponjas naturais – e sua ausência contribui para o aumento do volume e da velocidade da água escoando para áreas urbanas. “A recuperação ambiental de áreas degradadas precisa ser tratada como prioridade de engenharia e de política pública. Ainda não está no seu pleno potencial”, sugere.

Tecnologia para monitorar, prever e agir

Tecnologia para monitorar, prever e agir

O uso de sensores, inteligência artificial, imagens de satélite e radares meteorológicos permite prever eventos extremos com maior antecedência. No entanto, essa tecnologia ainda não está amplamente distribuída no Brasil, e muitos municípios não possuem protocolos eficientes de resposta.

“Além de monitorar, é essencial investir em educação de risco, simulados de evacuação e planos de contingência baseados em ciência. Precisa de mais tempo para evoluir, pois no momento atual apresenta um caráter embrionário”, aponta.

As mudanças climáticas mudaram o jogo

As mudanças climáticas mudaram o jogo

Obras e sistemas precisam ser pensados para suportar cenários mais severos e imprevisíveis. “A engenharia precisa planejar para extremos. As chuvas de hoje não são mais as chuvas de 50 anos atrás. O dito antigo continua atual: prevenir é mais do que remediar – é salvar vidas. As enchentes no Rio Grande do Sul evidenciam que o caminho mais seguro não está apenas em grandes obras pós-desastre, mas sim na prevenção estruturada e inteligente. Investir em planejamento urbano, drenagem adequada, reflorestamento e monitoramento não é gasto: é proteção.”

Ressalta que é preciso fortalecer pontes, estradas e barragens com base em novos cenários climáticos. “A chuva que caiu no estado superou recordes históricos e rompeu a capacidade de muitas obras de infraestrutura. Estradas federais, como a BR-116, foram cortadas; pontes colapsaram. Isso mostra que os padrões antigos de construção já não servem para o mundo atual. Os códigos de construção e normas técnicas devem ser atualizados, exigindo padrões mais robustos e flexíveis para resistir a extremos”, avalia.

“Construir infraestrutura resiliente é pensar a longo prazo. É unir engenharia, ciência, políticas públicas e participação da sociedade. E, acima de tudo, é salvar vidas antes que a próxima enchente bata à porta.”

Ensino da Engenharia em tempos de mudanças climáticas

Segundo o Eng. Bulhões, depois da tragédia ambiental, um alerta ecoou também dentro das universidades: “será que estamos formando engenheiros preparados para os desafios reais do século XXI? A resposta, segundo professores e especialistas, é clara: o modelo de ensino da engenharia está sendo questionado, e já começa a mudar. Historicamente, os cursos de engenharia no Brasil são muito voltados para a resolução de problemas depois que eles acontecem. Mas os eventos extremos estão mudando essa lógica. Professores têm introduzido, com mais ênfase, disciplinas e projetos voltados à prevenção de desastres, análise de riscos e engenharia resiliente”.

Universidades como a UFRGS, UFPEL e PUCRS já estão reformulando suas matrizes curriculares para incluir estudos de caso reais, simulações de desastres e até módulos sobre mudanças climáticas aplicadas à engenharia.

“A nova engenharia não pode mais ser isolada. Os cursos estão sendo incentivados a trabalhar de forma mais integrada com as áreas de arquitetura, urbanismo, geociências, meteorologia e engenharia ambiental. Essa abordagem interdisciplinar reforça a compreensão de que obras precisam respeitar o território, a natureza e as dinâmicas sociais – algo que nem sempre foi bem explorado nos currículos tradicionais.”

Outro reflexo direto das enchentes, segundo o Eng. Bulhões, foi o aumento do interesse por tecnologias de monitoramento, sensoriamento remoto e uso de dados em tempo real para prevenção de desastres. “Alguns cursos já começaram a incluir ferramentas como: a) Softwares de modelagem hidrológica; b) Plataformas de análise geoespacial; c) Aplicativos de alerta e evacuação baseados em IA.”

As enchentes também revelaram que a engenharia precisa estar mais próxima da sociedade. Muitas universidades estão estimulando projetos de extensão em comunidades de risco, criando laboratórios de soluções sustentáveis e fomentando estágios em Defesa Civil, ONGs e setores públicos. “Essa aproximação ajuda os alunos a entenderem a realidade para além dos livros — como vivem as pessoas que moram nas áreas de risco e o que significa, na prática, uma cidade desigual e vulnerável.”

Finalizando, o ex-reitor da UFRGS ressalta que o ensino de engenharia está em transição, mas que precisa acelerar. “A tragédia de 2024 está sendo um divisor de águas para a formação dos engenheiros brasileiros. Ainda há muito a ser feito, mas a semente já foi plantada. A engenharia do futuro precisa ser humana, adaptável e comprometida com a vida. O desafio agora é transformar esse aprendizado em formação sólida, ética e prática — antes que a próxima enchente nos ensine, novamente, da pior forma possível.”

Manutenção dos sistemas existentes

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Para o professor e pesquisador da Unisinos, Eng. Civ. Bernardo Tutikian, um dos aprendizados mais importantes da tragédia ambiental é a importância da manutenção dos sistemas existentes quando não estão em uso.

“Não dá para dizer, entretanto, que foi este o motivo que culminou com as enchentes, considerando que foi um evento de uma magnitude muito grande, nunca antes visto. Mesmo em um sistema operando perfeitamente ainda assim teríamos alagamentos, pessoas com as casas comprometidas, etc. Na Região Metropolitana de Porto Alegre, por exemplo, tínhamos um sistema de contenção de cheias que nunca tinha sido testado e realmente não funcionou”.

Mas é necessário pensar em infraestrutura resiliente e mudanças climáticas. Cidades e regiões ficaram totalmente ilhadas por meses, pois pontes foram simplesmente arrastadas pela enxurrada com árvores e pedras.

“Temos que pensar que as novas pontes deverão levar em consideração o aumento das medidas. Por exemplo, se a medida de um leito de rio são 4 metros de largura, então será necessário colocar as cabeceiras espaçadas de 6 a 7 metros, pensando que as águas do rio podem subir e as calhas aumentarem e chegarem até as cabeceiras. Portanto, temos que trabalhar com limites maiores. Pontes maiores, com cabeceiras mais robustas e protegidas. A gente viu muitas cabeceiras indo embora porque tiveram erosão. Há estudos de como construir estruturas mais resilientes para enfrentar estas mudanças.”

Também professor da Unisinos e conselheiro da Câmara de Engenharia Civil e Agrimensura do CREA-RS, o Eng. Civ. Uziel Cavalcanti de Medeiros Quinino ressalta a necessidade de conceber e melhor definir a construção de cidades resilientes.

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“É necessário conciliar modelos abrangentes de melhor avaliação da resiliência diante das inundações urbanas, e efeitos climáticos correlatos, a atualização de soluções de engenharia, bem como definição de ações de gestão. Além disso, é importante a previsão de processos que visam à gerência da crise/catástrofe decorrentes de inundações”, aponta.

Defende ainda a identificação e implantação de distintos sistemas que possam, de modo eficaz, prevenir os efeitos desastrosos de fenômenos como esse. “Ademais, quando impactadas, as cidades necessitam de mecanismos para recuperação pós-catástrofes de cheias, sem contrariar ou comprometer a sustentabilidade, em distintas dimensões. ”

Ressalta a necessidade de revisitar os planos de urbanização, referente à invasão de um espaço de drenagem natural. Para ele, convém avaliar a capacidade de escoamento dos canais e de armazenamento dos elementos constituintes das bacias hidrográficas, adjacentes aos perímetros urbanos - aproximação progressiva da zona urbana na direção das regiões propensas às catástrofes.

“É urgente investigar os diversos parâmetros sociais, econômicos e, particularmente, de infraestrutura de modo a diminuir os potenciais fatores que podem impactar na previsão de modelos.”

Pensando em estratégias para eventuais repetições de episódios como esse, aponta sistemas de avaliação (diagnóstico) com base nos históricos de pré e pós-catástrofe, considerando a necessidade de mobilização de espaço, competências de engenharia e dispositivos referentes à gestão – modelagem estatísticas, fundamentação científica, identificação de falhas e insuficiências relacionadas com a infraestrutura, elencar medidas urgentes de adaptação.

“Temos que investir na formação de novos profissionais de engenharia e/ou fortalecer as linhas formativas dos engenheiros atuantes”, aponta.

Ressalta que o comportamento de enchentes, e similares, é complexo e uma combinação de inúmeros fatores, além de clima e dados da localidade. “Então, convém uma revisão forte acerca do planejamento das cidades, especialmente no que se refere à drenagem urbana para lidar com esses efeitos desfavoráveis. Incluo a questão ligada à urbanização desenfreada e sem planejamento e regularização, bem como substituir/modernizar os elementos de infraestrutura urbana, atualmente deficitários.”

Em sua avaliação entende que é urgente a modernização dos elementos de infraestrutura, manutenção de instalações primordiais: como abastecimento de água; fornecimento de energia elétrica; acesso e operação de hospitais; elevação de vias, sensores de monitoramento e adaptação; alerta em tempo real; expansão de sistema de drenagem; garantia dos corredores de transporte (mobilidade) e integração com os polos principais.

Além disso, afirma ser fundamental o envolvimento da comunidade – sensibilização, preparação e orientação de práticas, iniciativas educativas, capacitação dos locais, etc.

“Também é necessário investimento em recursos tecnológicos que possam oferecer antecipação / evolução das condições ambientais, monitorização de enchentes / deslizamentos, ferramentas de análise de extensão de áreas impactadas, quantificar / qualificar áreas de risco, integralização de plataformas com intento de melhorias nos processos de tomada de decisão verso gestão dos desastres naturais”, detalha.

Também sugere relacionar as questões técnicas de engenharia, por exemplo, com os aspectos de justiça social, construção de habitações adaptadas, atendimento às necessidades da comunidade, questões ligadas à acessibilidade, entendimento dos planejamentos de evacuação, clareza sobre os recursos emergenciais, assistenciais, médicas, etc.

O Eng. Hiratan Pinheiro da Silva, superintendente do DNIT no RS que liderou os esforços de recuperação das rodovias federais após as enchentes que afetaram o estado em maio de 2024, destacou que a recuperação foi um desafio complexo, com diversos trechos de rodovias danificados e a necessidade de reconstrução de pontes e viadutos. “A nossa equipe trabalhou com agilidade e técnica para restabelecer o tráfego e garantir o acesso à população gaúcha. A BR-470 foi a rodovia mais afetada, com trechos que desapareceram completamente. O DNIT estima que a recomposição total das rodovias federais no RS levará ao menos dois anos, devido à complexidade das obras em encostas.”

• DNIT

O DNIT implementou ações emergenciais para restabelecer o tráfego, incluindo a recuperação de pontes, viadutos e trechos de rodovias danificados. A recuperação das rodovias foi um desafio complexo, com a necessidade de adaptação às condições do terreno e de enfrentamento de novas ocorrências. O governo federal destinou R$ 111,6 bilhões para a reconstrução do Rio Grande do Sul, incluindo recursos para a recuperação das rodovias.

O DNIT trabalhou em parceria com outros órgãos do governo federal e com a Defesa Civil para garantir o socorro às famílias desabrigadas e a recuperação da infraestrutura.

Também, por meio do seu Instituto de Pesquisa Rodoviária, vem constantemente atualizando e adequando os normativos, em busca de soluções mais resilientes. Todos os elementos como novos materiais, equipamentos e tecnologias são analisadas. O evento climático que ocorreu no RS em 2024, também está servido como base nas análises.

 

• DAER
 

De acordo com o diretor-geral do DAER-RS, Luciano Faustino da Silva, o primeiro momento foi a reconexão do estado.

“Vivemos um evento que mudou o Rio Grande do Sul. Assim como as obras que estamos fazendo vão transformar o estado, nos tornando ainda mais fortes. No ano passado, o que mais nos preocupava era encontrar rotas alternativas para o deslocamento das pessoas. Não tinha como saber quais estradas estavam bloqueadas e como levar mantimentos, pessoas, remédios. Nem mesmo os aplicativos, como waze, conseguiam atualizar em tempo real as rotas”, explicou.

O destaque foi a interação e o trabalho conjunto entre Daer e Dnit, Polícia Rodoviária Federal e Comando Rodoviário da Brigada Militar, que resultou na criação de um aplicativo com todos os dados centralizados, para criar alternativas de rotas, enfatiza Luciano.

“Este evento climático trouxe muitos desafios, principalmente para um órgão como o Daer, que já tinha planos rodoviários muito grandes em andamento. O orçamento até 2021 girava em torno de R$ 150 milhões por ano. Desde 2021, o orçamento bateu na casa de R$ 1 bilhão de reais de obras executadas. Hoje o Rio Grande do Sul é um canteiro de projetos. A demanda por sondagem, por material técnico, equipamento e especialistas é enorme. E o mercado não está preparado para atender esta demanda. A reconstrução do Rio Grande do Sul está embasada em tornar as nossas estradas em melhores do que estavam, com características de resiliência, que é um tema muito vigente para todos nós”.

Para o diretor-geral o Rio Grande do Sul tem um mercado de engenharia promissor, com muito profissionais e empresas qualificados, que em outros anos se expandiram para outros estados. “E agora as empresas estão trazendo de volta estes profissionais para o estado. Neste momento de reconstrução das estradas, a população quer respostas rápidas.”

BOX 1: Economia Circular na Construção Civil – Um Pilar das Cidades Inteligentes

Inspetores da Regional Serra acompanham obras de reconstrução da BR-470

Inspetores da Regional Serra acompanham obras de reconstrução da BR-470
Inspetores da Regional Serra acompanham obras de reconstrução da BR-470

Inspetores da Regional Serra participaram, no dia 11 de junho, de uma visita técnica às obras de reconstrução da BR-470, no trecho entre os municípios de Bento Gonçalves e Veranópolis. A ação foi organizada em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que apresentou aos participantes o panorama das intervenções em execução na rodovia.

Um ano após ser atingida por mais de 90 deslizamentos de terra, durante as chuvas de maio de 2024, a estrada passa por uma ampla operação de reconstrução, envolvendo 689 trabalhadores e 408 equipamentos. São 33 frentes de obras, distribuídas em 18 lotes, com um investimento de aproximadamente R$ 720 milhões.

Durante a visita, o Engenheiro Civil do DNIT, Adalberto Jurach, destacou o caráter técnico e estratégico da intervenção. “Mais do que restituir a infraestrutura, buscamos garantir a resiliência. Estamos empregando tudo o que a engenharia tem disponível para que, em novos eventos extremos, o impacto seja minimizado. Trata-se de um esforço para sermos menos afetados diante de novas situações críticas.”

Inspetores da Regional Serra acompanham obras de reconstrução da BR-470

Entre as soluções adotadas estão obras de contenção, drenagem, monitoramento de movimentações de massa e de volume pluviométrico, além da construção de dois novos viadutos, com alteração do traçado original da via afetada. O cronograma prevê a conclusão dos viadutos até dezembro deste ano.

Um dos destaques do projeto é a instalação de cortinas de contenção com 280 metros de comprimento por 12 metros de altura, além de barreiras dinâmicas — soluções inéditas no Brasil, em tal porte. Também estão sendo empregadas técnicas como grampeamento verde, muros de gabião, retaludamento e enrocamento, compondo um conjunto robusto de soluções de engenharia geotécnica.

Inspetores da Regional Serra acompanham obras de reconstrução da BR-470
Inspetores da Regional Serra acompanham obras de reconstrução da BR-470

Segundo Jurach, um sistema de monitoramento pluviométrico foi instalado ao longo da rodovia. “Ele conta com sensores que disparam alertas por e-mail e WhatsApp aos gestores, permitindo a interdição preventiva da via em caso de chuvas superiores a 50 mm em 24 horas.”

A Serra das Antas foi a região mais impactada, registrando 88 ocorrências de grande porte, incluindo quedas de barreiras, árvores e fluxo de detritos com características de avalanche. Os 24 quilômetros entre Bento Gonçalves e Veranópolis, onde se concentram distritos industriais, foram os mais afetados.

O processo de resposta e reconstrução contou com inspeções visuais, sobrevoos e o uso de tecnologias de sensoriamento remoto, como drones, ortomosaicos e levantamento a laser, que embasaram os anteprojetos e os orçamentos de contratação emergencial.

A comitiva foi recebida pelo DNIT local, que atua com uma equipe de quatro servidores (dois engenheiros e dois técnicos), apoiados por empresas contratadas responsáveis pelo acompanhamento diário das ações. A previsão é de que os principais trechos estejam com tráfego parcial liberado até o mês de agosto.

Inspetores da Regional Serra acompanham obras de reconstrução da BR-470

Participaram da visita, o inspetor-tesoureiro de Vacaria, Eng. Civ. Paulo Eduardo Duarte Ferreira; os inspetores chefe e secretária de Bento Gonçalves, Eng. Civ. Diego Rubbo e Eng. Amb. e de Seg. Trab. Kellen Schimitz; os inspetores chefe, secretário e tesoureiro de Canela/Gramado, Eng. Quim Patriane Noschang Pletsch, Eng. Civ. Rodrigo Cavichioni e Eng. Eletric. Lucas Bonatto de Azevedo; e inspetor-tesoureiro de Caxias do Sul, Eng. Amb. e Eng. Seg. Trab. Clóvis Reis Claudino, além do convidado do CREA-SC, inspetor-chefe de Lages (SC), Eng. Civ. Diogo Steinheuser. Além dos inspetores, participaram da visita o coordenador das Inspetorias, Eng. Sanit. e de Seg. do Trab. Gabriel Costa Konig; o gestor institucional, Eng. Prod. Mec. Fabio Chaves; a chefe do Núcleo de Fiscalização, Alessandra Maria Borges; a supervisora Raquel Fortes; e o agente fiscal Sergio Durli.

PESQUISAS PARA O ENFRENTAMENTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Os pesquisadores gaúchos contribuíram muito para diminuir o impacto das enchentes, como o Geógrafo Clódis de Oliveira Andrades Filho, professor adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de Sensoriamento Remoto, junto ao Departamento de Geodésia - Instituto de Geociências (Igeo). Atua nos cursos de graduação em Geografia, Geologia e Engenharia Cartográfica.

O professor e o Geól. e mestrando Lorenzo Fossa Sampaio Mexias coordenaram um trabalho que resultou de uma força-tarefa emergencial de mapeamento dos deslizamentos de terra na região da Serra Gaúcha com o uso de imagens de satélite, drone e missões em campo.

“Realizamos o WebMapa de Movimentos de Massa para equipes de apoio na Situação de Calamidade - RS - maio de 2024, gerado por uma equipe de 50 profissionais e estudantes da Geologia, Geografia, Engenharia, entre professores, alunos e profissionais voluntários das regiões”, explica. Os resultados foram publicados na Nota Técnica Conjunta IGEO/CEPSRM - 06/2024. Acesso: https://arcg.is/ezjvW.

Segundo o professor, movimentos de massa deixam cicatrizes da movimentação de solo e/ou rochas visíveis no terreno, os quais podem ser mapeados. As cicatrizes foram delimitadas por interpretação visual de imagens orbitais de alta resolução espacial oriundas dos sistemas WorldView, CBERS 4A, EROS C, BlackSky e Planet. "A região de abrangência de mapeamento é de aproximadamente 18 mil km², onde estão localizadas as bacias hidrográficas Taquari-Antas, Caí, Sinos, Pardo, Alto e Baixo Jacuí e Vacacaí-Mirim. Foram mapeadas cicatrizes de movimentos de massa, total = 15.376, e pontos de ruptura de movimentos de massa, total = 16.862.”

O estudo também estimou, a partir dos resultados da Nota Técnica 01/2025, que foram atingidas, 10.212 propriedades rurais e 2.430 trechos de estrada.

Os produtos do mapeamento serviram de suporte:

a) às ações in loco da Defesa Civil, bombeiros e prefeituras em análise emergencial de risco geológico, resgates e buscas de pessoas, que seguem sendo realizadas devido à existência de 25 desaparecidos até a presente data,

b) ao Governo do Estado do RS para a definição da Área Diretamente Atingida (ADA) pelo desastre no território gaúcho e que visou assim estabelecer o direcionamento das políticas públicas e o acesso aos benefícios emergenciais de auxílio à população atingida,

c) à Receita Estadual (Secretaria da Fazenda) na estimativa de propriedades atingidas, visando recálculo de tributação às propriedades afetadas,

d) na estimativa de danos à infraestrutura para elaboração de planos de trabalho de recuperação de estradas e pontes, destinados à Defesa Civil Nacional e prefeituras de municípios que entraram em Situação de Emergência ou Estado de Calamidade,

e) ao Ministério Extraordinário da Reconstrução do Governo Federal, com informações sobre os impactos nas encostas, visando suporte a políticas públicas, sobretudo o suporte na análise de perdões e renegociação de dívidas em propriedades rurais atingidas,

f) estabelecimento das áreas foco para o “bombardeamento” aéreo de sementes visando a recuperação do solo atingido por deslizamentos;

g) formações de profissionais da área nos municípios para a manipulação dos dados da emergência,

h) uso em projetos que visam a revisão de Planos Diretores e elaboração dos Planos Municipais de Redução de Riscos (PMRRs) em desenvolvimento no estado do RS.

I) às imprensas locais, regionais e nacionais, com informações e entrevistas sobre o desastre relacionados aos movimentos de massa.

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O professor ressalta que os estudos estão auxiliando na elaboração de medidas que devem contribuir para as estratégias de prevenção, como as que aconteceram em junho deste ano. Uma das frentes de trabalho é o aperfeiçoamento de mapeamentos de suscetibilidade a novos deslizamentos, ou seja, a indicação das áreas dentro dos municípios, que tem mais ou menos propensão a novos movimentos de massa. Essa frente é desenvolvida a partir de uso de dados geoespaciais oriundos de satélites, levantamentos aéreos e dados geológicos e geomorfológicos de campo. Esses dados estão auxiliando os municípios na elaboração dos seus planos de contingência, no caso de novos eventos extremos, e revisão de planos diretores e outros instrumentos que permitam a melhoria do ordenamento territorial, diante do cenário de aumento de episódios de chuvas extremas.

Na UFRGS, estão desenvolvendo dois projetos nessa frente. O primeiro é denominado Cenário Geológico-Geomorfológico e Suscetibilidade nas Encostas do Rio Grande Do Sul: Legado de 2024. O projeto é conduzido por uma parceria do Instituto de Geociências (IGeo) e Centro de Pesquisas em Sensoriamento Remoto e Meteorologia (CEPSRM), com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da UFRGS. As equipes do Laboratório de Geologia de Engenharia e Ambiental do IGEO, coordenada pelos prof. Antônio Pedro Vieiro e Clóvis Gonzatti, e do Laboratório Latitude, coordenado pelo Prof. Clódis Andrades Filho, estão à frente dessa iniciativa que busca se fortalecer a partir de captação de financiamento para ampliação de equipe e infraestrutura de suporte.

O professor ressalta ainda que outra frente de trabalho está no monitoramento in loco de áreas atingidas em 2024 com instrumentos sensíveis à deformação do solo, umidade do solo e medidas pluviométricas com o intuito de aperfeiçoar alertas direcionados ao risco geológico e à compreensão de como as encostas da Serra Gaúcha e Vales se comportam em novos episódios de chuva diante das suas condicionantes geológicas. “O estabelecimento de limiares críticos de chuva para emissão de alertas mais assertivos é ainda um gargalo para a gestão de risco no RS e essas iniciativas auxiliam nesse processo”, aponta.

Um exemplo dessa frente é uma ação fruto da parceria entre a Associação dos Descendentes de Imigrantes da Boêmia (Adib) e a UFRGS em Nova Petrópolis (RS), que resultou no Projeto Piloto de Educação e Monitoramento Comunitário Rural: Vida Segura e Resiliente, liderado por Peter Klaus Hillebrand, Geólogo e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto (PPGSR/UFRGS), sob a orientação dos professores Clódis de Oliveira Andradres-Filho e coorientação de Ruy Paulo Philipp. “A iniciativa pode ser adaptada a outras comunidades rurais que vivem na Serra Gaúcha e Vales em áreas de risco geológico, como aquelas que moram nos 150 municípios atingidos por deslizamentos de terra no desastre de abril e maio de 2024. A iniciativa conta com financiamento da República Tcheca”, informa.

Para conhecer mais a iniciativa: https://www.ufrgs.br/site/noticias/distrito-de-boemios-em-nova-petropolis-e-exemplo-de-resiliencia-estrategica-apos-desastres-de-2024/.

USO DE IMAGENS DE SENSORIAMENTO REMOTO NA PREVENÇÃO E NO MONITORAMENTO

 

As imagens de sensoriamento remoto podem auxiliar em diferentes fases de análise e ação em caso de eventos extremos. Para a prevenção, as imagens auxiliam na identificação de áreas mais e menos propensas a deslizamentos, permitindo um subsídio de controle temporal sobre o que está sendo realizado nessas áreas, além de apontar áreas de atenção especial ao risco. “Durante e pós-eventos extremos as imagens auxiliam na identificação das áreas atingidas para atuação das equipes de emergência e, na sequência, estabelecimento das iniciativas de recuperação. Também são utilizados satélites meteorológicos para a previsão do tempo e indicação de áreas críticas para novas chuvas”, explica o professor Clódis.

Ressalta que o Serviço Geológico do Brasil (SGB) tem empreendido esforços na elaboração da Cartografia de Risco Geológico para os municípios do Rio Grande do Sul. “Este trabalho envolve coletas de dados em missões de campo e identificação detalhada de setores de alto e muito alto risco geológico. O trabalho permanece em realização e os produtos podem ser acessados em: https://www.sgb.gov.br/cartografia-de-riscos-geologicos-rio-grande-do-sul”, indica.

 

APRENDIZADOS

O pesquisador aponta que é necessária a adaptação à condição de mudanças climáticas no sul do Brasil. “Precisamos empreender esforços e construir estratégias que visem a melhor convivência com o risco e que permitem uma adaptação à esta realidade”.

Para isto, cita a necessária construção e execução de ações efetivas para as cinco fases da gestão de risco: 1) prevenção, 2) mitigação, 3) preparação, 4) resposta, e 5) recuperação. Entende que é urgente fortalecer órgãos que atuam diretamente na gestão de risco, sobretudo a Defesa Civil em seus diferentes níveis, municipal, estadual e nacional.  Além dos órgãos de pesquisa e monitoramento como o Serviço Geológico do Brasil (SGB), o Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), bem como as universidades, que realizam ações de pesquisa, ensino e extensão e atuam junto às comunidades, construindo iniciativas que nascem da base. “Nesse sentido, ciência, tecnologia, comunidades e poder público, integradas, serão capazes de trazer os avanços necessários”, defende.

Um exemplo de iniciativa nessa frente, da qual o professor faz parte, é o Projeto “Previne-Taquari Antas – Bacia Protegida, Comunidade Segura”, coordenado pelo prof. Guilherme Garcia de Oliveira do Campus Litoral e CEPSRM da UFRGS, tendo colaboração do Igeo, IPH e Fabico da UFRGS, em parceria com a SGB, Univates, Unisc, UFSM, Tidesat, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). “O projeto está realizando o desenvolvimento de estratégias para prevenção, alerta e resposta a eventos extremos geo-hidrológicos para redução de riscos associados a inundações, enxurradas e movimentos de massa na bacia hidrográfica do Taquari-Antas. Assim, esse projeto abrange a interação entre instituições e membros da comunidade para construir estratégias que contribuam com todas as fases da gestão de risco. O andamento do projeto pode ser acompanhado no Instagram: @previne_taquari_antas”, sugere.

Destaca ainda que a UFRGS, a partir da liderança da reitora Márcia Barbosa, está constituindo uma Secretaria de Emergência Climática da Universidade que tem como finalidades promover o fortalecimento da área científica na área de gestão de risco e a interlocução da ciência com a comunidade para atuação no contexto de eventos extremos. “Nesse sentido, a UFRGS promoveu, em maio de 2025, o Summit de Mudanças Climáticas (https://www.climatesummit.com.br/), alusivo a um ano do desastre no RS, onde apresentamos nossa atuação e fortalecemos o projeto de constituição da Secretaria de Emergência Climática da UFRGS. Os eventos de interlocução das instituições têm sido importantes nesse período de recuperação do desastre de 2024 e os produtos e benefícios deverão ter um papel fundamental na resiliência do Rio Grande do Sul”, finaliza.

 

SAIBA MAIS

Participação da UFRGS (CEPSRM/ IGeo – Latitude) em alguns Programas na TV

Coordenação: Prof. Clódis Andrades Filho

 

• Fantástico de 03/11/2024 – UFRGS a partir de 8min 20

Link 1: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2024/11/03/seis-meses-apos-enchentes-no-rs-familias-que-perderam-suas-casas-enfrentam-o-drama-de-uma-vida-provisoria.ghtml

Link 2: Seis meses após as enchentes: o hoje e o amanhã dos moradores do Rio Grande do Sul https://www.cwaclipping.net/sistema/cliente/materia?token=a-9d0c055cfccdb44b99b2e24cc8bea02f1c157560

• Profissão Repórter

Link: Projeto de Nova Petrópolis.

 https://globoplay.globo.com/profissao-reporter/t/m9k2cnjw1D/

 

• RBS TV

06/11/2024 | 19:34:54 | RBS TV | RBS Notícias | 00:03:54 | Positiva Estudo da UFRGS aponta Caxias como a cidade com maior quantidade de marcas de deslizamentos na Serra https://www.cwaclipping.net/sistema/cliente/materia?token=a-95c117d8d0989f56b79dc1ef6f1dfd5e4fe8bde3

07/11/2024 | 07:50:22 | RBS TV | Bom Dia Rio Grande | 00:05:59 | Positiva Deslizamentos na Serra: Caxias do Sul teve maior número de desmoronamentos, segundo a UFRGS https://www.cwaclipping.net/sistema/cliente/materia?token=a-59f2c5292518178fd7c004809c02b091a9262aaa

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