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Débora Luana Pasa Drª. Engenheira Florestal - CREA RS 212.548

O Papel da Engenharia Florestal na Mitigação das Mudanças Climáticas: Oportunidades em Projetos de Captura de Carbono

De acordo com o relatório das Nações Unidas, a população mundial passou de 5,6 bilhões para 8,1 bilhões de pessoas, com estimativas apontando para um aumento de quase 9,9 bilhões até 2054 (ONU, 2024). Esse crescimento contínuo resulta em uma maior demanda por recursos naturais, bens de consumo, empregos, serviços, atividades e empreendimentos (OLIVER et al., 2022). Junto ao aumento populacional, ocorrem diversas ações humanas que, direta ou indiretamente, geram perturbações ambientais, emitindo uma alta concentração de GEE, as quais impactam, em geral, a saúde, a segurança, o bem-estar da população, as atividades sociais e econômicas, as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente e a qualidade dos recursos naturais (SÁNCHEZ, 2020).

Assim, as mudanças climáticas são um dos maiores desafios globais da atualidade. O aumento da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, especialmente o dióxido de carbono (CO₂), tem causado um aumento nas temperaturas médias globais ao longo das últimas décadas, modificando os padrões climáticos e perturbado o equilíbrio no meio ambiente.

A  medida  em que  a  concentração  de  GEE  aumenta,  o  mesmo  acontece  com  a  temperatura  do  planeta,  o  que  vem potencializando   a   ocorrência de   desastres   ambientais,   como   o   aumento   da   seca,   perda   da biodiversidade,  mudanças  nos  padrões  de  temperatura  do  oceano,  enchentes,  maior  ameaça  à  saúde humana  e  inundações  que  podem  afetar  a  pesca,  a  agricultura  e  pecuária,  ou  seja,  podem prejudicar  o  abastecimento  de  alimentos,  aumentando  a  fome (GLOBAL  CLIMATE  CHANGE,  2023; NAÇÕES  UNIDAS,  2024). 

Sendo assim, além da urgente e necessária conscientização humana para redução das emissões de GEE e da poluição ambiental, a captura e o armazenamento de carbono surgem como soluções eficazes para reduzir a quantidade de CO₂ na atmosfera e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. As florestas desempenham um papel vital nesse processo, pois, por meio da fotossíntese, elas absorvem o carbono da atmosfera e o armazenam em sua biomassa e no solo. As florestas são, portanto, grandes "sumidouros de carbono", fundamentais para o equilíbrio do clima global. Nesse contexto, o profissional de Engenharia Florestal se destaca, pois atua diretamente com as florestas.

Os Engenheiros Florestais possuem um conjunto de habilidades técnicas que os tornam essenciais para o desenvolvimento e implementação de projetos eficazes de captura de carbono. Eles são responsáveis por planejar, monitorar e garantir que as florestas cumpram sua função de sequestrar e manter o carbono, ao mesmo tempo em que promovem a biodiversidade e a sustentabilidade ecológica.

Atualmente, dentre os principais projetos de carbono relacionados à área florestal podemos destacar: Reflorestamento e Aflorestamento (AR), Manejo Florestal Sustentável (FM), Conservação de Florestas Nativas (REDD+ - Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) e Agroflorestas.

O desenvolvimento desses projetos envolve muito conhecimento técnico e científico. O entendimento em ecologia florestal (taxas de crescimento das árvores, ciclos de carbono, interações entre espécies), fisiologia (taxas de fotossíntese, produção de biomassa), técnicas de medição e monitoramento de carbono (com base em inventários florestais, modelagem, sensoriamento remoto) e manejo florestal são fundamentais para a implementação dos projetos de crédito de carbono. Além disso, saber calcular a quantidade de carbono sequestrado por meio de equações alométricas e modelos de crescimento são imprescindíveis para determinar a quantidade de créditos de carbono gerados e que podem ser comercializados. Diante desses critérios, o Engenheiro (a) Florestal ganha destaque, visto que possui as habilidades técnicas necessárias para a implantação eficiente desses projetos.

Além da expertise técnica para desenvolver projetos de carbono florestal, é fundamental que os profissionais envolvidos (ou a equipe técnica envolvida) também possuam um entendimento abrangente de outros aspectos relacionados a esse tipo de projeto. Isso se deve ao fato de que, para que um projeto de captura de carbono seja eficaz e bem-sucedido, é necessário que ele envolva uma série de componentes interdisciplinares, que vão desde o contexto social e econômico até o entendimento de políticas públicas e regulamentações. Dentre eles podemos citar:

  1. ​Aspectos econômicos e financeiros: projetos de carbono são, em sua essência, investimentos financeiros. Além de se preocupar com o sequestro de carbono, é importante entender a viabilidade econômica do projeto.
     

  2. Mercado de créditos de carbono: o entendimento do mercado de créditos de carbono é essencial para que os profissionais possam gerar e comercializar créditos de forma bem-sucedida. É necessário compreender como a demanda e oferta de carbono impactam o preço no mercado, além dos mecanismos de comercialização.
     

  3. Aspectos Jurídicos e Regulatórios: é fundamental entender as leis, normas e regulamentações que governam as iniciativas de mitigação de mudanças climáticas, tanto em nível nacional quanto internacional, tais como: legislação de uso da terra e licenciamento ambiental.
     

  4. Normas de Certificação e Verificação: a certificação de um projeto de carbono exige o cumprimento de uma série de normas internacionais ou nacionais que asseguram que o projeto realmente contribua para a mitigação das mudanças climáticas.
     

  5. Aspectos sociais e comunitários: é essencial integrar considerações sociais no planejamento e execução da proposta, visto que os projetos de carbono frequentemente impactam comunidades locais.
     

  6. Aspectos tecnológicos: o domínio de diversas ferramentas tais como imagens de satélites, drones e LiDAR, são necessárias para garantir que os dados sejam coletados de maneira precisa e eficiente.
     

  7. Aspectos políticos e institucionais: os projetos de carbono são frequentemente influenciados por políticas públicas e por acordos internacionais relacionados às mudanças climáticas, como os Acordos de Paris e outras iniciativas globais. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

 

Os Engenheiros Florestais possuem um papel significativo na implementação de projetos de carbono, combinando seu conhecimento técnico com o compromisso com a sustentabilidade. Eles não apenas contribuem para os projetos de mitigação das mudanças climáticas, mas também impulsionam o desenvolvimento econômico por meio de iniciativas como a geração de créditos de carbono e a criação de novas oportunidades de mercado. Dessa forma, a profissão tem um papel estratégico no futuro do planeta, ajudando a equilibrar a economia com a necessidade urgente de preservação ambiental.

 

Palavras-chave: projetos de carbono, mitigação climática, conhecimento técnico

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

ONU –Organização  das Nações  Unidas. “Perspectiva  Global  Reportagens  Humanas.  População mundial  chegará  a  9,9  bilhões  em  2054”. ONU [2024].  Disponível  em:  <www.un.org>.  Acesso  em: 20/02/2025

 

OLIVER, T. H.et al. “A safe and just operating space for human identity: A systems perspective”. The Lancet Planetary Health, vol. 6, n. 11, 2022

 

SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de Impacto Ambiental:conceitos e métodos. São Paulo: Editora Oficina de Textos, 2020

 

GLOBAL  CLIMATE  CHANGE.  “What’s  the  difference  between  climate  change  and  global warming?”. NASA [2023]. Disponível em: <www.nasa.gov>. Acesso em: 20/02/2025

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