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Como se tornar um perito em Engenharia?

A perícia em engenharia é a aplicação do conhecimento técnico e científico da engenharia para auxiliar na resolução de questões judiciais, investigações criminais e outras situações que envolvam análise de estruturas, equipamentos, projetos, acidentes, entre outros. Engenheiros são frequentemente chamados para atuar como peritos em casos que demandam conhecimento especializado para determinar causas, responsabilidades e avaliar danos.  

Para se tornar um perito na área de engenharia, é fundamental ter formação superior em Engenharia, com registro no CREA e experiência prática na área de atuação. Além disso, é importante desenvolver habilidades de análise crítica, comunicação eficaz e ética profissional, além de buscar especializações e manter-se atualizado sobre as normas e procedimentos legais.   

Com 35 anos atuando como perito, professor da Ajuris, especialista em Engenharia Legal, Perícias e Avaliações, Mestre em Engenharia de Avaliações e atuação em processos judiciais e extrajudiciais, o Engenheiro Civil Marcelo Saldanha, conselheiro suplente da Câmara de Engenharia Civil e Agrimensura, explica como é a atuação do perito judicial. Acompanhe na entrevista a seguir. 

CONSELHO EM REVISTA – COMO SE TORNAR UM PERITO JUDICIAL NA ÁREA DA ENGENHARIA? 

Engenheiro Civil Marcelo Saldanha – A primeira coisa a fazer para começar a atuar em perícia em engenharia é garantir a formação acadêmica e o registro profissional. É necessário ter graduação em engenharia, com registro ativo no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA). Além disso, é recomendável buscar especialização ou cursos na área de perícias para aprofundar conhecimentos específicos sobre procedimentos e normas técnicas.  Importante também conhecer legislação, Código de Processo Civil e defesa do consumidor. Aprender a adaptar o conhecimento em engenharia dentro destas regras para atender às exigências do Judiciário. Aprofunde seus conhecimentos na área de atuação escolhida, incluindo normas técnicas, procedimentos e legislação pertinente. É necessário realizar sempre cursos complementares e aprimoramento de competências, como avaliação de imóveis, patologia das construções, inspeção e manutenção predial, gestão de condomínios.  

O perito será nomeado em questões que envolvem a engenharia, prestação de serviços, código do consumidor e vícios de construção.  

 

O QUE É PRECISO FAZER PARA COMEÇAR A ATUAR? 

Engenheiro Civil Marcelo Saldanha – Para atuar como perito em processos judiciais é necessário realizar um cadastro profissional no site do Tribunal de Justiça. Esse cadastro é geralmente feito através do Sistema Eletrônico de Assistência Judiciária Gratuita (AJG) ou plataformas semelhantes, e varia de acordo com o tribunal específico – Federal, Estadual ou do Trabalho. É necessário apresentar documentos como RG, CPF, comprovante de registro no CREA, diploma da área de atuação e comprovante de residência, além de currículo, informando as áreas de atuação, cursos, treinamentos e a região que atua. O tribunal analisará os documentos e, se aprovado, o nome do perito será incluído em uma lista pública de profissionais disponíveis para nomeação em processos.  Também é necessário concordar com o termo de compromisso que estabelece as exigências e obrigações para atuar como perito na justiça gratuita. Neste caso, os honorários periciais são geralmente pagos pelo tribunal, com recursos do orçamento público, quando a parte beneficiária da justiça gratuita é vencida na demanda e a perícia foi necessária para a decisão do caso. No entanto, se a parte beneficiária da justiça gratuita for vencedora, a parte contrária, se não for beneficiária da justiça gratuita, deverá arcar com os honorários periciais. O Conselho Nacional de Justiça é quem decide o regramento.  Mas existe uma resolução que permite que o juiz majore o valor da perícia em até cinco vezes, desde que justificado.  

 

 

ESTE É O INÍCIO DE SE TORNAR PERITO? 

Engenheiro Civil Marcelo Saldanha – A perícia judicial gratuita, embora possa parecer uma obrigação do perito, tem um papel crucial na construção da confiança do juiz no profissional. Ao aceitar e realizar perícias sob a égide da assistência judiciária gratuita, o perito demonstra seu compromisso com a justiça e com a imparcialidade, elementos essenciais para a credibilidade perante o magistrado. A perícia judicial gratuita é uma ferramenta importante para o perito construir uma imagem de profissional confiável e comprometido com a justiça, o que pode gerar benefícios tanto em termos de reputação quanto de oportunidades de trabalho. Independentemente de quem te paga, é necessário fazer o trabalho da melhor forma possível, com a materialização da prova.  

 

QUANTO MAIS EXPERIÊNCIA MELHOR? 

Engenheiro Civil Marcelo Saldanha – Adquira experiência prática em sua área de atuação, seja em projetos, obras ou outras atividades relacionadas à perícia. É preciso fazer um trabalho com responsabilidade, responder aos quesitos, estruturá-lo. Procurar aprimoramento, capacitação e atualização sempre. Perícia não é simplesmente responder aos quesitos, que são, na realidade, indagações das partes. Às vezes o quesito é impertinente, outras, está mal formulado ou desvirtuando o caminho das provas. Como é um ambiente de litígio, o perito precisa saber que não é o mediador, não defende ninguém. Exercer a sua técnica com engenharia, competência e profissionalismo. 

Os peritos precisam estar preparados para responder tecnicamente a todos os questionamentos que surgirem. Também devem ser imparciais, porque perito não julga, mas sim aponta problemas.  

OS PERITOS SÓ PODEM FAZER O TRABALHO EM SUAS MODALIDADES? POR EXEMPLO, O ENGENHEIRO CIVIL SÓ PODE ATUAR NESTA ÁREA? 

Engenheiro Civil Marcelo Saldanha – Em termos processuais, as perícias podem ser classificadas como simples ou complexas, com base na necessidade de conhecimentos técnicos específicos e na extensão da análise. As perícias simples, também chamadas de provas técnicas simplificadas, envolvem pontos controvertidos de menor complexidade e podem ser esclarecidas por um único especialista. Já as perícias complexas, por outro lado, exigem conhecimentos técnicos de diversas áreas ou aprofundamento em áreas específicas, podendo demandar a atuação de múltiplos peritos e assistentes técnicos.  

A principal diferença entre as duas modalidades reside na necessidade de um conhecimento mais aprofundado e na complexidade da análise. Em ambos os casos, a perícia busca esclarecer pontos controvertidos que demandam conhecimentos técnicos ou científicos, auxiliando o juiz na tomada de decisão.  

Há perícias multidisciplinares, que envolvem todas as modalidades. O juiz pode nomear mais de um perito em um processo. E o profissional deve informar ao juiz quando os processos necessitam de outras modalidades e sugerir nomes de outros colegas com outras atribuições.  

 

VOCÊ PODE DAR ALGUM EXEMPLO DE PERÍCIA E QUANDO É CHAMADO PELO JUIZ? 

Engenheiro Civil Marcelo Saldanha – A perícia judicial é um meio de prova utilizado em processos judiciais para esclarecer pontos técnicos ou científicos que exigem conhecimento especializado. O juiz pode solicitar uma perícia quando as partes envolvidas apresentam alegações que precisam de análise técnica para serem comprovadas ou esclarecidas.  

É um instrumento importante para auxiliar o juiz na tomada de decisões, fornecendo informações técnicas e científicas que podem ser cruciais para a resolução do caso.  

Existem três áreas com maior volume de perícias. As cautelares, por exemplo, envolvem antecipação de provas, produção antecipada de prova meritória, anunciação de obra nova, embargo de obra. O segundo grupo está em ações indenizatórias, que envolvem avaliações de aluguel, indenização por lucros cessantes de desapropriações, avaliação de perdas e danos. Tudo o que está no CPC.  

Ações possessórias são ações judiciais que visam proteger a posse de um bem, seja móvel ou imóvel, contra atos de turbação, esbulho ou ameaça à posse. São instrumentos legais para garantir a utilização do bem ao possuidor, sem discutir o direito de propriedade.   

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