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Débora Luana Pasa Drª. Engenheira Florestal - CREA RS 212.548 - Brasil Carbono Florestal LTDA

Guilherme Reisdorfer Engenheiro Florestal – CREA/RS 128.422 - Campos da Serra Consultoria Ambiental

Nadia Helena Bianchini Dra. em Engenharia Florestal - CREA/RS 224.927 - Campos da Serra Consultoria Ambiental

Sabrina Marques Wolf Engenheira Florestal – CREA/RS 205.570 – Sema de Lajeado 

Impactos das Enchentes sobre as Matas Ciliares: Importância da Cobertura Vegetal Adequada na Redução de Danos Ambientais 

INTRODUÇÃO

Em 2024, a temperatura média global superou, pela primeira vez, 1,5 °C em relação aos níveis pré-industriais (COPERNICUS, 2025), intensificando eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e incêndios. No Rio Grande do Sul, entre abril e maio, chuvas recordes ultrapassaram 700 mm em algumas cidades, afetando 2,4 milhões de pessoas, com mais de 180 mortes e 60% do território inundado. 

Nesse contexto, torna-se essencial avaliar os impactos das enchentes sobre as matas ciliares, fundamentais para reter sedimentos, proteger o solo e conservar a biodiversidade. Já pressionadas por ações antrópicas, essas áreas sofreram diretamente com a força das águas, resultando em erosão, arraste de vegetação, compactação do solo, soterramento de mudas e perda de biodiversidade, dificultando a regeneração natural. 

Esse processo forma um ciclo de retroalimentação, onde a degradação reduz a capacidade de contenção das cheias, agravando os impactos futuros. Com base no exposto, este artigo analisa os efeitos das enchentes sobre as matas ciliares e destaca a importância da cobertura vegetal na mitigação de danos ambientais e na adaptação climática. 

enchentes sobre as matas ciliares

IMPACTOS DAS ENCHENTES SOBRE AS MATAS CILIARES 

As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul expuseram a vulnerabilidade das APPs, essenciais à proteção hídrica. A perda da cobertura vegetal deixou o solo exposto, favorecendo a erosão e os desmoronamentos. O arraste de sedimentos e resíduos causou assoreamento dos rios, reduzindo sua profundidade, vazão e qualidade da água, além de comprometer funções ecológicas, como filtragem natural e reprodução de espécies. 

A fauna ribeirinha também sofreu com a perda de habitats, intensificando o desequilíbrio ecológico. Estudo de Ferreira et al. (2025) no rio Soturno (RS) identificou redução da cobertura vegetal de 194 para 37 hectares e alteração de 31% do curso natural após a enchente, com substituição da vegetação ciliar por sedimentos e entulhos. 

As matas ciliares estruturadas atuam como zonas tampão, protegendo ecossistemas aquáticos durante eventos extremos. A diversidade e complexidade da vegetação determinam a resiliência ecológica das margens fluviais. A conservação e a restauração das APPs ribeirinhas são, portanto, estratégias essenciais para mitigar desastres associados às mudanças no regime hidrológico. 

PRESERVAÇÃO DAS MATAS CILIARES E RESILIÊNCIA HÍDRICA 

A preservação das matas ciliares é essencial para aumentar a resiliência das bacias hidrográficas diante de eventos extremos como as enchentes. As APPs por sua localização estratégica ao longo de cursos d’água, exercem funções ecológicas cruciais para o equilíbrio hidrológico. Elas reduzem a velocidade do escoamento superficial, favorecem a infiltração da água no solo, filtram poluentes, estabilizam as margens dos rios e contribuem para a manutenção da qualidade e da quantidade da água. 

Quando bem conservadas, essas faixas vegetais funcionam como barreiras naturais capazes de reter sólidos em suspensão e impedir que a água pluvial atinja diretamente os leitos dos rios com força erosiva. Sua cobertura arbórea intercepta as chuvas, diminui o impacto direto das gotas sobre o solo e evita processos erosivos. Adicionalmente, aumentam a porosidade do solo e sua capacidade de absorver grandes volumes de água, reduzindo a ocorrência de enxurradas e alagamentos. 

Os estudos do Ipam (2022) indicam que a vegetação nativa pode reduzir em até 80% a carga de sedimentos transportados durante enchentes, enquanto dados da Embrapa (2020) mostram que matas ciliares bem conservadas reduzem em até 40% o pico de vazão.  

Silva et al. (2015), por sua vez, demonstrou que faixas de vegetação ciliar de 30,0 metros reduzem os sedimentos em 29,4%. Faixas de cinco metros apresentam 23,8% de redução, enquanto faixas de vegetação de 60,0 metros atingiram um índice de 31,4%, indicando que uma faixa de vegetação de 30,0 metros oferece um bom equilíbrio entre eficácia e viabilidade técnica. As regiões com cobertura vegetal preservada apresentaram menor grau de assoreamento e erosão, além de maior capacidade de absorção da água das chuvas, o que resultou em menor severidade dos danos. 

A presença e o manejo adequado de matas ciliares atuam como um fator de proteção ambiental, sendo uma estratégia fundamental de defesa civil preventiva. A conservação dessas áreas vai além de uma obrigação legal prevista no Código Florestal e demais legislações ambientais, configurando-se como uma medida essencial de segurança hídrica e climática. Em tempos de intensificação dos eventos extremos, investir na existência dessas áreas é investir na resiliência das cidades, no equilíbrio ecológico e na proteção da vida. 

PRESERVAÇÃO DAS MATAS CILIARES E RESILIÊNCIA HÍDRICA 

RESTAURAÇÃO DE APPS COMO ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO 

A recuperação das APPs, tanto em zonas rurais quanto urbanas, é essencial para mitigar impactos ambientais e adaptar-se às mudanças climáticas. Para ser eficaz, deve considerar o contexto local e integrar políticas públicas, incentivos econômicos, educação ambiental e soluções técnicas adequadas. 

No meio rural, produtores veem a restauração como um custo. Para superar isso, é necessário incentivar Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), crédito rural diferenciado e assistência técnica. Sistemas agroflorestais conciliam conservação e produtividade (FERREIRA & KESSLER DAL SOGLIO ,2021).  

Em áreas urbanas, os desafios incluem ocupações irregulares, impermeabilização e falta de planejamento. A recuperação deve estar integrada a planos diretores e políticas de drenagem, com uso de infraestrutura verde (parques lineares, corredores ecológicos, bacias de contenção), que favorecem infiltração, reduzem alagamentos e melhoram o microclima. 

 

A restauração bem planejada e articulada entre sociedade, governo e setor privado reduz danos de eventos extremos e promove segurança hídrica, qualidade ambiental e sustentabilidade. 

 

O PAPEL DA ENGENHARIA FLORESTAL NA RECUPERAÇÃO DAS MARGENS 

A restauração das Áreas de Preservação Permanente (APPs) exige um conjunto de conhecimentos técnicos, ecológicos e sociais que tornam o papel do Engenheiro Florestal imprescindível. Esses profissionais atuam desde o diagnóstico da degradação até a implementação e o monitoramento de estratégias de recuperação ambiental. Utilizando métodos como o mapeamento da vegetação nativa, análises de solo e hidrologia, os Engenheiros Florestais identificam as espécies vegetais mais adequadas a cada micro-habitat, promovendo o restabelecimento da estrutura e da funcionalidade ecológica das matas ciliares. 

No meio urbano, sua atuação exige integrar vegetação à infraestrutura. Projetos como parques lineares, jardins de chuva e corredores ecológicos conciliam urbanização com proteção hídrica e valorização ambiental. 

Com a intensificação das mudanças climáticas e o aumento da frequência de eventos extremos, como enchentes e secas prolongadas, o restauro de APPs torna-se não apenas uma medida de compensação ambiental, mas uma estratégia de adaptação e mitigação.  

Dessa forma, os Engenheiros Florestais desempenham papel estratégico na construção de paisagens sustentáveis, resilientes e adaptadas às novas condições climáticas, sendo agentes essenciais para a recuperação ecológica e a segurança hídrica das regiões impactadas por desastres naturais. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul evidenciaram a gravidade dos impactos ambientais provocados pela ausência ou degradação das matas ciliares, tanto em áreas rurais quanto urbanas. No campo, a retirada da vegetação contribuiu para a instabilidade das margens, erosão e assoreamento dos rios. Nas cidades, a impermeabilização do solo e a ocupação irregular das APPs agravaram os alagamentos e os prejuízos à infraestrutura. 

 

Diante desse cenário, a preservação e a recuperação das APPs surgem como medidas fundamentais para a segurança hídrica e a adaptação climática.  

A atuação dos profissionais da Engenharia Florestal é essencial nesse processo, pois alia conhecimento técnico à aplicação de metodologias adequadas para cada contexto, seja por meio das técnicas de Engenharia Natural, condução de regeneração espontânea ou outras técnicas de restauração.  

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

COPERNICUS CLIMATE CHANGE SERVICE (C3S). Copernicus Global Climate Report 2024 confirms last year as the warmest on record, first ever above 1.5°C annual average temperature. Luxemburgo: C3S, jan. 2025.  

EMBRAPA. Conservação da mata ciliar pode reduzir picos de vazão e mitigar impactos ambientais. Embrapa Meio Ambiente, 2020. 

FERREIRA, José Darival; BENEDETTI, Ana Caroline Paim; ARAÚJO, Maristela Machado; MIRON, Lívia Roese; LIPPERT, Diogo Belmonte. Evento de extremo climático no sul do Brasil: efeitos das chuvas sobre área de preservação permanente. Revista Observatório de la Economía Latinoamericana, Curitiba, v. 23, n. 5, p. 1–20, maio 2025. DOI: 10.55905/oelv23n5-103. 

FERREIRA, L. da R.; KESSLER dal SOGLIO, F. Sistemas Agroflorestais para a agricultura familiar: formação de redes rurais no Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Agroecologia, v. 16, n. 2, p. 13, 25 jun. 2021. DOI: 10.33240/rba.v16i2.23001 

INSTITUTO DE PESQUISA AMBIENTAL DA AMAZÔNIA (IPAM). Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Belém, 1995. Disponível em: https://ipam.org.br. Acesso em: jun. 2025. 

MEDEIROS, S. S. et al. Recuperação de APPs: desafios e estratégias para áreas rurais e urbanas. Revista Brasileira de Engenharia Ambiental, v. 18, n. 2, p. 45–60, 2023. 

SILVA, M. L. N. et al. Simulação da eficácia de diferentes larguras de mata ciliar na retenção de sedimentos. Ciência e Agrotecnologia, v. 39, n. 1, p. 50–57, 2015. DOI: 10.1590/S1413-70542015000100006. 

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