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Resíduos da indústria vitivinícola ganham nova utilidade em embalagens sustentáveis

Um resíduo em sua simples definição de uso humano, nada mais é que aquilo que “sobra” de nossas atividades, sejam elas industriais, comerciais ou residenciais. Quando se trata da indústria vitivinícola, predominante na região Sul do Brasil, em comparação ao resto do País, esses resíduos representam cerca de 12% a 15% da matéria-prima inicial da produção. Foi percebendo isso que a pesquisadora Vanessa Machado Babinski Ramos decidiu encontrar utilidade para a enorme quantidade de dejetos produzidos. “Queria fazer algo que tivesse um impacto na parte de sustentabilidade, mas sempre pensando em focar no nosso Estado, no Rio Grande do Sul”, conta ela animada com trabalho desenvolvido. 

 

A solução de Vanessa foi a criação de uma embalagem de polietileno de baixa densidade (PEBD), a partir de antioxidantes naturais provenientes dos resíduos gerados pela indústria vitivinícola. A pesquisadora explica que a ideia surgiu através de muita pesquisa na literatura sobre o assunto, junto com a orientação da docente Ruth Marlene Campomanes Santana, a qual já havia desenvolvido projetos na área da sustentabilidade. “Existem vários resíduos hoje em dia que têm um potencial antioxidante, não apenas a casca e as sementes da uva como utilizamos, mas também de cervejarias. Além disso, existiam possibilidades de utilizar outros materiais naturais para seguir na linha da sustentabilidade como óleos essências e alecrim. Optamos por testar esse material por ser tão presente e abundante na nossa região” relatou Vanessa. 

A dissertação na qual a estudante e pesquisadora desenvolveu o produto, foi apresentada no Programa de Pós-graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e mostra que, através da liofilização dos resíduos e da extração dos antioxidantes naturais por meio da adição de um solvente, é possível conseguir uma espécie de “pasta” que é usada no processo de extrusão (utilizado para a produção de filmes e embalagens) para a obtenção do produto final. O processo revelou que o uso deste antioxidante de origem natural contribui para um melhor desempenho da embalagem em comparação àquelas em que se utiliza um produto de origem sintética. 

 

As vantagens do produto criado por Vanessa vão muito além da barreira entre o alimento e o ambiente de maneira sustentável. Por ser produzida com componentes bioativos que liberam substâncias para o alimento armazenado, contribui para a retardação da oxidação e prolongamento da vida útil do produto, ali acomodado. Esse fator positivo das chamadas embalagens ativas antioxidantes é um novo passo para a diminuição do uso de compostos sintéticos, geralmente feitos diretamente nos alimentos, o que pode aumentar possíveis efeitos tóxicos em sua ingestão: “normalmente se adiciona antioxidantes no óleo (de uso culinário) para evitar a oxidação do alimento, quando conseguimos introduzir ele diretamente na embalagem, podemos diminuir o uso dos agentes antioxidantes colocados nos alimentos” explica ela.

Além da melhora no armazenamento devido ao uso de agentes naturais, houve uma mudança na coloração final do filme de embalagem, produzido por consequência da coloração natural dos resíduos utilizados, contribuindo assim com uma espécie de barreira contra a luz, o que auxilia no acondicionamento do produto com proteção ainda maior. 

 

Para a realização do estudo, Vanessa contou com a junção de duas áreas da universidade: o Instituto de Ciências e Tecnologia de Alimentos (ICTA) e o Laboratório de Materiais Poliméricos (Lapol). “Foi bem legal, afinal a gente conseguiu unir duas áreas distintas da universidade para um fim comum. Foi possível juntar o know how e expertises de cada uma das áreas para criar algo sustentável.

A cientista destaca que ainda há muito trabalho pela frente e que o projeto, com duração de cerca de um ano apenas na parte prática, é o pontapé inicial para inúmeras possibilidades. “Agora gostaríamos de avaliar outras concentrações de adição desse extrato antioxidante na embalagem ativa no processo de extrusão, porque acabamos avaliando apenas algumas concentrações de adição, mas seria interessante aprofundar. Ainda há um trabalho muito grande a ser feito neste sentido”. Com ideias ambiciosas, Vanessa destaca ainda a possibilidade de uso de outros tipos de resíduos atualmente inutilizados na indústria, como a cevada (proveniente da produção de cervejas) e blueberry (mirtilos).

 

O estudo, apresentado e divulgado em 2022, utilizou apenas recursos da universidade através de incentivos e bolsas de pesquisa, não contando com apoio de nenhuma empresa externa para a sua produção.

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