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ESG: a engenharia na jornada de transformação sustentável para as empresas

Por Jô Santucci / Jornalista

A ONU estudou quais seriam os maiores problemas mundiais e elencou 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) para combater os problemas dentro da Agenda 2030. Questões como saneamento básico, energia renovável, agricultura, produção responsável, mudanças climáticas e cidades sustentáveis são alguns dos objetivos a serem trabalhados e várias engenharias podem contribuir intensamente para a superação desses problemas.

Assim, cada vez mais, o compromisso de qualquer organização é encontrar a ferramenta certa que vai além da eficiência operacional, mas é preciso considerar critérios sociais, ambientais e de governança em seus negócios, quer para análise de riscos ou para melhoria da performance.

Atualmente, grandes empresas possuem ações ESG implementadas. As organizações divulgam seus feitos através de relatórios de Sustentabilidade, onde explicam como aplicam ESG, as metas relacionadas, os indicadores desenvolvidos, ações projetadas e as já realizadas, por exemplo.

Publicada no Jornal Meio & Mensagem, a primeira edição da série de estudos da Data-Leaders, desenvolvido pela Data-Markers, em parceria com a CDN, intitulada “Líderes de Negócio do Brasil e ESG”, aponta que apenas 16% dos líderes de negócios declararam conhecer ESG em profundidade. Sendo que 71% avaliou ter um conhecimento razoável sobre o tema.

Apesar do conhecimento ainda não ser aprofundado entre os líderes brasileiros, 92% dos executivos afirmaram que o tema é extremamente ou muito importante para o futuro dos negócios.

O estudo ainda revela que os líderes acreditam que o tema ESG merece mais atenção da comunidade: 68% consideram o tema subestimado.

Quanto mais conhecimento declarado em relação ao assunto, maior a percepção de que ele é subestimado. Já os executivos que menos conhecem sobre ESG foram os que mais acham o tema superestimado.

As duas principais razões para a adoção de práticas ESG nas empresas, segundo a pesquisa, são: imagem de marca (85%) e reputação corporativa (65%). Ambos são atributos relacionados à imagem da organização. Logo em seguida vem melhora na gestão da empresa (59%) e reputação de riscos (38%).

Em metade das empresas entrevistadas, a liderança é a principal responsável por tomar decisões relacionadas ao tema ESG. O estudo indica, no entanto, que isso acontece muito mais pela carência de profissionais capacitados e de um processo decisório estruturado do que por um indicativo de envolvimento da liderança.

Segundo os dados da pesquisa, o Conselho de ADM foi apontado como principal decisor em 21% das empresas, sendo que somente 11% das companhias contam com um comitê interdisciplinar ou uma área dedicada ao assunto. Em 40%, esse é um tema para áreas como RH e Financeiro, ou não há uma definição estabelecida.

ESG é uma sigla em inglês que significa Environmental, Social and Governance, e corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização. O termo foi cunhado em 2004 em uma publicação do Pacto Global em parceria com o Banco Mundial, chamada Who Cares Wins. Surgiu de uma provocação do secretário-geral da ONU Kofi Annan a 50 CEOs de grandes instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. Na mesma época, a UNEP-FI lançou o relatório Freshfield, que mostrava a importância da integração de fatores ESG para avaliação financeira. Já em 2006, o PRI (Princípios do Investimento Responsável), que hoje possui mais de três mil signatários, com ativos sob gestão que ultrapassam USD 100 trilhões – em 2019, o PRI cresceu em torno de 20%.

O entendimento e a aplicabilidade de critérios ESG pelas empresas brasileiras é, cada vez mais, uma realidade. Atuar de acordo com padrões ESG amplia a competitividade do setor empresarial, seja no mercado interno ou no exterior. No mundo atual, no qual as empresas são acompanhadas de perto pelos seus diversos stakeholders, ESG é a indicação de solidez, custos mais baixos, melhor reputação e maior resiliência em meio às incertezas e vulnerabilidades. 

Segundo o Climate Change and Sustainability Services, da Ernest Young, as informações ESG são essenciais atualmente para a tomada de decisões dos investidores. E os critérios ESG estão totalmente relacionados aos ODS, realidade nas discussões no mercado de capitais. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável reúnem os grandes desafios e vulnerabilidades da sociedade como um todo. Com isso, apontam os principais itens a serem acompanhados de perto. Além disso, sinalizam as grandes oportunidades ao se relacionarem diretamente com as necessidades. 

No Brasil, a relação dos ODS com os negócios está presente nas grandes empresas. Segundo levantamento realizado com as companhias que fazem parte do ISE, Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3, 83% delas possuem processos de integração dos ODS às estratégias, metas e resultados.

Apesar do termo “ESG” existir desde 2004, o conceito ganhou destaque após a pandemia do Covid-1: constatou-se que as organizações que estavam atentas para as questões ambientais, sociais e de boa governança foram as que se saíram melhor na crise, já que, analisar previamente riscos, faz parte de uma boa implementação ESG.

A Engenheira Química Patrícia Pletsch, membro da Comissão Multimodal Inspetoria Canela/Gramado, explica que, em 2020, a BlackRock – maior gestora de ativos do mundo – divulgou que iria investir em companhias sustentáveis. “Isso fez com que as grandes empresas que possuíam capital aberto começassem a aderir às boas práticas ESG, gerando uma reação em cadeia, visto que empresas que não estavam na bolsa também tiveram que se adequar para atender àquelas que estavam”, detalha.

Palestrante do Programa Capacita+ com o tema O Papel da Engenharia no ESG, a Eng. Patrícia afirma que, apesar de estar “em alta”, ESG não é só mais uma “onda verde” e promete ficar. “Pesquisas realizadas com as novas gerações apontam que àquelas que possuem propósito acima do lucro são as que terão chances no mercado. Ou seja, se hoje ESG é um diferencial, logo se tornará um critério”, defende.

Aponta que os projetos utilizam os princípios da engenharia para desenvolver soluções sustentáveis para os problemas ambientais, sociais e econômicos. “É característico do engenheiro otimizar processos e buscar alternativas, sejam elas econômicas e/ou tecnológicas e isto está muito alinhado ao contexto do Desenvolvimento Sustentável”, ensina.

Ressalta que os profissionais da engenharia possuem um papel muito relevante ao se trabalhar com ESG. “Muitos engenheiros ocupam lugares de liderança nas organizações, governança, atuando diretamente com recursos naturais, ambiental, e é indiscutível o papel desse profissional diante da sociedade (social). Assim, a necessidade de atuação dos engenheiros frente aos princípios ESG é indiscutível”, defende.

Ressalta ainda que a gama de profissionais que trabalham com ESG é diversa e que os engenheiros que atuam com as práticas podem utilizar o conhecimento técnico para validar processos, criar métricas, construir padrões e desenvolver novas soluções para ações ESG. “Além disso, pode utilizar a sua responsabilidade técnica para contribuir no seu nicho de atuação”, aponta.

Para ela, os projetos de ESG podem ser desenvolvidos em vários setores, não só na construção civil. “A engenharia possui uma forte atuação dentro da construção civil e, com isso, carrega uma grande responsabilidade perante o desenvolvimento sustentável. Contudo, o ESG pode ser interpretado como um conjunto de boas práticas ambientais, sociais e de governança, logo, em qualquer atividade econômica é possível realizar projetos ESG”, detalha.

Ressalta a necessidade de os profissionais se mobilizarem para exercerem suas funções técnicas em prol da promoção do bem-estar presente e da preservação de recursos para as gerações futuras, cumprindo com a responsabilidade social que também é atribuída aos engenheiros. “ESG é um tema amplo e há muitos campos de atuação na engenharia”, ressaltou.

Pensando em áreas de atuação desses profissionais, a engenheira dá algumas dicas:

Projetos Certificação de construções sustentáveis através do selo LEED (Leadership in Energy and Environmental Design)

A LGPD é um tema abordado dentro da Governança do ESG, logo, engenheiros de software estão diretamente envolvidos nessa temática ao lidar com proteção de dados pessoais

Projetos que envolvem melhorias em saneamento, gestão de resíduos e mudanças climáticas, podem ser abraçados por engenheiros ambientais, sanitaristas, químicos e demais profissionais atuantes nas áreas.

Aplicação de metodologias de processo (Lean/Kaizen) visando à redução de desperdícios podem fazer parte do escopo de um programa de ESG desenvolvido por setores de produção de uma indústria, onde há grande atuação de engenheiros no processo.

Atualmente, grandes empresas possuem ações ESG implementadas. As organizações divulgam seus feitos através de relatórios de Sustentabilidade, onde explicam como aplicam ESG, as metas relacionadas, os indicadores desenvolvidos, ações projetadas e as já realizadas, por exemplo.

Exemplificando, no relatório de 2022 da Ambev consta que, nos últimos 20 anos, a organização reduziu 50% do consumo de água do processo ao recuperar e reutilizar o recurso, além de instalar sensores para medir o processo produtivo”, aponta.

Também visualiza práticas de engenharia no relatório de Sustentabilidade da Randon (2022), onde a companhia apresenta suas pesquisas e desenvolvimento em frotas ecoeficientes, como a utilização de painéis solares em veículos de carga e eletrificação da frota. “Consultar o Relatório de Sustentabilidade das organizações de interesse é uma boa prática para que os profissionais fiquem por dentro das ações de ESG destas organizações”, ensina.

Evidências têm demonstrado que organizações que consideram os critérios sociais, ambientais e de governança em seus negócios, quer para análise de riscos ou para melhoria da performance, tendem a superar financeiramente seus pares, atrair e reter talentos, alcançar melhor produtividade no trabalho, criar vantagem competitiva, melhorar a reputação, estar mais bem preparadas para as incertezas, atingir mais elevados níveis de integridade, atrair a fidelidade do cliente e manter sua licença social para operar. Estas organizações, que tendem a mudar o foco, de maximização do valor para o acionista, para a criação de valor para todas as partes interessadas, serão capazes de alcançar a sustentabilidade a longo prazo.

FAZER O TEMA DE CASA

“Atualmente minha maior dedicação está em apoiar as organizações a serem mais sustentáveis, ou seja, implementar de verdade a sustentabilidade como uma prática e não apenas como um discurso da moda. Todos querem ser reconhecidos no mercado por sua postura ética, transparente, com foco nas pessoas, no meio ambiente e nas questões econômicas. Mas para ser reconhecido como tal, precisa antes fazer o tema de casa. Eu acredito que muitas empresas ainda não conheçam a fundo o que é sustentabilidade e o quanto já a praticam. Proponho ajudá-las a descobrir e melhorar suas práticas através dos seguintes projetos.”

Este é o perfil no LinkedIn do Eng. Químico e Seg. do Trabalho José Tocchetto de Oliveira, consultor e especialista ESG da Glob Engenharia Ambiental de Caxias do Sul, que já mostra o poder do ESG.

O ESG veio para ficar e orientar as organizações na sua jornada de aprendizado e transformação, implementando, a partir do que já existe em cada empresa, as práticas de sustentabilidade mais indicadas para cada momento, alinhadas com as estratégias já existentes, mas também olhando para os novos desafios”, resume.

De acordo com ele, o ESG é uma agenda mundial que está direcionando os investimentos dos grandes fundos internacionais, que buscam maiores retornos e impactos positivos no meio ambiente e na sociedade através dessas aplicações de recursos. “As grandes empresas nacionais e internacionais estão procurando trabalhar com empresas que tenham uma agenda ESG definida e que demonstrem coerência e cumprimento dos requisitos ESG, representados por protocolos dos mais variados possíveis, cada um representando um objetivo ou um segmento de negócios do mercado”, ensina.

Atualmente as empresas estão sendo medidas por seus compromissos assumidos na agenda ESG, isto significa para todos os setores, não só as empresas de construção civil. “Um prédio que considerou critérios ESG na sua construção terá maior receptividade e aceitação dos consumidores por ser considerado um prédio sustentável”, exemplifica.

Ressalta que, para determinada camada da sociedade, este diferencial é mais importante que o valor do apartamento a ser adquirido, e é uma tendência que vai aumentar cada vez mais.

As pessoas estão escolhendo empresas sustentáveis para trabalhar em troca de outras que não têm a mesma postura ESG. O mercado está trabalhando com produtos cada vez mais sustentáveis, considerando o uso de materiais que utilizem menos recursos naturais, que sejam projetados para ter uma maior vida útil e que possam ser reciclados ou descartados de forma sustentável no final da sua vida útil. O mercado da construção civil está diretamente ligado a estes critérios”, alerta.

Segundo o Eng. Tocchetto, quanto mais sustentável for a construção, mais responsável for a construtora, e mais reconhecida como sustentável for a incorporadora, mais facilmente o prédio será vendido e por valores acima do mercado.

Defende o ESG como uma postura e uma forma de atuação constante. “É uma filosofia de vida e, portanto, pode ser aplicado em quaisquer setores da economia. Um projeto ESG é um projeto de implantação da agenda ESG na organização e isso vai depender da alta liderança acreditar na sustentabilidade, acreditar na agenda ESG e se propor a iniciar a jornada a caminho de uma organização mais sustentável e mais madura em relação a esta agenda”, assinala.

Segundo Tocchetto, atualmente, profissionais de todas as áreas podem fazer parte de projetos ESG. “Esta agenda engloba todas as atividades das organizações, sejam atividades de negócio, atividades ambientais, de saúde e segurança do trabalho, segurança da informação, compra e vendas de mercadorias, produção e realização de serviços, nos três setores da economia, indústria, comércio e serviços”, ensina.

Explica que existem também normas de certificação de produtos e de sistemas de gestão, como ambiental saúde e segurança, qualidade, responsabilidade social, segurança de alimentos, entre tantos outros, nos quais os engenheiros normalmente se tornam especialistas.

Existem muitos engenheiros que são auditores de sistemas de gestão destas disciplinas, pois possuem uma capacidade alta de trabalhar com raciocínio lógico, que é a base da realização de uma boa auditoria. A maioria dos auditores do mercado é formada por engenheiros, sem deixar de lado os profissionais da Agronomia e Geociências”, avalia.

De qualquer forma, é um campo vasto para o profissional de Engenharia. “Há espaço para todos desde que se capacitem nos temas abordados pela agenda ESG, seja nas suas empresas próprias, como funcionários ou atuando como profissionais liberais prestando serviço para as empresas que optam por implementar uma agenda ESG”, sugere.

Destaca que a gestão de riscos é uma disciplina que se encaixa em todo e qualquer sistema de gestão que seja implementado por alguma organização. “Atualmente as empresas estão trabalhando fortemente com a gestão de riscos e dentro do ESG se enquadra no “G” de governança corporativa. Assim sendo, quem trabalhar com gestão de riscos, sendo engenheiro ou não, estará em condições de participar de projetos de implantação da agenda PSG nas organizações”, afirma.

Para completar, entende que um dos maiores desafios do ESG talvez seja ampliar a sustentabilidade para fora de seus muros. “Trabalhar a sustentabilidade na sua cadeia de fornecedores, criando critérios a serem exigidos de acordo com as atividades de cada elo dessa cadeia, apoiando e monitorando para que os riscos associados sejam minimizados”, finaliza.

ESG PRECISA SER PRIORIDADE PARA PROFISSIONAIS DA ÁREA DE ENGENHARIA

No Brasil, ainda existem mais de dois mil lixões a céu aberto, mostrando o quanto o País está atrasado em ações de sustentabilidade. O momento é de despertar profissionais, mercado de trabalho e sociedade para o grau de emergência das ações de estratégia ambiental, social e de governança dentro dos projetos do ESG e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que devem ser adotadas não mais como tendências, mas como prioridades.

Publicação: Governança Ambiental, Social e Corporativa

A entidade Chief Executives for Corporate Purpose (CECP) foi fundada em 1999, por Paul Newman em parceria com outros líderes empresarias, com a principal proposta de criar um mundo melhor através dos negócios. Assim, a partir dessa premissa, a organização lançou em 2020 a publicação Global Impact at Scale Corporate Action on ESG Issues and Social Investments. O objetivo é conhecer ações praticadas atualmente na área de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG), com destaque para a sustentabilidade e investimentos sociais.

O material (em inglês) fornece insights sobre como empresas de todo o mundo podem integrar aspectos de ESG, levando em consideração estratégias internas de maneira a ter impacto positivo para muito além de seus escritórios físicos e salas de reuniões. Para isso, traz números e estatísticas em gráficos, informações em fotografias, textos e outro recursos, enfatizando, sempre, o capital humano das organizações que favorece a atuação dessas companhias em larga escala, investindo recursos em causas de variadas áreas, como Diversidade e Inclusão, Saúde, Direitos Humanos, Arte e Cultura etc.  

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