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Imagem: Arquivo pessoal/Alice Fontelles

Relembre o início da aviação agrícola brasileira na cidade de Pelotas

“Os pequenos agricultores que assistiram ao combate aéreo pela primeira vez em suas vidas, quase em delírio, acenavam para o avião, demonstrando, num místico júbilo, a satisfação de verem suas hortas e pomares defendidos”

Esse é o relato de Antônio Leôncio Fontelles, Engenheiro Agrônomo gaúcho que fez parte do primeiro voo da aviação agrícola do País. No dia 19 de agosto de 1947, na cidade de Pelotas, Leôncio e o piloto Clóvis Candiota, decolaram em um biplano Muniz M-9. Naquela época, a região enfrentava severas nuvens de gafanhotos e nenhuma técnica disponível estava solucionando o problema, o que fez com que muitos agricultores fossem prejudicados.

Assim, Leôncio, que era o atual chefe do Posto de Defesa Agrícola do Ministério da Agricultura, recebeu uma missão: combater a praga a qualquer custo - apesar de não ter recebido nenhum recurso para isso. O Engenheiro Agrônomo, a partir dos seus conhecimentos sobre a aviação agrícola que vinha acontecendo na Europa e nos Estados Unidos, solicitou apoio aos aeroclubes de Pelotas, Bagé e Jaguarão.

O equipamento de aspersão, encomendado por Fontelles em um funileiro local, era uma pulverizadora de hexiclane adaptada no avião. A aeronave, de fabricação brasileira, possuía capacidade para cem quilos de inseticida e uma autonomia de quatro horas de voo. 

Aeronave Muniz M-9 pilotada por Clóvis Candiota

Arquivo pessoal/Alice Fontelles

Leôncio Fontelles conhecia a rota migratória da praga e sabia que o grande causador do dano era o gafanhoto jovem. Por esse motivo, foram estruturadas redes de contato com telégrafo para que os moradores pudessem avisar onde estavam algumas nuvens de gafanhoto. Um dia antes da primeira decolagem, receberam o aviso de que uma nuvem da praga se aproximava de Pelotas e se prepararam para colocar em prática o que vinham planejando.

Durante a missão, a polvilhadeira precisou ser recarregada três vezes e, próximo das 18h30 do dia 19 de agosto, o objetivo daquele que seria o voo pioneiro da aviação agrícola no Brasil foi atingido: a primeira nuvem de gafanhotos havia sido controlada.

Segundo a Engenheira Agrônoma Leda Fontelles, neta de Leôncio, a aviação agrícola brasileira surgiu em um momento de grande necessidade da população:

“A aviação agrícola teve um propósito muito claro: combater a praga daquele momento. Se não tivesse acontecido, ela teria dizimado boa parte das nossas lavouras. Foi muito prazeroso para os dois, mas também para a população. Todo mundo ficou maravilhado com o feito”, afirma.

Trecho de matéria veiculada no jornal Diário Popular de Pelotas

Arquivo pessoal/Alice Fontelles

Setor se desenvolveu ao longo dos 76 anos de história

Desde o primeiro voo, em 1947, muita coisa mudou na aviação agrícola brasileira. O diretor Executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Gabriel Colle, explica que uma virada de chave importante para o setor aconteceu na década de 1990, quando novas tecnologias começaram a ser empregadas. 

Uma delas foi o uso de DGPS (GPS diferencial) nas aeronaves, que trouxe eficiência, maior capacidade de análise e ampliou a área de atuação. O primeiro equipamento DGPS instalado em aeronave agrícola brasileira também foi em Pelotas, no ano de 1995. O GPS diferencial utiliza uma "estação de referência" com coordenadas conhecidas que compara as posições informadas pelos satélites com a posição real, detectando os erros de cada satélite. 

Esses erros são transmitidos para o receptor do usuário via sinal de rádio. O receptor do usuário recebe dois tipos de sinais: o sinal GPS com informações de distância, ainda com erro relativamente grande, e o sinal diferencial que contém informações sobre os erros de cada satélite calculados pela estação de referência. Essas informações são processadas para gerar o sinal DGPS, que é uma versão depurada do sinal GPS, com a maioria dos erros corrigidos.

Funcionamento do sistema DGPS básico

Foto: Sindag

Outras novas ferramentas desenvolvidas foram pontas de pulverização e novas barras de pulverização aerodinâmicas. Além disso, de acordo com Colle, o setor vem se desenvolvendo a partir da aplicação de defensivos biológicos: 

“Há um espaço muito grande, atualmente, para crescer dentro deste setor que está em expansão, caminhando para a área dos biológicos. A aviação agrícola hoje já trabalha muito com aplicação de biológicos em alguns Estados, sendo São Paulo uma referência, e deverá crescer ainda muito mais nessa área”, diz. 

Hoje, o setor da aviação agrícola desempenha um papel importante na defesa dos cultivos agrícolas contra o ataque de pragas e controle de plantas daninhas. Também é um dos principais promotores do desenvolvimento tecnológico, especialmente no manejo das lavouras e na otimização de tempo.

O setor também vem desenvolvendo um papel cada vez mais importante no combate a incêndios em reservas naturais e lavouras, além de englobar o segmento de drones.

Desenvolvimento tecnológico permite proteção de reservas naturais e lavouras contra as chamas

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Foto: Pachu Aviação Agrícola

Conforme dados do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola, o Brasil tem a segunda maior frota área agrícola do mundo, com 2.409 aeronaves, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

“A aviação agrícola no Rio Grande do Sul é a responsável por alimentar a população, pelo arroz diário produzido de forma barata e com segurança alimentar”, explica o Engenheiro Agrônomo Hilário Thevenet Filho. 

Ele ainda reforça a importância da aviação agrícola em termos de quantidade de produção:

“O Rio Grande do Sul produz em torno de 9 milhões de toneladas de arroz. O Brasil consome 12 milhões de toneladas. Se tirassem amanhã a aviação agrícola, uma ferramenta de trabalho do Engenheiro Agrônomo, teríamos uma perda na colheita de 4 a 5 milhões de toneladas na produção de arroz do Estado. Isso significa quatro meses e consumo de arroz no Brasil”, diz.

Brasil tem a segunda maior frota aeroagrícola do planeta

Foto: Castor Becker Jr/Sindag 

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