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Fazendas Urbanas 

A humanidade enfrenta uma série de problemas sociais e ambientais, como a fome. Uma possível solução encontrada por pesquisadores e empresários são as fazendas urbanas ou verticais, as quais produzem alimentos no meio da cidade. O ambiente rural apresenta inúmeros empecilhos para uma produção sustentável e ecológica de alimentos, já o ambiente controlado das fazendas urbanas, impede que imprevistos climáticos afetem e garante a produção sem agrotóxicos durante os 365 dias do ano. 

As fazendas urbanas sobrevivem ao cenário hostil das cidades e centros urbanos por meio de estruturas verticais, aproveitando o espaço de forma eficiente. Além disso, utilizam uma iluminação artificial com luzes LED azul e vermelha, para a aceleração do processo de fotossíntese das plantas. A coloração dessas fazendas chama muito a atenção do público pois a junção das luzes vermelha e azul resulta em uma iluminação rosa e, por isso, são também chamadas de fazendas cor-de-rosa. 

A maior fazenda urbana da América Latina é a Pink Farms, localizada em São Paulo. O Engenheiro de Produção Geraldo Maia e seus dois sócios, também engenheiros (Eletricistas e de Automação e Controle) criaram a Pink Farms em busca de um sistema de produção indoor e de produção vertical, com o uso de alta tecnologia para controlar ao máximo as variáveis de cultivo. 

Sem contato com o mundo exterior, as fazendas urbanas promovem inúmeros benefícios para os consumidores. A produção acontece sem interação com mudanças climáticas como secas, chuvas e mudanças intensas de temperatura e umidade, e que normalmente afetam as lavouras tradicionais. Graças ao ambiente cuidadosamente controlado, há um controle total de pragas e animais indesejados, o consumo de água é 95% menor e a utilização de fertilizantes é 60% menor. A Pink Farms é em torno de 400 vezes mais produtiva por metro quadrado que um campo comum. Ao contrário do que as pessoas pensam, as fazendas urbanas possuem um alto potencial de produção, podendo obter resultados em larga escala. 

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O CEO da fazenda urbana conta com tranquilidade que a alface da Pink Farms é a melhor que existe no Brasil em termos de produção, qualidade produtiva, sabor, textura e tempo de prateleira. O produto vai no mesmo dia que foi colhido direto para o prato do consumidor e sua Shelf Life (vida de prateleira) é de 10 a 15 dias, bem mais longa que o tradicional. De acordo com Geraldo, a produção é feita com um sistema mais complexo que o cultivo tradicional, mas tem muito mais retorno e produtividade. 

A Pink Farms por exemplo, comercializa cinco tipos de alfaces, dez tipos de micro verdes e algumas espécies de cogumelos. No momento, existem duas unidades operacionais e uma em construção. A capacidade produtiva total está na faixa de cem toneladas de alimentos por mês. 

 

“Acho que como um bom Engenheiro de Produção, estamos continuamente olhando para a indústria e se perguntando como podemos melhorar os processos, deixá-los mais uniformes, reduzir perdas e erros, então, este interesse por fazendas urbanas, está muito relacionado a minha formação, de conseguir olhar para um processo que gera valor ao consumidor e entender que dá para ser feito de uma maneira mais inteligente e com muito menos risco para aquele processo produtivo”, explica Geraldo Maia. 

Os colaboradores do setor de trabalho operacional da Pink Farms, os chamados “fazendeiros urbanos”, no geral possuem técnico de agronomia para trabalhar com a semeadura, colheita etc. Além disso, existe o coordenador da produção, que é um Engenheiro de Produção ou um Agrônomo, e as pessoas que trabalham no setor de qualidade, que são Engenheiros Agrônomos ou da atividade relacionada à biologia. Tem também, a área de engenharia, que é bem multidisciplinar, onde trabalham profissionais da Mecânica, Mecatrônica, Civil, Eletrônica e Elétrica. A Pink Farms atua desde a parte civil de fazer terraplanagem e construção dos painéis e piso, até a parte de mecânica, mecatrônica e eletrônica, quando é preciso implementar sistemas série B, controles lógicos programáveis e sistemas computacionais. 

Segundo Geraldo Maia, a Pink Farms está continuamente testando e entendendo a necessidade de luz, CO2, oxigênio e de umidade de cada planta. “É uma receita de cultivo que estamos constantemente melhorando”, explica o engenheiro. 

Por outro lado, existe a Local Greens, uma fazenda urbana em escala menor, de Porto Alegre, idealizada por Thais Andorffy. Segundo a criadora, tudo começou em 2020, com o cultivo de micro verdes em sua própria casa. Ela vendia principalmente para pessoas físicas e assinantes. Após algum tempo, começou a comercializar para chefs e restaurantes, seu maior público atualmente. A fazenda foi crescendo e, em 2022, conseguiu mover a plantação para um pavilhão, onde tem mais espaço para produção. A fazenda tem atualmente 14 variedades de micro verdes, dentre eles, rabanete, rúcula, mostarda, beterraba, cenoura, coentro, ervilha, girassol, couve, brócolis, repolho roxo, salsa e também flores comestíveis. 

A Local Greens utiliza bandejas com substrato misturado com húmus, onde acontece o processo de germinação das plantas. Após, elas são colocadas nas estantes com lâmpadas LED e ficam ali até desenvolver ao ponto ideal. No momento em que estão na altura certa, é feita a colheita e envio no mesmo dia. O tempo de desenvolvimento varia entre cada espécie, “Algumas ficam prontas em 6 a 7 dias, outras em 21 ou 24 dias” relata Thais. A lâmpada utilizada é normal de luz branca, pois é suficiente para a etapa dos micros verdes. “Se fossemos estender o ciclo, como a Pink Farms faz, esta luz não seria suficiente para atingir uma planta adulta”, complementa. 

Segundo Thais Andorffy, os micros verdes têm dois principais pontos atrativos: o potencial nutritivo e a estética de pratos. Por isso são muito procurados por restaurantes e chefes, principal público da Local Greens. Também tem o ponto da praticidade, pois o produto das fazendas urbanas vem pronto para consumo, não é preciso lavar e nem cortar. “É um produto muito fresco, porque a gente colhe e entrega no mesmo dia e não utilizamos nada de pesticida e fertilizante, apenas água para regar” comenta a criadora da fazenda urbana. 

A agricultura é o setor que mais consome recursos no mundo e também é o que mais contribui para o PIB nacional. Tendo isso em mente, as fazendas urbanas podem ser consideradas um grande avanço tecnológico para a humanidade e um modelo inovador de agricultura. Mas é preciso lembrar que existem desafios para desenvolver este tipo de estabelecimento na indústria nacional. Um deles é o alto custo de energia, pois as luzes, os sistemas de climatização e a Internet das Coisas usada por sensores para saber o que a planta precisa, são necessários ao longo de todo o processo de produção dos alimentos. Outro principal impedimento para esse tipo de produção é o custo inicial de construção de infraestrutura e tecnologia. Outro ponto é a incerteza da rentabilidade, por mais que os produtos sejam de alta qualidade.  

Os próximos passos propostos pela Pink Farms envolvem continuar com o atual crescimento da empresa. Sobre a questão de alimentação e fome global, Geraldo Maia pensa que a alimentação global ainda tem muito a melhorar em questão de qualidade. O brasileiro tem um consumo muito ruim em termos do tipo de alimento que faz parte do seu dia a dia. “A gente consome praticamente três vezes menos que o europeu em relação a folhas, frutas e verduras. Até o cogumelo, um alimento muito nutritivo, consumimos 15 vezes menos que o europeu e quase 60 veze menos que alguém do Sudeste Asiático, por exemplo”, relata Geraldo. Dois grandes motivos para a má alimentação, é a educação social e o preço. Muitos não possuem condições de manter uma dieta saudável e sustentável, porém, é importante que cada vez mais pessoas se conscientizem sobre a importância, principalmente por seus resultados a longo prazo. 

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