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E não é que a Engenharia “inventa moda”?! 

Por Fernanda Peña, jornalista da equipe de Comunicação do CREA-RS

Lã, tricô, poliéster, nylon, tweed. Quando mencionados dessa forma, parece até que estamos falando sobre as tendências para a temporada outono/inverno deste ano. Mas e se dissermos que todos esses materiais transcendem as passarelas e representam, na verdade, ferramentas de trabalho essenciais da Engenharia? 

É isso mesmo. Um universo geralmente incomum para as áreas da Engenharia costuma ser o habitat natural dos Engenheiros e Engenheiras Têxteis. Especializados nos polímeros naturais ou sintéticos, que podem ser transformados em fibras, estes profissionais desempenham um papel fundamental no processo de seleção dos tecidos mais adequados para uma determinada aplicação. Através de cálculos matemáticos, físicos e químicos, eles determinam como tais materiais serão estruturados para atender às demandas de design, funcionalidade e estética.  

Além de garantir conforto e estilo, a Engenharia Têxtil está diretamente envolvida na criação de produtos que atendem a padrões rigorosos de segurança e eficiência produtiva. “A Engenharia Têxtil possui todo o conhecimento e qualificação necessários para criar um produto apto para cumprir as normas de segurança e etiquetagem. Também consegue aproveitar melhor os encaixes, reduzir o desperdício e otimizar a linha de produção e tempo. Dessa forma, pode aumentar a qualidade e diminuir os custos”, explica Larissa Malagó (30), Engenheira Têxtil e especialista em tecidos no time de price-checking da Shein Brasil. 

Larissa Malagó

Larissa Malagó, especialista em tecidos no time de price-checking da Shein Brasil

Um exemplo prático e usual são os looks de inverno. Para garantir que o indivíduo permaneça aquecido e seco por mais tempo diante de condições climáticas adversas, a Engenharia Têxtil aposta em tecidos com camadas internas de isolamento térmico e externas repelentes à água. Além disso, roupas esportivas confeccionadas para alto desempenho também recebem um olhar atento da Engenharia Têxtil. Neste caso, o desafio dos profissionais da área é o de preparar tecidos leves com tecnologia de compressão, visando a melhora do suporte muscular e a comodidade durante a atividade física intensa.  

Mas se engana quem pensa que os Engenheiros e as Engenheiras Têxteis entram em cena apenas na indústria da moda. O trabalho destes profissionais também é crucial para desenvolver tecnologias que são utilizadas em outros setores, como o mercado automobilístico, construção civil, cosméticos para cabelo e têxteis técnicos. Afinal, são eles que produzem, por exemplo, cintos de segurança, coletes à prova de balas, joelheiras magnéticas, mantas impermeáveis para a construção, máscaras faciais de combate ao Coronavírus e equipamentos antichamas, como é o caso dos uniformes dos bombeiros. “Aqui, a Engenharia Têxtil pode empregar técnicas de tecelagem especializadas para criar tecidos resistentes ao fogo e que ofereçam uma barreira eficaz contra agentes externos nocivos, além de garantir segurança e mobilidade ao usuário”, descreve Márcia Silva, Engenheira Têxtil e especialista de melhoria da qualidade na Renner, uma das maiores varejistas de moda do Brasil.  

Márcia Silva

A sustentabilidade também é um tema que envolve a Engenharia Têxtil. Segundo Larissa Malagó, desenvolver mecanismos que reduzam os impactos ambientais é uma das funções mais importantes dos profissionais que atuam na área. Márcia concorda e destaca que os Engenheiros e as Engenheiras Têxteis têm trabalhado para executar técnicas mais sustentáveis, considerando o ciclo de vida completo dos produtos e buscando reciclagem, reutilização de fibras e redução do uso de produtos químicos tóxicos. “Essas medidas refletem uma crescente conscientização sobre a importância da sustentabilidade e destacam o papel essencial dos profissionais nessa transformação”

ESCASSEZ DE CURSOS COM DEMANDA ELEVADA 

De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), o Brasil é o quarto maior parque produtivo de confecções e o quinto maior produtor têxtil do mundo. Quando o assunto é a produção de malhas e jeans, o País é o quarto maior produtor do mundo, movimentando mais de 1 milhão de empregos diretos e 8 milhões de empregos indiretos, com 75% de mão de obra feminina.  

A Engenheira Têxtil Fernanda Steffens, professora, doutora e coordenadora do programa de pós-graduação em Engenharia Têxtil (PGETEX) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destaca que o Sul, o Sudeste e o Nordeste do Brasil são polos da produção têxtil nacional. “Especificamente tratando-se da fabricação de malhas, aproximadamente 50% são desenvolvidas na Região Sul”, comenta. Nesse sentido, é possível perceber a expectativa promissora para o setor. O problema, no entanto, é que a área ainda possui poucos cursos de graduação, impactando diretamente na escassez de profissionais qualificados no mercado e aumentando a preocupação com a possibilidade de falta de mão de obra especializada neste ramo. 

Para a professora, o motivo deste cenário está atrelado ao fato de a Engenharia Têxtil ser ainda um curso de graduação recente e bastante específico. “O primeiro curso de graduação foi ofertado pelo Centro Universitário FEI com o nome de Engenharia de Operação na modalidade têxtil, em 1963. Comparando a uma Engenharia clássica, como a Engenharia Química, seu início se dá no Brasil por volta da década de 1920”, afirma. A Engenheira Márcia Silva entende ainda que essa é uma das razões que justificam a área ser tão exclusiva e repleta de oportunidades. “Para quem busca um campo de estudo desafiador, inovador e com grande potencial de impacto, a Engenharia Têxtil pode ser a escolha perfeita para explorar e se destacar”

Há também outro desafio enfrentado pela Engenharia Têxtil. Em muitos casos, ela se confunde com a de Produção ou até mesmo com a Engenharia Química, modalidade à qual ela está vinculada através da Câmara Especializada de Engenharia Química (CEEQ), conforme a Resolução 473/2002 do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Ainda assim, a professora Fernanda alerta: “Diferentemente da Engenharia de Produção, estamos falando de uma área que abrange disciplinas voltadas para o desenvolvimento de substratos fibrosos têxteis, desde a sua concepção até a manufatura, integrando conceitos de engenharia ao longo do processo”.  

MERCADO EM EXPANSÃO 

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No caso de Larissa, a Engenharia Têxtil não foi sua primeira escolha. “Ingressei com intuito de cursar Engenharia Química, porém durante a graduação fiquei encantada com os movimentos dos fios nos teares, texturas e cores, além de poder apreciar a construção dos tecidos simultaneamente, então optei por Engenharia Têxtil”, disse. De 2018 para cá, ano em que Larissa concluiu a formação, seis anos se passaram. Durante esse período, a Engenheira acumulou importantes experiências, como a vivência em uma Startup no Egito, onde pôde superar as barreiras da língua, cultura e costume, adquirindo habilidades que agora se revelam úteis em sua função atual. “É um privilégio fazer parte de um grupo seleto de profissionais altamente capacitados”, ressalta Larissa. “Acredito que para alcançar o sucesso profissional, é essencial estar sempre atualizado e em constante aprimoramento”, acrescenta. 

Em sua colação de grau, a Eng. Larissa Malagó recebeu o Mérito Acadêmico em 2018 por ser a

Mesmo com as dificuldades, a expectativa para o setor é positiva. Grandes marcas do segmento varejista buscam pelos serviços destes profissionais, especialmente para atender aos padrões de qualidade, inovação e desempenho exigidos pelos consumidores e pelo atual mercado da moda.  

As trajetórias inspiradoras das Engenheiras Têxteis Larissa Malagó e Márcia Silva ilustram este panorama promissor. Ambas trilharam um caminho árduo para alcançar posições estratégicas em renomadas empresas do setor, como Shein Brasil e Renner, respectivamente.  

Em sua colação de grau, a Eng. Larissa Malagó recebeu o Mérito Acadêmico em 2018 por ser a melhor aluna da turma

Márcia, por sua vez, foi escolhida pela Engenharia Têxtil. “Sempre fui muito curiosa e me apaixonei pelo assunto ao perceber como esta área de conhecimento está presente em diversos aspectos da nossa vida, desde roupas até os carros”, relembra. Ao longo de sua jornada acadêmica, Márcia aproveitou todas as oportunidades oferecidas pela Universidade, construindo uma carreira profissional marcada por uma sólida base educacional somada a experiências práticas fundamentais. Isso incluiu a participação em Congressos, o desenvolvimento de artigos científicos na área e estágios em empresas do setor. “Essas experiências me proporcionaram uma compreensão mais ampla da indústria e o desenvolvimento de habilidades técnicas e interpessoais cruciais”. Contudo, foi o desejo de entender a inovação na ponta da cadeia que a levou a participar do programa de trainee da Renner. “Estar envolvida em diversas etapas do processo de produção de roupas, desde o desenvolvimento de novos tecidos e materiais até o controle de qualidade e otimização dos processos de fabricação, é uma oportunidade única para ampliar conhecimentos técnicos e criatividade em um ambiente dinâmico”, pontua Márcia. 

Tanto a Shein Brasil quanto a Renner são provas do investimento na contratação destes profissionais, reconhecendo a importância de suas habilidades para se manterem competitivas no mercado. Aliás, essa demanda crescente evidencia a valorização dos profissionais qualificados no setor e sinaliza boas oportunidades para aqueles que buscam ingressar ou se consolidar nesta indústria em expansão. 

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