Engenheira Civil Luciani Somensi Lorenzi, coordenadora-geral do projeto sobre o Esqueletão
Coordenadora do Instituto de Desempenho de Edificações da UFRGS, a professora doutora em Engenharia Civil Luciani Somensi Lorenzi, líder da Qualidade do Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais e Chefe Substituta do Departamento de Engenharia Civil da Universidade, é coordenadora-geral da equipe de técnicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que elaborou o laudo estrutural das condições do Edifício Galeria XV de Novembro, conhecido como "Esqueletão", um prédio inacabado desde a década de 1950, situado na Rua Marechal Floriano Peixoto, no centro da Capital, após levantamentos, ensaios de campo e vistoria.
A edificação é conhecida por ser um símbolo do abandono do Centro de Porto Alegre.
Nesta entrevista, a Engenheira Luciani Lorenzi conta quais foram as ferramentas e áreas de conhecimentos utilizadas para a produção do laudo técnico.
CONSELHO EM REVISTA – A UFRGS REALIZOU UMA AVALIAÇÃO TÉCNICA DA ESTRUTURA DO PRÉDIO DE 19 ANDARES, NA RUA MARECHAL FLORIANO PEIXOTO, CONHECIDO COMO O ESQUELETÃO?
Engenheira Luciani Lorenzi – Os trabalhos foram desenvolvidos pela equipe da UFRGS para a inspeção, diagnóstico e elaboração do laudo técnico do dia 10 de outubro de 2021 até 31 de maio 2022, totalizando, aproximadamente, oito meses para as atividades necessárias à elaboração do Laudo Técnico do Edifício Galeria XV de Novembro.
A equipe foi composta por cinco grandes áreas de conhecimento - Patologia, Análise Estrutural, Segurança Contra Incêndio, Desempenho de Edificações e Levantamento Cadastral -, sob a coordenação do Laboratório de Ensaios e Modelos Estruturais (Leme/UFRGS).
Tivemos o envolvimento de cinco professores do Departamento e Engenharia Civil (Deciv/UFRGS) e vários alunos de pós-graduação. O Laudo Técnico foi composto pelas seguintes etapas: (1) anamnese; (2) aplicação do Modelo de Classificação do Estado de Conservação e Risco (desenvolvido pelo Leme/UFRGS), o qual possibilitou a elaboração do mapeamento das manifestações patológicas; (3) a realização de ensaios não destrutivos, que identificaram a extensão das manifestações patológicas; (4) a análise da durabilidade e vida útil; e (5) as conclusões e recomendações finais.
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QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS PROBLEMAS DETECTADOS?
Engenheira Luciani Lorenzi – De forma geral existe uma incidência acentuada de manifestações patológicas decorrentes, principalmente, da idade da edificação (maior que 50 anos), falta de proteção da estrutura de concreto armado, associada à ausência de conservação do edifício ao longo do tempo. A maioria das irregularidades detectadas se refere às anomalias caracterizadas pela perda de desempenho devido ao envelhecimento natural da edificação que ocorreu de forma acentuada pelo fato de estar inacabado, sem as proteções que um edifício completamente construído tem e, assim, ter ficado com seus elementos estruturais e de vedações expostos às condições ambientais diversas, aliado à falta de manutenção. As principais manifestações patológicas encontradas foram a corrosão da armadura e a corrosão com redução de seção de armadura.
QUAIS AS RAZÕES DE UMA EDIFICAÇÃO LOCALIZADA EM UMA ÁREA DE PORTO ALEGRE, COM INTENSA MOVIMENTAÇÃO, SOFRER TANTA DETERIORAÇÃO COMO O ESQUELETÃO, SE CONSIDERARMOS QUE EXISTEM EDIFICAÇÕES MAIS ANTIGAS NA CIDADE?
Engenheira Luciani Lorenzi – O ponto que difere o Edifício Galeria XV de Novembro dos demais prédios antigos, localizados na mesma área de Porto Alegre, é o abandono e a falta de manutenção durante todos esses anos.
QUE INTERVENÇÕES SÃO IMPORTANTES PARA EVITAR ESTE TIPO DE MANIFESTAÇÃO PATOLÓGICA?
Engenheira Luciani Lorenzi – Primeiramente um edifício precisa estar acabado, com suas proteções ativas. Durante a vida útil da edificação deve-se realizar a conservação dessa edificação, por meio de manutenções e inspeções prediais, fundamentais para identificar o estado de conservação da edificação.
EXISTE UMA ESTATÍSTICA DE OUTRAS EDIFICAÇÕES SEMELHANTES NO RIO GRANDE DO SUL E QUE MERECIAM TAMBÉM INTERVENÇÕES TÉCNICAS?
Engenheira Luciani Lorenzi – Não tenho conhecimento se existe. Antes de determinar alguma solução técnica para prédios abandonados deve-se realizar a inspeção, determinando o estado de conservação. Somente após o conhecimento do real estado de uma edificação abandonada é que se pode traçar uma solução técnica para mesma.
QUAL A AVALIAÇÃO DA SENHORA COM RELAÇÃO À CULTURA DA MANUTENÇÃO E INSPEÇÃO PREDIAL?
Engenheira Luciani Lorenzi – Precisamos alavancar o conhecimento do usuário e dos responsáveis pelas edificações quanto à manutenção e inspeção. Atualmente contamos com três normas que auxiliam a sistemática de conservação da edificação: a ABNT NBR 5674, Manutenção de Edificações – Requisitos para o Sistema de Gestão de Manutenção (direcionada aos proprietários e síndico que dispõe sobre os requisitos para a gestão do sistema de manutenção de edificações e para prevenir a perda de desempenho decorrente da degradação dos componentes, elementos e sistemas construtivos); e a ABNT NBR 14037, que estabelece diretrizes para elaboração de manuais de uso, operação e manutenção das edificações – requisitos para elaboração e apresentação dos conteúdos (direcionada aos incorporadores e construtores e dispõe sobre os requisitos mínimos a serem incluídos no manual das edificações que será entregue aos proprietário/usuários).
Também importante a ABNT NBR 16747 – Inspeção Predial – Diretrizes, conceitos terminologia e procedimento (direcionada à constatação do estado de conservação e funcionamento da edificação, seus sistemas, elementos e componentes, a fim de permitir e auxiliar no acompanhamento sistêmico do desempenho da edificação ao longo da vida útil, objetivando manter as condições mínimas necessárias à segurança, habitabilidade e durabilidade da edificação).
Portanto, a cultura da conservação da edificação, por meio de manutenções e inspeções, precisa ser amplamente difundida. Esse tipo de atenção e cuidado é estratégico para que a vida útil da edificação, prevista em projeto, seja atingida.
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